quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Berlim

Visitar Berlim é a melhor aula de história recente que qualquer pessoa pode ter. Uma história contada por ausências - "aqui tinha um muro, hoje não tem mais", ou "aqui tinha um palácio, que foi destruído, depois reformado e, no futuro, será reconstruído". Cerca de 80% da cidade (principalmente o centro) tinha virado pó ao fim da II Guerra. O que sobrou é uma cidade ainda em construção - com alguns grandes lotes vagos em pleno centro -, que faz questão de guardar seu passado e sem lamentar o tempo perdido se apressa na construção do futuro. Os prédios novos são erguidos em harmonia com o que restou, mas não copiam o que estava ali antes. A cidade simplesmente se reiventa. O passado é doloroso, mas o tempo perdido não volta. 

Ao contrário de Roma, por exemplo, onde também se respira história, tudo é muito recente. As feridas não cicatrizaram e a história que elas contam não têm hérois. Mas de todo esse sofrimento eis que surge um dos principais centros econômicos do mundo, uma cidade organizada, dinâmica, diversa. Berlim poderia se chamar Fênix, mas seu nome significa "pântano". Se a terra e o concreto não são tão firmes quanto parecem, a difefença certamente está nas pessoas. Sério? Frios? Um pouco. Ou bastante talvez. Mas também disciplinados, rigorosos - fortes. 

Berlim tem belíssimos prédios e praças, mas não é uma das cidades mais bonitas que conheci. A impressão que dá é que é preciso voltar daqui alguns anos, ou décadas, quem sabe, para descobrir qual será sua verdadeira cara. Os meios de transporte funcionam muito bem e o trânsito flui perfeitamente. Berlim é silenciosa. Tem restaurantes japoneses e italianos aos montes, mas poucos beergardens, pouca cara de alemanha. É mal de toda cidade grande, eu sei. Mas Berlim é realmente silenciosa. Suas ruas contam histórias. Não é como toda ou qualquer cidade grande. É Berlim. Só indo lá para entender. 

...

Cheguei na cidade domingo, no fim da tarde. Ruas desertas e tempo feio. Fiz check-in, comi, tomei banho e fui dar uma volta. 5 minutos e cheguei na Alexanderplatz, uma das principais, onde uma torre de TV com uma bola no meio faz as vezes de observatório. De um lado a prefeitura de tijolos vermelhos, do outro a catedral - protestante - de domo verde. No meio uma estátua de Marx e Engels. No caminho de volta pro hostel passei por uma feira ao ar livre e comprei frutas. Chegando lá, enquanto eu olhava emails no bar que serve de área comum (o hostel também era da rede St. Christopher, como em Praga), um cara de Israel puxou papo e tomamos uma duas cervejas. Subi pro quarto e descobri que a coleguinha, a Carol, era brasileira, (o quarto era para três, mas nesse dia éramos as únicas hóspedes). 

No dia seguinte saímos juntas para fazer o famoso tour grátis com gorjeta no final e nos juntamos a um casal de amigos dela. Foi bacana passear tendo com quem fazer comentários. Começamos no portão de Bradenburgo, passamos pela praça/monumento em homenagem às vítimas do holocausto, o lugar onde Hitler se escondeu (e que hoje é um estacionamento ao ar livre), o pedaço que restou do muro, o check-point Charlie, a catedral francesa, o museu da história alemã e finalmente chegamos à ilha de museus, onde fica a catedral protestante. 

Resolvemos fazer o tour em espanhol. Por mais bizarro que pareça, o guia era argentino... Ele não era tão engraçado quanto o de Praga e ficava lembrando o tempo todo da gorjeta no fim. Dei 5 euros. A maioria das pessoas deu 10. 

Mas bacana mesmo foi ter com quem sentar para comer no fim do dia. Depois ainda fomos à Tacheles, uma espécie de galeria de arte mega alternativa num prédio abandonado, e por fim voltamos a alguns dos monumentos para rever e tirar fotos com calma. De volta ao hostel, a Carol teve que mudar de quarto, pois só tinha reservado para um dia e depois resolveu ficar mais. Sem problemas, pois as duas novas coleguinhas eram? Brasileiras, claro! E outras duas no quarto ao lado também. 

No dia seguinte fomos todas visitar um campo de concentração em Orenionburg, a 40 minutos de trem, mas acabamos nos separando e fiquei novamente andando com a Carol e os amigos dela. Dessa vez o tour era pago antes, 12 euros. Pegamos um guia em inglês e foi bem mais fácil para entender. Apesar de obviamente triste, foi um dos passeios mais incríveis. Voltamos para Berlim, sentamos para comer salsichão com curry e beber cerveja. Depois fomos ao hostel pedir indicação de um beergarden e descobrimos ali perto uma rua bem legal de bares e coisas bonitinhas. Esqueci de mencionar antes que o tempo berlinense estava de tpm: em dois dias pegamos sol, chuva, vento e frio alternando entre si o dia inteiro. No beergarden, infelizmente, o sol não participou do rodízio, então voltamos para o hostel, mas nisso já era quase meia noite. Tomamos a última cerveja e fomos dormir. 

Hoje eu perdi meu trem, mas achei outro 40 minutos depois. Como vocês já sabem, não farei consumo de drogas em Amsterdã, mas prometo continuar me divertindo!

À bientôt!

domingo, 7 de agosto de 2011

Praga

No outro post eu contei que o metrô em Munique não tem catraca, mas que se a fiscalização chegar e você estiver sem bilhete a multa é de 40 euros. Em Praga é o mesmo esquema. Só que como a cidade é bem menor (ou pelo menos as atrações turísticas estão mais perto umas das outras), só usei o transporte público em três ocasiões: para ir da estação de trem ao hostel, para subir até a parte alta do parque e para voltar para a estação. O bilhete custa 32 coroas (mais ou menos €1,50). Paguei esse preço todas as 3 vezes, claro. 

