domingo, 22 de maio de 2011

Trabalho, dieta e diversão
















Rhône sexta à noite e sábado à tarde: diversão pra toda a família


Eu poderia dizer que estive muito ocupada semana passada, que o fim de semana foi agitado, ou que as cinzas do vulcão inslandês já chegaram na França e por isso eu sumi, mas eu assumo: não escrevi por pura preguiça. Se bem que não posso dizer que a semana foi improdutiva, afinal eu mantive a dieta, saí para correr no parque todos os dias e fiz todos os deveres de casa da escola.

Essa semana também começa cheia de novidades: arrumei mais um emprego, fiz minha inscriçao para o Delf (um exame oficial do governo para atestar seu nível de francês) e mudei temporariamente para a sala (de casa) enquanto trocamos o carpete do meu quarto por uma imitação de tábua corrida.

Genevieve resolveu fazer essa graça, primeiro, por causa da minha alergia (depois que eu cheguei meu quarto nunca mais soube o que era tapete e o carpete recebe semanalmente os cuidados do senhor aspirador de pó), mas também porque ela quer vender o apartamento, num sistema muito estranho que nunca ouvi falar no Brasil - quando a pessoa fica mais velha ela coloca o apartamento à venda e quem compra só paga até ela morrer (ai o sujeito que entra nessa empreitada bizarra, obviamente, tem que dar a sorte de não pegar um Oscar Niemeyer da vida).

O emprego novo é como babá dos dois meninos que eu já andei cuidando como baby-sitter. Não lembro se foi quarta ou quinta, a mãe deles me ligou desesperada porque a antiga "nounou"(pronúncia: nunu) tinha largado o emprego do dia para a noite. Expliquei que eu trabalhava numa brasserie até 15h, mas depois disso estava livre. Ontem fizemos uma pequena reunião e acertamos que vou ficar com eles das 16h45 às 19h30, segunda, terça, quinta e sexta (quarta não tem escola e a mãe tira o dia para ficar com eles). Vou buscá-los no playground do prédio, brincar mais um pouco em casa, dar banho e fazer um jantar. Eles são fofos e a gente se entende bem, então acho que vai dar certo. Além disso, vou conseguir juntar mais dinheiro pra fazer um pequeno tour pela Europa em agosto com o Thibaut (ainda vamos definir roteiros e ver se vamos de trem e avião ou se alugamos um carro).

Já o Delf é exigido por todas as universidades quando você é estrangeiro, mas serve também para o trabalho e várias outras coisas, afinal, é uma prova concreta do seu nível de francês. O exame escrito é no dia 15 de junho, das 9h às 12h e a parte de expressão oral no dia 16, das 16h10 às 17h. Pedi para fazer de manhã, mas a mulher disse que nos dias 15 e 16 não tinha mais horário, então deixei, pois na semana seguinte receberei visitas ilustríssimas e me darei uma semana de folga da escola e do trabalho (na brasserie eu arrumei alguém pra ficar no meu lugar) e com a mãe das crianças ela já me disse que não tem problema.

Acho que ainda não comentei por aqui, mas minha mãe, minha avó, minha tia e uma das primas estão vindo "pras zoropa" passear. Elas chegam dia 18 em Lyon, um sábado. No dia 21, terça, bem cedinho, vamos para Roma e no dia seguinte à noite para Paris, onde ficaremos mais três dias. Mais empolgada que eu só a Genevieve, que cada dia faz mil planos, imaginando o que a gente vai comer, onde vai passear, qual vai ser o meio de transporte, a cor do táxi até o aeroporto, entre outras coisas.

Esse fim de semana o Thibaut não veio para Lyon, então sexta saí com a Juliana e a Amanda e voltei para casa às 6h da manhã. Fomos num barco-bar/boite e ficamos dançando até às 4h da manhã. No caminho de volta para casa começamos a discutir o caso Dominique Strauss-Khan (semana passada ninguém falava em outra coisa por aqui), emendamos numa avaliação dos governos Lula e finalizamos com uma listagem de pontos positivos e negativos do bolsa-família. Imaginem a cena: 4h da manhã, rua deserta e a gente discutindo sério. (Sim, a gente tinha bebido um pouquinho). Daí quando acabamos o papo-cabeça já eram mais de 4h30 da manhã... Fui andando até a praça Bellecour e chegando lá fiquei 40 minutos esperando pelo ônibus. Achei que encontraria Genevieve tomando café da manhã, mas ela ainda estava dormindo.

