"C'est parce qu'il pleut que tu pleures/C'est quand tu souris qu'il fait beau"
É porque está chovendo que você chora/ (mas) é quando você sorri que fica ensolarado
Todos os dias eu tento pegar o ônibus de 8h07 para chegar na escola antes da aula ter começado. Obviamente, na maioria dos dias eu não consigo e pego o de 8h16. Normalmente chego na praça Bellecour (onde pego o metrô) às 8h30 (8h40, no máximo, se tiver engarrafamento).
Normalmente... Mas hoje, justo hoje, só porque eu tinha prova do Delf (o exame oficial de francês, reconhecido por todas as universidades, empresas, enfim, todo mundo), dei de cara com um engarrafamento monstruoso. Para começar, o ônibus de 8h16 chegou 8h20. Daí em 20 minutos a gente chegou no segundo ponto depois do meu (no qual eu chegaria em 5 minutos a pé). No meio do caminho o motorista falou que todas as ruas na beira do rio estavam bloqueadas, então ele não iria à praça Bellecour, onde era meu exame, mas à Perrache - e quem quisesse ir para Bellecour pegasse o metrô.
Cheguei em Perrache 8h55. Saí correndo pra pegar o metrô. Depois saí correndo para chegar ao local da prova e, quando cheguei, esbaforida, desesperada, eram 9h06. Nisso veio um anjo em forma de examinadora e me mandou entrar e ficar calma, sem nem perguntar nada. Sentei, acalmei, tomei água e fiz a prova tranquila. Como já expliquei, estou no C1 e fiz a prova do B2, para ter certeza de que eu ia passar. Amanhã ainda tem a prova oral, mas nem estou preocupada.
Falando em prova, não passei no mestrado. Eu fiz o mesmo exame que os franceses e meu texto foi corrigido com os mesmos critérios. Em português talvez eu tivesse passado... Depois da notícia eu fiquei, obviamente, arrasada, deprimida, me sentindo a pior das criaturas do universo e com medo de voltar para o Brasil e nunca mais voltar para cá. Mas depois de muito conversar com meus amigos, minha mãe e ontem com o Thibaut, coloquei a cabeça no lugar e vi que vai ser bom para mim ir embora em agosto, quando meu visto expira.
Todo intercâmbio tem fases. Primeiro eu senti muita saudade de casa, morria por um pão de queijo ou farofa, escutava samba o dia inteiro. Depois eu comecei a amar a França e nunca mais querer ir embora. Mas agora estou na fase do saco cheio de tudo (da falta de higiene, da frieza e formalidade das pessoas, da vida de garçonete, da escola, etc). Pra piorar minha situação todas as minhas amigas brasileiras foram embora...
Fato é que ontem minha professora chamou a orientadora pedagógica da escola para reclamar que eu não estava sendo muito agradável em sala de aula. Ela tem razão, mas expliquei que estou de saco cheio de ver mil vezes a mesma matéria (o discurso indireto, o subjuntivo) e nunca ver as coisas que ainda tenho dificuldade (alguns tipos de pronome) - já pedi à professora para rever, mas ela me disse que isso é coisa de atelier e eu não faço atelier porque trabalho. Elas me falaram, como sempre, que entendem a minha situação, mas eu estou num curso em grupo e elas não podem se adaptar às minhas necessidades. Mais tarde voltei na escola e falei com a orientadora que eu estava insatisfeita com a minha professora, que só lê o material que ela prepara e não explica nada direito. Ela falou que vai ver com os outros alunos se procede.
Minha relação com a escola já não ia muito bem e agora ficou ainda pior. Resolvi que o dia que eu estiver com sono não vou à aula, pois é fato que o meu progresso rápido no idioma se deve muito mais a minha convivência com franceses do que a qualquer aula (e se erro menos na escrita que outros colegas é de tanto falar no gtalk com o Thibaut).
Além da aula, estou de saco do trabalho como garçonete (é isso que paga minhas contas, mas não foi para isso que estudei...), de não morar na minha casa (Genevieve é ótima, mas minha cama é dura, não tenho espaço suficiente no armário e por aí vai. No começo tudo isso fica em segundo plano, mas à medida em que a empolgação vai passando a gente volta a ter as mesmas exigência de antes. Só que tudo isso não significa que desisti da França. Pelo contrário, vou para o Brasil em agosto justamente para me preparar para voltar em outra condição - inscrita numa universidade francesa, com a possibilidade de arrumar um emprego um pouco mais intelectual e menos braçal.
Até ontem eu estava ainda bem triste, mas conversei com o Thibaut e fiquei mais tranquila. Ele me deu total apoio para voltar, procurar um emprego que me agrade, ficar perto dos meus amigos e da minha família e vai tentar ir ao Brasil no carnaval. Ontem comemoramos 3 meses juntos. Fomos a um restaurante brasileiro na Vieux Lyon (foi ele quem descobriu e fez a reserva) e depois passeamos um pouco pela cidade.
Agora a única coisa na qual eu consigo me concentrar é na chegada da minha família depois de depois de amanhã. Comprei ingredientes para fazer uma torta praline (especialidade lionessa: um tipo de amêndoa confeitada), Genevieve comprou um champagne. Também já comprei bilhetes para subir na Torre Eiffeil, conhecer o palácio de Versalhes e o Vaticano.
Curioso é que, semana passada, enquanto minha vida estava um caos, eu estava irritada com tudo, brigando com todo mundo, deprimida o tempo todo, o tempo estava cinza, chovendo e meio frio. Hoje o sol veio com tudo e acho que vai durar um bom tempo.