Meu trem para Berlim saía hoje (domingo) às 8h31. Fiz check-out no hostel umas 7h40, mas fiquei um bom tempo rodando até descobrir onde era o ponto do bondinho até a estação, qual era o lado certo da rua para pegá-lo, etc. Isso com uma mala, uma mochila, uma bolsinha e um mapa na mão. Quase 8h10, quando finalmente descobri qual era o ponto certo e quando o bonde finalmente passou, percebi que tinha perdido meu bilhete (que deve ter caído no chão ali perto). Entrei mesmo assim, afinal domingo de manhã transporte público costuma ser escasso em qualquer parte do mundo. Justamente no ponto onde eu ia descer entrou um fiscal e a primeira pessoa para quem ele veio pedir o bilhete fui eu. Falei que tinha perdido e ele pediu meu passaporte e me disse que eu teria que pagar 700 coroas ou 70 euros. Mostrei para ele que tudo que eu tinha eram 200 coroas e ele disse que não tinha problema, pois tinha um caixa automático ali perto. Daí o fdp não pediu bilhete pra mais ninguém e foi andando comigo até a estação e, claro, foi super grosso e disse que se eu não quisesse pagar tudo bem, a gente ia direto para a polícia. 

Engraçado é que todas as outras vezes em que eu estava com o bilhete na mão ninguém veio olhar. E fiquei ainda com mais raiva porque eu já tinha pago as 32 coroas do bilhete perdido...

Como o valor da multa representa cerca de 60% do meu orçamento diário, vou tentar passar o resto do dia com 16 euros. Mas enfim, nesse ponto a pergunta já deve ser: 700 coroas, como assim? Pois é, a República Tcheca faz parte da União Europeia, mas não da zona euro e um euro vale aproximadamente 25 coroas. 

No dia que cheguei uma das primeiras coisas que fiz foi um saque de 1.000 coroas. Daí fui comprar um bilhete de metrô (nesse dia eu não perdi) e a máquina só aceitava moeda. Comprei uma água mineral por 17 coroas e a mulher quis me matar na hora de dar o troco. Mas enfim, peguei o metrô, um trem, me perdi um bocado a pé, mas cheguei, quase 16h.

Como adiantei no último post, dessa vez o albergue foi uma das melhores partes da viagem - e parecia mais um hotel. Para começar, a recepção é uma espécie de bar, mas um bar meio lounge, super bem decorado, tocando música boa o dia inteiro. Daí fiz o check-in e já me deram um mapa e explicaram tudo sem eu nem pedir (em Munique eu tive que comprar o mapa) e falaram que todo dia tinha um tour a pé de graça saindo dali mesmo. Então fui para o quarto - na hora de reservar fiquei com medo de pegar o quarto com 26 mulheres, mas lendo os comentários positivos de quem já tinha ficado lá resolvi arriscar. O lugar era espaçoso, as camas bem distribuídas (meu beliche dava de frente para uma parede e cada cama tinha uma cortina), um guarda volume bem grande embaixo de cada beliche, uma lâmpada para cada cama, travesseiro fofo, cama já arrumada e um banheiro já com secadores só para o quarto (em Munique eram 4 chuveiros para o corredor inteiro). No fim acabei tendo mais conforto e privacidade do que no quarto com 6 da cidade anterior, pagando apenas 9 euros por dia. 

Me instalei, tomei banho e subi para o bar para comer algo. Descobri que em Praga uma cerveja (500 ml) custa em média menos de 2 euros... Depois do lanche, feliz da vida, saí para andar sem rumo. Putz, que cidade ma-ra-vi-lho-sa! Todos os prédios parecem monumentos, eu queria tirar foto de tudo... Fui até a ponte Carlos (o endereço mais visitado da cidade) e na volta não resisti e comprei souvenirs para a família. 

Dia seguinte, 10h30, tour guiado a pé. O guia buscou a gente no hostel e levou até a praça central, onde fica o famoso relógio astronômico (bem menos boniti que o de Lyon). Escolhi a visita em inglês (a outra opção era espanhol) e de lá andamos 3 horas pela cidade velha, quarteirão judaico e por fim até a ponte. O guia era engraçado, então foi divertido, só que o de graça, na verdade, não significava exatamente gratuito, pois no fim todo mundo dá uma "gorjeta". Eu dei 100 coroas, porque era a menor nota que eu tinha. 

À tarde fui ao castelo, do outro lado da ponte, sozinha. O lugar é enorme mesmo como dizem. Visitei a igreja que demorou 600 anos para ser construída, a vila onde moravam os artesãos, e o castelo propriamente dito. Na volta para "casa" fui conferir os bonequinhos do relógio dançando (outra decepção, os de Munique são bem mais legais). Cheguei ao hostel lá pelas 20h (isso mesmo, eu andei quase 9 horas seguidas, só sentei uns 20 min para almoçar). 

Enquanto jantava um hamburguer no bar do albergue, comecei a conversar com o pessoal da mesa ao lado (australianos e americanos) e resolvi participar de um pub crawl. Custava 8 euros e começava ali mesmo, com algumas jarras de cerveja. De lá fomos para um bar estilo caverna, depois para uma boate e no terceiro voltei pro hostel porque já estava caindo de sono. Chegando lá ainda encontrei uns brasileiros tocando violão e fiquei conversando um pouquinho antes de ir dormir. 

No outro dia acordei tarde, saí pra almoçar e voltei pro hostel. Fiquei um bom tempo na sala comum, fazendo nada na internet, até que o sol saiu, lá pela 17h (antes só choveu, ficou nublado e húmido, mas não fez frio). Resolvi ir ao parque que fica na montanha e peguei o funicular (o trem que sobe morro). Não quis pagar 2 euros pra subir na micro imitação de torre eiffeil que eles têm lá, então deitei na grama para descansar ainda mais e depois desci a pé. Comi, arrumei a mala e dormi cedo. Acordei às 7h e o resto você já sabem. 

Ao contrário do alemão, achei o tcheco uma língua complicadíssima e fui embora sem nem conseguir pronunciar o nome das ruas. Ainda bem que achei várias pessoas que falam inglês (no hostel, nas lojas, nos restaurantes). Não comi comida tcheca e não sei dizer quem é nativo e quem é turista. Outra curiosidade é que tudo eles chamam de museu (por exemplo, eles juntam meia dúzia de coisas antigas e falam que é o museu da tortura medieval) e tudo, absolutamente tudo é pago, até pra entrar nas igrejas. Chegando lá a gente vê claramente que está em outra Europa, marcada não apenas pelos anos de capitalismo e influência soviética (o guia falava do comunismo como se fosse a idade média deles e do regime atual como a libertação para uma vida feliz). Mas também por uma história muito antiga e peculiar. Tudo isso por bons preços. Recomendo!