Sábado, lás pelas 15h, depois que todo mundo tinha acordado, fomos curtir o sol na beira do Rhône. Ficamos sentadas na grama conversando e de repente chegou um grupo de amigos com violão e sax e começou a tocar garopa de ipanema (não eram brasileiros). Ontem só fiquei em casa, assisti filme (em francês, claro) e falei com um tanto de gente que eu morro de saudade pelo skype.

No próximo fim de semana vou para Annecy, pois o Thibaut vai participar de uma espécie de maratona de 78 km (normal), subindo e descendo montanha. Dizem que a cidade é linda e tem um lago enorme. Se ninguém cair morto durante a corrida, acho que vai ser bem legal.

P.s.: descobri que minha nova professora já morou no Brasil e fala português. É bem útil quando a gente tem uma dúvida quem os outros franceses não entenderiam...

P.s. 2: o filme que assisti chama "La Cité de La Peur" e é muito engraçado! É bem antigo e cheio de piadas que só quem fala francês entende, mas acho que dá para rir também com legendas em português...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Como eu sei? Eu só sei...


Eu estava com uma baita preguiça, mas fui escovar os dentes e vi essa lua indecente pela janela (sim, isto é a vista da minha janela). Sabe quando você se sente feliz simplesmente pelo fato de estar vivo? Uma felicidade besta, inocente, seguida de uma vontade de dizer: obrigada universo pela existência da Lua, obrigada Deus por essa janela, obrigada cada morador de Lyon por cada luz acesa...

Mas enfim, acho que eu estou devendo uma prestação de contas sobre o último fim de semana, não é mesmo? Hey ho, let's go. A semana passada foi bem do jeito que falei: escola, trabalho, estudo, sono, cansaço. Terça recebemos um grupo de quase 100 pessoas na Brasserie, além dos clientes de cada dia. Fiquei uma hora a mais no trabalho, cheguei em casa moída, fui estudar, (não) dormi tarde e quarta resolvi não ir à aula. Quinta fiz uma pausa no estudo para assistir a abertura do festival de Cannes ao vivo. Meia hora depois começou um show da Lady Gaga e Genevieve veio me perguntar apavorada quem era aquela mulher horrorosa e porque ela era famosa. Expliquei que era a Madonna da vez, mas ela continuou resmugando: "mas ela é muito feia...".

Sexta às 17h30 peguei o TGV rumo à Paris. Chegando lá peguei o metrô sozinha até o La Defense, onde o Thibaut trabalha e onde ficam as sedes de cerca de 30% das empresas europeias. Prédios gigantes, torres, círculos, formas geométricas ousadas, vidros espelhados... E eu ollhando para cima igual uma criança que chega à Disney. Jantamos e fomos para casa dormir, afinal, sábado às 6h da manhã acordarmos para pegar o metrô às 7h, porque a prova começava às 9h, mas eu precisava chegar às 8h30. Chegamos bem antes disso, numa tal de Maison des Examens, em português, "casa dos exames". Logo descobri que eu era a 86 de 89 inscritos, para 20 vagas.

A prova era uma "análise de dossier", ou seja, tínhamos umas 50 páginas para ler, entre artigos de jornais, revistas, publicidade, extratos de livros acadêmicos e etc. Em seguida devíamos responder duas perguntas sobre a importância da noção de "transparência" na relação entre governos/cidadãos, empresas/consumidores, com base no material que a gente tinha recebido. Não era difícil, mas eu levei duas horas (sem exagero) para ler tudo e não tive muito tempo para escrever e revisar. Consegui desenvolver uma resposta com começo, meio e fim, passei tudo a limpo, enfim, ficou bonitinho. O problema é que eu ainda cometo muito erro idiota de francês, com artigos, preposições e etc. Porque assim, na escola tem uns alunos que são ótimos de gramática, conhecem todas as regras, mas na hora de falar parece que não sabem nada. Já eu desato na falação, mas sempre faço tudo meio no chute, porque eu acho que é assim, porque eu ouvi alguém falando assim, porque assim me parece mais certo e não porque eu conheço as regras. E não adianta tentar mudar, esse é meio jeito de aprender uma língua... Mas não sei até que ponto os corretores vão levar em consideração o fato de eu ser estrangeira, porque eu fiz a prova junto com os franceses, então talvez eles vão corrigir tudo no mesmo balaio, sem olhar a origem de ninguém. Ou talvez não. Saberemos no dia 9 de junho, às 14h, horário de Paris.

Coincidência ou não, quando fui entregar meu texto a examinadora perguntou: "você é brasileira? Eu tenho uma filha brasileira, você vem de onde? Ah, eu conheço Belo Horizonte..." Talvez seja um bom sinal.

Depois da prova, que durou quatro horas, voltamos para casa e dormimos até o fim da tarde. Acordamos e fomos tomar cerveja na casa de um amigo e depois fomos ao Museu de Orsay, que nesse dia ficava aberto até meia noite (porque era a noite dos museus na França) e era de graça. Monet, Manet, Van Gogh... Eu tive vontade de ficar meia hora diante de cada quadro. Infelizmente, a única tela de Miró (meu ídolo-mor da arte moderna) que eles têm lá estava emprestada - mas um dia vou a Nova York só para ver o Carnaval do Arlequim de perto.

Domingo descobri uma loja de produtos brasileiros perto da casa da irmã do Thibaut (que é perto da Torre Eiffel) e atingi o Nirvana quando vi pão-de-quejo, farinha, guaraná antártica e sonho de valsa de verdade na minha frente. Curioso é que a cachaça 51 custa aqui 21,50 EUROS - parece que o imposto sobre o álcool é bem alto, mas, né? Thibaut adorou pão-de-queijo e acho que gostou também da farofa que eu fiz. Ontem fiz farofa para a Genevieve e ela me perguntou porque não existe isso aqui...

Em Paris o tempo estava feio, ventando e fazendo frio, então domingo só saímos de casa praticamente para ir ao cinema. Ontem achei que meu trem era às 6h24, mas era às 6h54 e cheguei uma hora atrasada na aula (a viagem dura duas horas, mas vim em casa deixar a mochila e tomar um banho). Tive que passar na direção para explicar porque eu estava atrasada, igual quando a gente tem 6 anos de idade... Hoje comecei de verdade uma dieta e saí para correr num parque aqui perto de casa. Amanhã pretendo andar de bicicleta. E agora que o exame passou pretendo também atualizar o blog pelo menos duas vezes por semana... Torçam para eu cumprir com a palavra...

À bientôt!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Como reconhecer uma francesa na rua

teemix.aufeminin.com
A mulher do presidente: linda em franja e osso

Depois de três meses pegando ônibus e metrô todos os dias, resolvi compartilhar com o mundo meu estereótipo de mulher francesa. O objetivo é simplesmente fazer rir. Quem leu os outros posts sabe que aqui tem mais gente legal do que chata e que na maioria das vezes eu me sinto super bem acolhida. Mas enfim...

Como reconhecer uma francesa:

1. Pelo cabelo: francesa que se preze sempre tem uma franja super bem produzida. Geralmente elas usam de lado, com bastante chapinha, mas pode ser também franja inteira ou no meio da testa, igual a da Melina de uma novela das oito não muito antiga. Pouco importa tamanho ou forma, o que vale é ter franja e criar penteados inusitados - o que muitas vezes significa amarrar o cabelo de qualquer jeito e sair na rua achando que os outros vão achar bonito.

2. Pela maquiagem: sete da manhã, meio-dia, meia noite. Qualquer que seja o horário, elas sempre estarão super maquiadas, com bastante delineador e sombra nos olhos. Blush e gloss são opcionais, mas o olhão bem produzido é item de série.

3. Pela roupa: elas adoram lenços volumosos em volta do pescoço e mesmo se tiver o maior calor e elas estiverem com um micro-short que deixa a polpa da bundade fora, elas vão inventar de usar algo do tipo. Elas também adoram um salto, mas não chega a ser algo como a franja ou a maquiagem...

4. Pelo cigarro: em 2009, 36,6% da população francesa fumava, contra pouco mais de 20% no Brasil. Andando pelas ruas, a impressão é que esse número chega a 70%. Francesas e franceses fumam muito e estão sempre com um cigarro na mão.