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

München

Cheguei em Munique domingo, às 17h28. Peguei o metrô, achei o hostel facilmente e já fui logo fazendo amizade com uma inglesa que estava no meu quarto. Falei com ela que eu ia sair para comer e perguntei se ela queria ir junto. Ela não só quis, como ainda me levou na cervejaria mais tradicional da cidade, a "Hofbräuhaus". Chegando lá, ela me explicou que o pai dela era alemão, por isso ela sabia falar o idioma e já conhecia um pouco da cidade. Ótimo, porque eu não tinha a menor ideia do que estava escrito no cardápio. Comi salsicha com mostarda e batatas e pedimos um caneco de um litro de cerveja (o menor era de 500 ml). O lugar é muito legal: uma salão cujo teto é lindamente decorado, com várias mesonas de madeira, onde os nativos se misturam aos turistas ao som de música típica da Bavaria. 

Voltando para o hostel, descobri que tinham mais duas adolescentes alemãs no meu quarto, bem simpáticas. Durante o dia, no entanto, cada um seguia sua rota. No primeiro dia, fui à Pinacoteca, onde eu sabia que encontraria vários impressionistas, mas não fazia ideia de que iria me deparar com o quadro mais caro do mundo: Os Girassois, de Van Gogh. Vendo de perto entendi tudo. A tela é fantástica - mas é algo que só indo lá para saber. Passei ali alguns bons minutos hipnotizada. Felizmente, ao contrário da Monalisa, não havia 457 turistas ao redor tirando foto. 

De tarde fui para o centro da cidade e visitei todos os prédios e igrejas velhas. O mais bonito e mais famoso deles, sem dúvida, é o Rathaus, construído para ser a prefeitura. A fachada é toda em estilo gótico (cheio de torres e firulas) com flores vermelhas nas sacadas. Numa das torres tem uns bonequinhos que "dançam" às 11h, ao meio dia e às 17h. Ali perto também tem um mercado a céu aberto (viktualienmarkt), muito simpático, com um beergarden no meio (mesonas de madeira com quiosques em volta onde a galera fica bebendo e comendo desde antes de meio dia até sei lá que horas). 

No dia seguinte peguei o metro e fui para o museu da BMW, que na verdade está mais para megaloja com atraçõe hi-tech. De lá saí no Olympic Park, onde foram realizadas as olímpiadas de Munique, em 1972, mas que hoje virou parque de diversões com aquário e roda gigante. 

À tarde fui ao Palácio de Nymphenburg, que é bonito, mas parecido com os castelos da França - um prédio largo e comprido com jardim igualmente largo e comprido, cheio de estátuas, lagos, fontes, etc. Por fim fui ao English garden, um parque gigantesco com uma boa área de floresta (e não apenas grama) e um beergarden no meio. Tomei meia cerveja (500ml) e fui para o mercado no centro, para tirar dinheiro (porque na Alemanha cartão de débito é só para compras acima de 20 euros). E comi, adivinhem: salsicha com batata (porque se não for com batata é com repolho). 

O último dia foi um daqueles que, quando acabam, a gente pensa: "no fim deu tudo certo", mas só depois de ter vivido muitas desventuras.     

Pra começar, a noite não dormi muito bem, entao já acordei super cansada. Na hora que eu estava saindo, não sei como, joguei meu blush no chão e ele espatifou em mil pedacinhos (vou ter que comprar outro). Arrumei a bagunça, desci e percebi que tinha fechado o quarto com a chave dentro. A moça da recepção subiu lá, abriu pra mim e enfim saí. 

Me informei na estação de trem sobre como ir para o castelo que foi usado pela disney como inspirição para Cinderela - o Neuschwastein Schloss. Daí peguei o trem ate Füssen (2h de viagem), com meu pass e de lá um ônibus pro castelo, que custou 3,8 ida e volta. 

Até aí tudo bem. O problema é que no dia anterior tinha feito um solão em Munique e na hora que saí também estava quente. Entao saí de short e  não levei guarda chuva. Aí obviamente esfriou e choveu. 

Chegando em Füssen vi que não ia ter jeito e comprei um guarda-chuva, 4 euros. Ainda bem, porque o ônibus, na verdade, não leva até o castelo, mas só ate uma praça onde fica a bilheteria. Pra chegar ao bendito chateau a gente ainda tem que andar 40 minutos na subida. Comprei o ingresso, 8 euros pra estudante, e lá fui eu subir. Para minha sorte, eu estava com uma canga na bolsa e consegui improvisar um chale. Cheguei lá no alto antes de 16h horas e meu bilhete era para 18h10 (a única opção é visita guiada, com horário marcado). Nesse meio tempo choveu, ventou, fez frio e a gente teve que esperar do lado de fora, debaixo duma cobertura minúscula. Fiquei tirando fotos e por fim achei um casal de brasileiros pra conversar - e eles me aconselharam a comprar uma capa de chuva por dois euros pra esquentar. 

Enfim entrei no castelo, fiz aquele tour basico de 5, 6 cômodos num prédio q tem pelo menos 20... Daí desci correndo pra pegar o ônibus de volta. Tive que trocar de trem duas vezes e cheguei em Munique 22h20 - mas a prova de que esse não era meu dia foi quando tentei comprar um chips na maquininha e ela pegou meu dinheiro, mas o chips ficou enganchado... 

Hoje acordei cedo, tomei café da manhã correndo e escrevi esse post no trem vindo para Praga. O hostel aqui é excelente, mas isso fica pro próximo post.  