5. Pelo fone de ouvido: a moda entre os jovens franceses é ter um fone de ouvido gigante e colorido. Acho que às vezes eles nem estão ouvindo música, mas colocam o fone só para compor o visual.

6. Pela falta de curvas: apesar de todas as patisseries, padarias, restaurantes, chocolaterias e dos 5 mil tipos de queijo, a francesa típica é magricela, sem muita bunda e sem muito peito - e elas acham lindo ser assim, então tá né?

7. Pelo ar blasé: sabe cara de quem nem comeu ainda, mas já não gostou? Então, é a que elas mais gostam e sabem fazer...

8. Pelo cheiro? Bom, essa história de tomar banho ou não é muito pessoal e mesmo no Brasil existem vários adeptos do Cascão-way-of-life. Mas pela minha observação pessoal, posso dizer que ainda tem muita mulher na França que ainda não descobriu o desodorante...


Já sobre os homens franceses, ainda não cheguei a nenhuma conclusão, mas tenho uma técnica infalível...

Como reconhecer um francês:

1. Peça para ele falar "carro caro".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ce sont des escargots!

Como eu poderia imaginar?

Na semana passada minha vida se resumiu basicamente a: aula, trabalho, estudo, afazeres domésticos e sono, muito sono. Segunda fui à biblioteca municipal procurar os livros que eu precisava ler para a prova da Sorbonne. Só que, como tudo que é serviço público na França, ela não abria segunda... Então fiquei lendo umas coisas pela internet e voltei no dia seguinte. Paguei 6 euros pela carteirinha, que vale um ano, e posso pegar até 10 livros de cada vez e ficar com eles até 3 semanas. Na biblioteca todo mundo foi bem antipático e sempre que eu pedia uma informação me sentia a pessoa mais estúpida do mundo. Mas como eu tinha olhado o catálogo na internet antes, nem foi tão difícil achar os livros.

Na quarta li um livro inteiro - em um dia! - e fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Mas no dia seguinte tive uma crise de estresse/falta de sono/ ansiedade e não fiz nada de útil. Como era aniversário da Juliana, depois do trabalho fui encontrar com ela e a Amanda (outra brasileira) no parque da Tête D'or. Elas tinham comprado queijo, pão e vinho e eu cheguei com framboesa e pringles. Ficamos conversando à toa até umas 19h - agora com o horário de verão aqui tem sol até umas 9 da noite ou mais. Uma hora uns franceses se aproximaram para puxar conversa. Eles acharam que eu era italiana e a Amanda, que na verdade é curitibana, alemã. Depois eles ficaram tentando adivinhar de onde a gente era, até que a Juliana falou: "do país onde tem as mulheres mais bonitas do mundo", no eles responderam prontamente: "ah, do Brasil".

Sexta foi mais um dia de dor de cabeça na Lyon Bleu (escola). Minha professora vai ficar duas semanas de férias, então íamos ter aula a tarde terça e quinta - justamente os dias de gramática. Mais uma vez fui à direção explicar que, por causa do trabalho, eu não poderia assistir às aulas. A proposta foi de reembolso pelos dias perdidos, mas insisti que eu queria as aulas, por já perdia os ateliers (por causa do trabalho e sem reembolso) e em breve faria um exame na Sorbonne. Mais uma vez ouvi que a escola não poderia fazer nada a respeito e bla bla bla. Só que dessa vez a professora tomou as minhas dores e foi conversar com a administração. Graças a ela, hoje comecei o C1, o último nível. Ela me falou que no começo seria difícil, mas que eu teria mais estímulo para estudar - e que ela tinha certeza eu daria conta. No fim das contas eu não fiquei nem um mês no B2... Agora fico no C1 até o fim do curso, em agosto, mas não tem problema, porque o programa é mais flexível. Dessa vez só tinha homem na sala: três alemães e um americano. Mas tem duas colombianas matriculadas que mataram aula e na semana que vem a Juliana muda de nível também.

Falando em Juliana, sábado teve uma festinha na casa dela para comemorar o aniversário. Ela mora num apartamento enorme na beira do Rhône, com uma família de pai, mãe, uma menina de 10 anos e um menino de 12, e sempre outro intercambista - desde que ela chegou já foi um turco, duas italianas e agora uma sueca. Eu e o Thibaut fomos os últimos a chegar, mas a mesa ainda estava cheia de comida. Peguei o primeiro salgadinho que vi na frente e achei que o recheio era uma folha (tipo rúcula), ou uma alga (não era bom, mas também não era ruim), até que a mãe chegou e me falou que era escargot. Se ela tivesse avisado eu nunca teria experimentado, mas eu não tinha achado ruim, entãi até arrisquei comer o segundo (só que ai eu já sabia, então achei um pouco nojento...).

A família é super simpática. Depois que o Thibaut e o pai descobriram que estudaram na mesma universidade, ficaram um tempão falando de trabalho e negócios. Acho que os dois ficaram felizes com a presença um do outro no meio daquele bando de estrangeiro com um francês meia boca. Mais tarde fomos para um bar. Antes paramos em frente à Ópera para assistir um espetáculo gratuito de dança africana (parece que mais cedo tinha tido música brasileira - leia-se axé). Os franceses foram ao delírio com aquele bando de mulher bunduda rebolando... As coreanas ficaram tentando imitar e nós, brasileiros, ficamos assistindo tudo e rindo.

Domingo eu e o Thibaut fizemos o que a gente adora fazer domingo: sair de manhã, comprar coisas na padaria e tomar café-da-manhã-almoço na beira do rio, voltar para casa e dormir/ver filme e sair a noite para comer. Hoje foi aula, trabalho, estudo e sono. Como os outros dias da semanas serão parecidos, provavelmente só volto a postar semana que vem, com novidades de Paris, da prova da Sorbonne e do verão que cada dia mostra mais a cara...

domingo, 1 de maio de 2011

Auto-ajuda mode on

O que eu mais gosto dessa foto é o momento em que ela foi tirada


No último post eu falei que tinha ido ao correio resolver um assunto urgente, mas não expliquei o que era. Eu não sabia se devia (ou não) falar sobre isso, mas agora percebo que, na verdade, eu preciso falar, uma vez que minha cabeça anda girando a 400 km por hora. É o seguinte: no próximo dia 14 eu vou a Paris fazer uma prova para tentar entrar na Sorbonne. Não lembro direito quando foi que resolvi tentar um mestrado por aqui, mas já faz um bom tempo que ando olhando isso. Primeiro eu pensei em tentar uma bolsa, mas ai eu descobri que deveria ter começado no ano passado. Então pesquisei e vi que as universidades públicas na França também são gratuitas - os estudantes só pagam a taxa de matrícula, que sai por menos de 400 euros.

O segundo passo foi procurar um curso que me interessasse. Peguei uma lista no site campus france dos melhores institutos de comunicação da França e descobri o Celsa, que é uma grande école diretamente ligada à Sorbonne (apesar de o campus não ficar no centro de Paris, ao lado do Panthéon). Melhor ainda, descobri que eles oferecem um mestrado profissional em "Communication politique et des institutions publiques"e que era exatamente o que eu gostaria de fazer como mestrado. Como no Brasil a graduação dura 4 anos e aqui a Licence (que é mais ou menos o que corresponde) dura apenas 3, eu já entraria no segundo ano de mestrado, o master 2 e faria apenas um ano de curso.

O grande problema era que para me inscrever, eu precisaria enviar junto com o dossier um certificado atestando um bom nível de francês, como o Delf, um exame oficial da língua. Para o nível que eu preciso, o B2, a próxima prova é apenas em junho, e as inscrições para o master terminam amanhã, 2 de maio. Olhei a data do exame em todas as cidades da França, olhei todos os outros exames possíveis, mas não, eu não teria tempo de fazer a prova antes do concurso da Sorbonne. Foi então que o Thibaut ligou na universidade e eles falaram que não necessariamente eu precisaria apresentar o certificado antes da prova. Alívio! Pedi à Lyon Belu um atestado de que estou fazendo o curso de francês e já estou no nível necessário para o master, e espeficiquei no dossier que eu ainda farei o Delf. Além disso, tive que enviar meu currículo detalhado em francês cópia do diploma e histórico escolar, duas fotos 3x4, dois envelopes com selo e o número da pré-inscrição feita pela internet (se não me engano foi só isso). Terça coloquei tudo isso no correio e nessa semana ou na próxima devo receber as instruções (mas já sei que a prova é no sábado, 14, de 9h às 13h).