Curiosidades sobre Munique:

- Enquanto o sinal de pedestre estiver vermelho ninguém atravessa a rua, mesmo se não tiver nem barulho de carro se aproximando. 
- O metrô não tem catraca. É do tipo "chegou, entrou". Se a fiscalização aparecer e você estiver sem bilhete, no entanto, a multa é de 40 euros. Mas não passei por nenhuma (apesar de sempre ter bilhete). 
- O trânsito lá é ótimo e os motoristas super educados. Mas é a cidade que tem mais bicicletas na Alemanha e os ciclistas, estes sim, vão fazer de tudo para te atropelar. 
-Todo mundo fala inglês, menos o pessoal que trabalha nos guichês da estação de trem. 
- Comecei a achar que alemão não é tão difícil assim e que se eu passasse mais uma semana lá já ia aprender algumas coisinhas. 

domingo, 31 de julho de 2011

Zurich

Minha ultima semana em Lyon foi melhor do que eu esperava. Alguns dias voltei pra casa direto do trabalho, para arrumar a mala, outros aproveitei pra passear. Quarta fui ao museu de arte contemporânea. Geralmente não gosto de arte contemporânea - quando isso significa pedaços de bonecas dentro duma caixa, arame emaranhado com bolinhas coloridas, etc. Mas para minha surpresa me deparei com uma exposição bem lúcida sobre a Índia, que valeu os 4 euros da entrada. Além disso, o museu fica numa parte da cidade chamada de cité internacional, onde fica a interpol e onde são realizados congressos e coisas do tipo. A arquitetura é um tanto quanto futurista, bem diferente do resto da cidade. Vale o passeio. Saindo do museu fui num piquenique da escola no parque (o tempo ainda estava nublado, mas não choveu) e de lá fui para um bar com umas colombianas e uma venezuelana. Tinha um bom tempo que eu não saía a noite, então foi bem divertido. Sexta peguei meu certificado na escola e fiz caipirinha para o pessoal na brasserie.

Ontem, enfim, acordei cedo e peguei meu trem rumo a Genebra, e de la para Zurique, onde escrevi este post, do iphone - enquanto esperava o trem para Munique. Adoro esse meio de transporte. De Genebra para Zurich ele passa por uma colina e a gente vê o lago Léman e a cidade inteira ao redor. Maravilhoso. 

Cheguei 13h e pouco, mas até descobrir onde era a saída da estação (tarefa não tão simples quando todas as placas são em alemão), arrumar um mapa e me situar (mais dificil ainda em se tratando de alguem que sofre de "estupidez geográfica absoluta"), cheguei no hostel 14h50. 

Antes andei um bocado, com uma mala, uma mochila e uma bolsinha e descobri que fui mais longe do que precisava. Voltei, achei a rua, o número 5, mas em vez de albergue tinha um restaurante italiano. Putz, caí num golpe - pensei. Fiz todas as reservas pelo mesmo site, o hostelword.com, "estou ferrada". Andei prum lado, pro outro, já estava entrando em desespero quando vi uma placa bem discreta escrito "hostel bieber". Ufa! A entrada era numa ruazinha lateral. Mas dai a porta não abria e não tinha interfone. "O hostel existia, mas fechou. Realmente, caí num golpe". Antes de me descabelar completamente, no entanto, um cara chegou, abriu a porta e começou a subir as escadas. A recepção fica no terceiro andar e embaixo é a cozinha do restaurante. Ufa de novo. 

Daí dei graças a Deus também de não ter chegado antes, pois o check-in era só a partir das 15h.   O lugar era apertado, feio, mas limpo. A localização era excelente, na parte velha da cidade, perto de todos os monumentos, bares e restaurantes. 

Troquei de blusa, lavei o rosto, ajeitei minhas coisas e saí para comer e passear. Ao contrário de Genebra, que é legalzinha, Zurique é fantástica. A parte velha, à margem direita do rio, é cheia de ruas estreitas, casas e prédios bonitinhos e super movimentada. A outra margem é puro luxo e glamour. Lojas caríssimas, hoteis a preços igualmente exorbitantes, dúzias de ferraris e BMW's estacionadas... Mas o principal meio de transporte lá são trenzinhos iguais aos bondinhos que existiam no Brasil. Em um deles tinha até um guardinha de uniforme e chapeuzinho.  

Fui à igreja Fraumünster, onde ficam os vitrais do Chagal (proibido tirar foto), ao Cabaret Voltaire (o berço do Dadaísmo), outras igrejas e ao museu Kunsthaus, só que cheguei lá às 17h30 e ele fechava às 18h. Vi algumas obras do lado de fora (inclusive um muro pintado pelo Miró), e depois fui andando meio sem rumo até a margem do rio. Sentei um pouco, depois voltei para perto do hostel, bebi um chá gelado no starbucks e voltei para tomar banho. 

No meu quarto tinham mais 5 mulheres. Só encontrei com elas à noite, e ninguém parecia muito a fim de conversar. O lado ruim de ter ficado exatamente no lugar mais agitado da cidade é que do lado de fora tinha um show de rock, numa praça a poucos passos do albergue. Só consegui dormir quando acabou. 

Hoje cedo as ruas estavam desertas e o starbucks era o único lugar aberto. 11 euros um muffin, uma água mineral e um café expresso. Bem vindo à Suiça. Estou na estação desde 11h, esperando o trem que sai às 13h16. Chego em Munique 17h28.  

Viajar sozinha tem o lado bom, mas é bem triste, principalmente no fim da tarde, quando você não aguenta mais andar e não tem com quem sentar pra tomar ou comer algo. Ainda me restam 19 dias e várias paisagens, museus e igrejas deslumbrantes. Desejem-me sorte!

segunda-feira, 18 de julho de 2011

C'est bientôt la fin



Só me resta mais uma semana em Lyon. No próximo sábado pego um trem para Zurich, na Suíca, e de lá para Munique, depois Praga, Berlim, Amsterdã, Bruxelas e Londres. Daí volto para Lyon no dia 18 para fechar minha conta no banco e a mala, e no dia 20 às 6h da manhã respiro fundo e vou lá atravessar o oceano.

Assim sendo, meu plano para esse fim de semana era fazer um pouco de turismo, visitar uns museus que ainda não conheço, comprar pralines (amêndoas confeitadas), chocolates e vinhos e começar a arrumar as malas. Mas tem duas semanas seguidas que só chove nessa cidade (sério, não teve um dia sem chuva nesse tempo) e a temperatura registrada pelos termômetros não tem nada a ver com o que a gente espera do verão. Além disso, como no começo de julho começaram as férias escolares na Europa e no dia 14 o grande período de férias na França, a cidade está vazia, abandonada, uma tristeza só - o lado bom é que a semana inteira o movimento na Brasserie foi fraco e eu não fiquei morta de cansada de carregar pratos e mesas.

Ontem fui à Vieux Lyon fazer compras e de lá ia (re)visitar a Croix-Rousse - uma parte igualmente antiga da cidade, que fica numa colina e tem muitas coisas legais para ver, inclusive um segundo teatro romano, menor do o que fica em Fourvière. Só que antes de partir para a segunda parte do roteiro, fui à Praça Terreaux encontrar um ex-colega (da Lyon Bleu) suíço que veio passear em Lyon. Fomos almoçar e ficamos conversando um bom tempo, enquanto o mundo caía em água lá fora.

Ele se chama Jurg (iurg) e é uma das pessoas mais engraçadas que já conheci na vida. Fomos da mesma turma no comecinho do curso e ele veio no meu aniversário. Fiquei muito feliz em revê-lo, pois ele fez parte da turma mais legal que conheci em Lyon. Depois do almoço desisti de fazer turismo e vim para casa. Claro que nem encostei na minha mala, mas atualizei meu CV e criei um perfil no Linkedin, afinal, voltarei para o Brasil sem nem meio real no bolso.

Anteontem saindo do trabalho eu já tinha ido visitar a Croix-Rousse, mas o tempo estava igualmente feio e eu estava sem câmara fotográfica, logo tinha prometido para mim mesma voltar lá ontem. Hoje acordei com um sol lindão batendo na minha cara, mas ele já foi embora, então ainda não tenho programação, exceto um jantar na casa de uma amiga da Geneviève.

Durante a semana não fiz nada de muito empolgante, exceto ter ido assistir "Arrí Potér" (e ter descoberto que na França Hogwarts é chamada de Poudlard). Voltei de Paris e me encontrei sozinha em casa até quinta-feira, pois Geneviève estava na praia com uma amiga. Na escola, começou a temporada "vale a pena ver de novo". A semana inteira a professora só passou vídeos, exercícios e coisas que já tinha visto, daí na sexta, quando ele quis me dar o mesmo material de subjuntivo pela terceira vez eu apelei e fui na direção reclamar. Para minha surpresa, a coordenadora achou um absurdo o que eu contei e disse que ia chamar a professora no canto.

Em Paris também choveu o tempo todo, mas fiquei muito feliz de ver a Lívia. Fui super bem recebida pelo irmão da Geneviève e a esposa dele. Não vi o desfile do 14 de julho, pois cheguei lá a tarde (a passagem era bem mais barata), nem os fogos, porque os dois não moram exatamente em Paris, mas numa espécie de cidade satélite chamada Lozère (20 min de trem do centro). Na verdade trata-se de um bairro residencial que só tem casas e é bem bonitinho e tranquilo.

No primeiro dia fiquei rodando sem destino carregando minha mala para cima e para baixo, pois eles só estariam em casa a partir das 19h e eu havia chegado às 14h. No segundo dia acordei gripada e fui passear nos arredores da torre Eiffeil (porque minha mãe pediu para eu comprar 25 mini torres por 5 euros), depois fui ao museu da guerra (que é uma verdadeira aula de história, bem legal) e mais tarde voltei à torre para encontrar a Lívia, a prima dela e a amiga da prima. No terceiro dia fomos à Fontainebleu visitar um castelo - não tão exuberante como Versailles, mas bem bonito. No quarto dia levantei cedo para ir encontrá-las em casa, mas elas acordaram tarde, demoraram para arrumar e quando finalmente saímos achei mais prudente ir direto para a estação. Passei um pouco pelos arredores e percebi que Paris não é tão grande assim, mas é realmente uma cidades mais lindas do mundo.

Todos esses dias eu estava gripada, desanimada, debaixo de chuva e contando moedinhas na hora de almoçar. Acho que a Lívia ficou decepcionada com minha falta de empolgação, mas é porque ela não viu como eu estava bem pior antes de ir para lá. Não vou entrar em detalhes, mas depois que eu e o Thibaut terminamos, não nos encontramos para conversar ou pelo menos dizer "au revoir", então, obviamente, como eu sou feita de carne e osso e não de pedra, fiquei muito abatida com o fato de ir embora sabendo que talvez a gente nunca mais se veja.

Esse último mês aqui foi difícil, mas por incrível que pareça, vou embora com uma vontade imensa de voltar para enfim fazer meu mestrado em algo relacionado às ciências políticas. Vou fazer de tudo para ter uma bolsa e não precisar mais arrumar sub-empregos e acho que o ambiente universitário será muito mais favorável para a construção de amizades (o problema da escola de idiomas é que a maioria das pessoas fica pouco tempo ou vem em grupos). Além disso vou estudar algo que vai me empolgar e desafiar - por mais que eu ainda cometa erros com a língua, depois de um tempo estudando só francês percebi que realmente a gente precisa de objetivos mais ambiciosos na vida.

Tentarei dar notícias durante o tour, mas não posso prometer nada, exceto que este ainda não será meu último post.

À bientôt.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Da queda da bastilha à queda das bolsas

Praça da Bastilha em Paris: era uma vez uma prisão


14 de julho de 1789: uma população cansada de mandos e desmandos de reis que se diziam escolhidos por um poder divino para mandar e desmandar invade uma prisão, libera os 7 encarcerados políticos que ali estavam e sai pelas ruas gritando: liberté, égalité, fraternité. A história se chama revolução francesa e a prisão era a Bastilha. 222 anos depois, quem sai nas ruas de qualquer cidade francesa vê bandeiras azul-vermelho-brancas em todo lugar e tanques de guerra estacionados no lugar dos carros. Eis a "Fête Nacional" (festa nacional), celebrada cada meio de julho com desfile militar, fogos de artifício e bailes noturnos.

Em Lyon o evento principal é na beira do Saône e em Pais na Champs Elysées. Todo mundo empolga, sai na rua pra ver e diz que é lindo. Outros desfiles menores também acontecem, exceto quando o mundo resolve acabar em água como hoje.

Desde segunda-feira a cidade já está decorada para a data especial e hoje de manhã teria um pequeno desfile perto da escola, que foi cancelado por causa da chuva sem noção que cai desde ontem (pela primeira vez vi um bueiro transbordar nessa cidade - mas acho que nunca choverá a ponto de árvores caírem ou casas deslizarem). Quando saí da aula, vi uns 8 tanques de guerra enfileirados e soldados olhando pro céu meio sem esperança.