A prova tem duas questões (que devem ser respondidas de acordo com alguns extratos de textos e notícias que eles fornecem). Eles indicam uma bibliografia, mas frisam que o mais importante é analisar a capacidade de articulação e expressão do candidato, o interesse pelo assunto, o nível de informação sobre o cotidiano, e blá blá blá. Eu só comecei a estudar de verdade (a bibliografia), hoje. Então só tenho mais duas semanas para continuar. Ou seja: estou em pânico.

Por outro eu não tive dificuldade alguma de compreensão para ler (textos acadêmicos) em francês e percebi que já estudei tudo isso durante a graduação, então na verdade só preciso fazer uma revisão e treinar a escrita (colocar todos os acentos, prestar atenção nas concordâncias). Depois da prova escrita, lá pelo mês de junho, tem uma entrevista oral. Dia 8 de julho sai o resultado final e, dando tudo certo, o curso começa em setembro.

Outra coisa que eu não sabia e que o Thibaut me falou hoje é que, tendo um master 2, depois eu posso continuar na França e trabalhar na área, afinal, se eles vão investir na sua educação, depois vão querer que você dê algum retorno - não faz sentido eles te deixarem estudar aqui para depois você ir embora, eles querem "guardar os talentos".

Dito tudo isto, explicarei porque estou em pânico. Nos últimos dois meses eu percebi que, apesar de toda a saudade, dificuldade com a língua, falta de amigos, de dinheiro, etc, etc, etc, eu me sinto muito muito feliz aqui e não quero ir embora. Eu amo o Brasil e até brigo com quem desdenha dele em favor da Europa. A questão é que no Brasil eu estava meio perdida na vida, sem saber direito o que eu queria, sem grande motivação e agora eu sei que quero fazer esse mestrado e quero continuar mais um tempo do lado de cá do oceano.

Aqui eu percebo que cada coisa pequena é uma grande vitória. Conseguir um emprego de garçonete, arrumar bicos como baby-sitter, juntar dinheiro para viajar nos fins de semana, saber acentuar todas as palavras, pronunciar direito todos os tipos de E da língua francesa, superar a saudade, chorar de emoção com um email de duas linhas que diz simplesmente "estou morrendo de saudade", chorar mais ainda com alguns poucos cartões de aniversário que chegaram pelo correio, abrir uma conta no banco, conseguir um auxílio moradia de 75 euros por mês, conseguir resolver um problema por telefone, assistir um filme inteiro sem legendas e entender tudo... Tudo isso podia ser tão simples, mas na verdade é tão difícil...

E nessas coisinhas de cada dia eu vou descobrindo tudo o que sou capaz, como eu consigo me virar sozinha, como tem tanta gente que torce por mim (ainda que em silêncio). Também percebo como do lado de cá todo mundo me acha tão simpática e gentil, como ninguém consegue imaginar que aos 7 anos de idade eu brigava com todo mundo na escola e aos 14 eu praticamente não tinha amigos. Porque aqui eu preciso ser simpática e gentil, porque eu sei o tanto de sorte que eu tenho na vida e não tenho o direito de reclamar de nada. Porque também eu tenho pessoas como Genevieve e Thibaut ao meu lado, que me mostram que nacionalidade é apenas o lugar onde você nasceu, que a gente pode ter muito mais em comum com alguém que nasceu a 9 mil km de distância do que com quem a gente conhece desde pequeno, que tem realmente muita coisa que a gente não precisa de um idioma para entender.

E voltar para o Brasil agora significaria interromper todo esse processo de descoberta que vem me tornando uma pessoa muito melhor, mais agradecida e mais feliz. Mais cedo eu falava com minha mãe no skype que tudo que trouxe cabe em duas malas (uma grande e uma média) e o que eu deixei no Brasil (os objetos) não me fazem nenhuma falta. Eu posso ser feliz com um colchão duro num quarto de carpete velho, com um armário sem gavetas e com pouquíssimo espaço para cabide, ou num apartamento de 30m² em Paris. Eu posso ser muito feliz voltando ao Brasil, mas por enquanto eu quero ficar mais um pouco...