Como é feriado e eu não trabalho amanhã nem depois, resolvi ir à Paris, encontrar a Lívia, minha amiga de BH, que está de férias pela Europa. O irmão da Geneviève vai me alojar. Pena que o desfile na Champs Elysées começa de manhã e eu chego à tarde (o bilhete de trem era bem mais barato...). Espero pegar pelo menos os fogos de artifício. Depois postarei fotos, se a chuva deixar.

Mudando completamente de assunto, no último domingo fui para Genebra. Ida e volta por 30 euros, 2 horas de trem normal (sem sert TGV). Fui só para dizer que conheci a Suiça. Saí de casa com dor de garganta e estava chovendo, mas uma hora depois de chegar lá o sol saiu e eu até peguei uma cor. Segundo uma amiga minha, meus parâmetros estão muito elevados, mas não achei a cidade tão bonita assim. Lá tem um lago, vários bancos, 892 relojoarias (aliás, acho que são bem umas 1.347), um jato de água gigante dentro do lago e lojas de chocolate que fecham no domingo.

Descobri que na Suiça ainda se usa o franco suíço e não o euro (e se você pagar o chocolate em euro eles te dão o troco em moedas de franco), que tudo lá é caro, inclusive o Mcdô (quase o dobro do preço na França), que em Genebra não tem metrô e que os suíços são realmente lerdos como dizem os franceses - todo lugar tem fila, mas não porque tem muita gente como em Paris, mas porque os atendentes são todos retardados. Na ida e na volta passei pela Duana, mas não tinha ninguém querendo ver meu passporte...

Chegando lá peguei um mapa e fui andando por um lado do lago, debaixo do sol. Mais tarde, eu queria ir para o outro lado do lago, ver o prédio da ONU, mas não tinha mais forças, então fui tentar achar algum lugar menos caro para tomar algo e refrescar, mas esse lugar não existiu, logo fiquei andando meio sem rumo, esperando o tempo passar. Antes disso, eu estava andando tranquila pela beira do lago quando um velho português completamente avulso veio me perguntar se eu era brasileira e se eu queria tomar alguma coisa. Saí de perto, ele veio atrás, falei que tinha namorado, e ele foi embora. Sempre atraio uns tipos assim. Uma vez em Paris, indo à padaria às 10h da manhã, um louco avulso veio falar que eu era muito bonita e que a gente poderia tomar um café... 10h da manhã! Mas tirando isso, passei um dia inteiro sozinha e com o celular descarregado (mas ninguém ia me ligar mesmo...).

Ontem a Geneviève chegou com um pacote de Camarão pro jantar. Perguntei se eu poderia prepará-los e comecei a fazer um molho para estrogonofe. Então abri o pacote e vi que os bichinhos ainda estavam com rabo e cabeça e comecei a limpá-los. Fui chamar a Geneviève para me ajudar no processo e ela me disse que a gente comeria daquele jeito mesmo - tirando a cabeça e o rabo no próprio prato e passando na maionese. Ela insistiu que eles já estavam cozidos e então tentei explicar para ela pela décima vez que o conceito de "cozido" de um francês é bem diferente do nosso. Deixei metade dos camarões encabeçados para ela e fiz o estrogonofe com a outra metade. Ela perguntou se poderia experimentar, falei que sim, mas que já era pelo menos a quinta vez que eu fazia estrogonofe de camarão e que ela experimentava. Enfim, de vez em quando o jantar dela é um pedaço de presunto, ou uma coxa de frango. Elaborei uma teoria de que francês come carne crua porque não tem paciência de esperar cozinhar, pois as refeições deles já são demasiadamente longas com entrada, prato, queijo e sobremesa...

Por fim, ela veio comentar da situação na Itália e da crise europeia, acrescentando que ela só ouve falar que o Brasil e a Índia estão crescendo e desenvolvendo, enquanto a França só afunda. Tentei explicar mais uma vez que uma Europa em crise ainda tá valendo muito mais que um Brasil desenvolvido e que não adianta nada ser forte no cenário internacional quando não se tem tem escola gratuita de qualidade, meio de transporte decente, etc. Enfim, que os franceses reclamam de barriga cheia, pois eles não sabem o que é desigualdade social (eles insistem que isso existe por aqui, mas eu nunca vi criança pedindo dinheiro no sinal, por exemplo), não sabem o que é violência, tem um salário mínimo de mil euros, compram um carro zero por 8 mil euros, andam de metrô, ônibus, ônibus elétrico e trem por 50 euros mensais (ou 1,60 por bilhete que vale para todos esses meios por um hora, na mais cara das hipóteses) e comem um menu BigMac por 5,5. Pode até ser que um dia a França vire o caos e a miséria e o Brasil exemplo de desenvolvimento, mas até lá já vai ter alguém me chamando de vó.

É fato que as coisas estão melhorando para nós, mas até a Copa do Mundo ainda não teremos um metrô decente em BH, por exemplo. E claro que temos várias qualidades que eles não têm e que aqui eu também vejo mil coisas para botar defeito, mas fico irritada com essa história de "crise europeia". Ela existe, é fato, mas podem acreditar que as coisas desse lado de cá do oceano ainda estão longe de um cenário de catástrofe.

Mas enfim, volto a dar notícias na volta de Paris. À bientôt.

p.s.: continuo sem amigos, sem namorado e contando os dias para viajar, então estou tentando ocupar minha cabeça assistindo entrevistas na televisão sobre a situação econômica da Europa, reality shows de culinária e estudando a história da França.

sábado, 9 de julho de 2011

Do céu ao inferno em 21 dias

Entre tapas e beijos, uma família unida e ouriçada

Depois de quase um mês sem dar notícias, nem sei por onde começar...

Três dias depois do último post eu acordei, peguei o trem até o aeroporto e fiquei esperando um cabelo vermelho sair pela sala de desembarque ao meio dia. Até chorei quando isso aconteceu. Mãe, prima, tia, avó, uma sequência de abraços que trouxeram uma felicidade inexplicável. Cheios de malas (pois tinha também o marido da tia), pegamos o trem até o centro de Lyon, onde Geneviève nos esperava com uma amiga dona de um carro bem grande. Viemos para casa beber champagne e comer uns salgadinhos. Depois fui ao centro levar minha tia e o marido ao hotel - e bem nesse dia tinha uma parada gay e uma manifestação de motoqueiros na cidade, então voltei quase 3 horas depois. Finalmente, lá pelas 20h, quando todos tinham dormido um pouco, fomos a um Bouchon (pronúncia: buxôn), nome dado aos restaurantes típicos lioneses.

Ambiente agradável e familiar no coração da Vieux Lyon, o Laurencin oferece entrada, prato principal e sobremesa por 15 euros. Comemos até morrer: canut (quase um patê à base de queijo branco), quenelles (um quase souflê de peixe ou frango), sorvete de framboesa, cassis, profiteroles...

No dia seguinte fomos à Fourvière, descemos para o centro da cidade, almoçamos próximo ao hotel de Ville e de tarde fomos ao Museu Lumière (dos irmãos que inventaram o cinema). Segunda íamos ao Halles, mas descobrimos que é justamente o dia que ele fecha. Então compramos queijo e pão no supermercado e fomos fazer um piquenique no parque de La tête d'or (eu, minha prima e minha tia até andamos de bicicleta). De tarde fomos às compras e tentamos dormir cedo, pois no dia seguinte às 4h30 da manhã pegaríamos um táxi, para ir a estação pegar o trem para o aeroporto.

Chegamos lá antes de 6h da manhã, passamos por mil procedimentos de check-in e às 7 o avião decolou. Chegamos em Roma 8h30, mas até as malas chegarem, pegarmos o ônibus pro centro e enfrentar um engarrafamento horrível, chegamos no centro quase às 11h. Tomamos café e fomos para o hotel deixar as malas. Depois tentei ligar para o hotel em Lyon, pois minha mãe tinha esquecido a carteira (mais tarde descobrimos que tinha ficado ao lado do computador da Geneviève). Não consegui. Fomos almoçar, fizemos check-in no hotel, tomamos banho e lá pelas 3h da tarde pegamos um ônibus de turismo.

A cidade é ma-ra-vi-lho-sa! Mas é também uma bagunça e têm um trânsito pior que o de Manaus (pois os romanos ignoram a importância das placas e semáforos e parece que já se acostumaram a dirigir na base da busina). Descemos no Coliseo e depois andamos um bocado no Foro Romano. Mais tarde ainda fomos à Fontava di Trevi e ao Pantheon. Tudo isso sob um sol estilo nordeste brasileiro. De noite só pensávamos em dormir, só que o marido da minha tia, que pertence ao grupo social conhecido como "terceira idade", deu um jeito de se perder e causou um estresse danado no grupo.

No dia seguinte fizemos o check-out logo cedo e fomos ao Vaticano - e visitamos o museu do Vaticano e a capela sistina. Como eu já tinha comprado as entradas pela internet, "furamos"uma baita duma fila, mas isso não diminuiu em nada a sensação de sardinha enlatada lá dentro. A capela sistina foi uma decepção: é tanta gente que nem dá pra parar e ficar olhando pra cima - os seguranças ficam todos te xingando, mandando você sair logo.

Em seguida, com o ônibus de turismo, passamos pela Vila Borghesi e prometemos voltar à cidade e passar no mínimo mais uma semana, pois para todo lado que você olha tem um monumento, cada um mais fascinante que o outro. Os italianos não se parecem nada com os franceses, mas lembram os brasileiros: alguns são bem simpáticos e calorosos e outros bem mal-educados. Em volta do Coliseo tem umas 50 barraquinhas de sorvete, sombrinha, panini e vendedor de mini-coliseo. E dentro do museu do vaticano o que não falta é loja de souvenir. Na verdade, na cidade inteira tem quase um ambulante e dois brasileiros para cada turista. Também fiquei impressionada como as coisas são baratas por lá (para comer, pegar táxi, lojas...), e como a gente se vira super bem na Itália falando apenas português e italiano de novela.

Acabado o tour, fomos procurar o ônibus para voltar para o aeroporto. Correndo atrás dele, minha tia perdeu as rodinhas da mala (que segundo testemunhas foi comprada em uma famosa rede de supermercados do norte de Minas e já vinha apresentando problemas desde o início da viagem). Como a Itália está mais para Brasil que para França, tivemos que passar algumas horas esperando pelo vôo atrasado num aeroporto que na verdade era um galpão improvisado. Chegamos em Paris quase meia noite, pegamos um ônibus para o centro e um táxi até hotel.

No dia seguinte, acordamos um pouco mais tarde (lá pelas 9h), pegamos o metrô até a Notre Dame, andamos até o Louvre pela beira do Sena, vimos a Monalisa, almoçamos no Louvre, andamos pelo Jardim das Tuilleries até a Champs Elysés e depois toda a avenida até o Arco do Triunfo, com parada na fila do La Durée para comprar Macaron. Voltamos para o hotel e descansamos até a hora de subir na torre Eiffeil. O Thibaut saiu do trabalho e foi me encontrar no hotel para ir com a gente. Eu também tinha comprado as entradas pela internet, evitando assim mais uma fila desnecessária. Chegamos lá pouco antes das 22h, bem na hora do por-do-sol (isso mesmo, por-do-sol às 22h).

Descemos e ainda fomos a um restaurante lá perto jantar. Mais uma vez voltamos para o hotel exaustos. Acordamos e fomos para Versailles, mas dessa vez as entradas compradas pela internet não serviram para escapar de uma fila de quase uma hora. Lá dentro, tivemos a impressão de que todas as escolas de Paris resolveram fazer excursão exatamente naquele dia. Mais tarde fomos passear no jardim e sugeri ao pessoal de alugar um carrinho para fazer isso (afinal, estamos falando do jardim de Versailles). Para tanto, era preciso deixar a carteira de motorista como garantia e pagar na volta, mas minha tradução simultânea sofreu alguma falha técnica e minha prima quase perdeu o documento... Felizmente os seguranças do palácio foram ágeis e simpáticos e mesmo quando todo tinha mundo já tinha ido embora eles nos deixaram entrar de volta e ainda ligaram para o cara que cuidava dos carrinhos vir nos encontrar.

No último dia na cidade-luz fomos à Bastilha a pé e de lá pegamos um ônibus até o Pantheon (passando pela praça da Sorbonne). Almoçamos crepe e depois nos dividimos no grupo que queria fazer compras (tia, marido e prima), e no grupo que queria visitar o jardim de luxemburgo (eu, minha mãe e minha avó). Às 18h54 pegamos o TGV de volta para Lyon e novamente fomos ultra-mega-bem recepcionados pela Geneviève, que nos entupiu de comida, vinho e macarons.

Às 4h da manhã do dia seguinte, todo mundo foi atravessar o oceano e eu me vi sozinha mais uma vez. A viagem foi corrida, cansativa, mas deliciosa. Claro que brigamos várias vezes, por qualquer razão, mas acabamos sempre pedindo perdão. E eu, que sou a pessoa mais perdida do universo, me senti muito orgulhosa de mim mesma por ter atuado todos esses dias como guia e intérprete (ainda que algumas vezes eu tenha pegado o metrô pro lado errado...).

O que aconteceu nas duas semanas seguintes, no entanto, não é exatamente algo interessante a ser relatado. Eu e o Thibaut começamos a brigar e agora, além de não ter mais família nem amigas (everybody's gone), também não tenho mais namorado. Semana passada quase nem fui à aula e descobri que, definitivamente, não nasci para ser garçonete. Essa semana as crianças entraram de férias (a Europa inteira, na verdade), então meu período como babá acabou. Fui ao parque todos os dias andar de bicicleta e comprei passagens para fazer um tour por algumas capitais europeias no mês de agosto. Mas nada serviu para eu parar de contar os dias para voltar para o Brasil. 20 de agosto. Wish me luck!

quarta-feira, 15 de junho de 2011

C'est parce que...

"C'est parce qu'il pleut que tu pleures/C'est quand tu souris qu'il fait beau"
É porque está chovendo que você chora/ (mas) é quando você sorri que fica ensolarado


Todos os dias eu tento pegar o ônibus de 8h07 para chegar na escola antes da aula ter começado. Obviamente, na maioria dos dias eu não consigo e pego o de 8h16. Normalmente chego na praça Bellecour (onde pego o metrô) às 8h30 (8h40, no máximo, se tiver engarrafamento).

Normalmente... Mas hoje, justo hoje, só porque eu tinha prova do Delf (o exame oficial de francês, reconhecido por todas as universidades, empresas, enfim, todo mundo), dei de cara com um engarrafamento monstruoso. Para começar, o ônibus de 8h16 chegou 8h20. Daí em 20 minutos a gente chegou no segundo ponto depois do meu (no qual eu chegaria em 5 minutos a pé). No meio do caminho o motorista falou que todas as ruas na beira do rio estavam bloqueadas, então ele não iria à praça Bellecour, onde era meu exame, mas à Perrache - e quem quisesse ir para Bellecour pegasse o metrô.

Cheguei em Perrache 8h55. Saí correndo pra pegar o metrô. Depois saí correndo para chegar ao local da prova e, quando cheguei, esbaforida, desesperada, eram 9h06. Nisso veio um anjo em forma de examinadora e me mandou entrar e ficar calma, sem nem perguntar nada. Sentei, acalmei, tomei água e fiz a prova tranquila. Como já expliquei, estou no C1 e fiz a prova do B2, para ter certeza de que eu ia passar. Amanhã ainda tem a prova oral, mas nem estou preocupada.

Falando em prova, não passei no mestrado. Eu fiz o mesmo exame que os franceses e meu texto foi corrigido com os mesmos critérios. Em português talvez eu tivesse passado... Depois da notícia eu fiquei, obviamente, arrasada, deprimida, me sentindo a pior das criaturas do universo e com medo de voltar para o Brasil e nunca mais voltar para cá. Mas depois de muito conversar com meus amigos, minha mãe e ontem com o Thibaut, coloquei a cabeça no lugar e vi que vai ser bom para mim ir embora em agosto, quando meu visto expira.

Todo intercâmbio tem fases. Primeiro eu senti muita saudade de casa, morria por um pão de queijo ou farofa, escutava samba o dia inteiro. Depois eu comecei a amar a França e nunca mais querer ir embora. Mas agora estou na fase do saco cheio de tudo (da falta de higiene, da frieza e formalidade das pessoas, da vida de garçonete, da escola, etc). Pra piorar minha situação todas as minhas amigas brasileiras foram embora...

Fato é que ontem minha professora chamou a orientadora pedagógica da escola para reclamar que eu não estava sendo muito agradável em sala de aula. Ela tem razão, mas expliquei que estou de saco cheio de ver mil vezes a mesma matéria (o discurso indireto, o subjuntivo) e nunca ver as coisas que ainda tenho dificuldade (alguns tipos de pronome) - já pedi à professora para rever, mas ela me disse que isso é coisa de atelier e eu não faço atelier porque trabalho. Elas me falaram, como sempre, que entendem a minha situação, mas eu estou num curso em grupo e elas não podem se adaptar às minhas necessidades. Mais tarde voltei na escola e falei com a orientadora que eu estava insatisfeita com a minha professora, que só lê o material que ela prepara e não explica nada direito. Ela falou que vai ver com os outros alunos se procede.

Minha relação com a escola já não ia muito bem e agora ficou ainda pior. Resolvi que o dia que eu estiver com sono não vou à aula, pois é fato que o meu progresso rápido no idioma se deve muito mais a minha convivência com franceses do que a qualquer aula (e se erro menos na escrita que outros colegas é de tanto falar no gtalk com o Thibaut).

Além da aula, estou de saco do trabalho como garçonete (é isso que paga minhas contas, mas não foi para isso que estudei...), de não morar na minha casa (Genevieve é ótima, mas minha cama é dura, não tenho espaço suficiente no armário e por aí vai. No começo tudo isso fica em segundo plano, mas à medida em que a empolgação vai passando a gente volta a ter as mesmas exigência de antes. Só que tudo isso não significa que desisti da França. Pelo contrário, vou para o Brasil em agosto justamente para me preparar para voltar em outra condição - inscrita numa universidade francesa, com a possibilidade de arrumar um emprego um pouco mais intelectual e menos braçal.

Até ontem eu estava ainda bem triste, mas conversei com o Thibaut e fiquei mais tranquila. Ele me deu total apoio para voltar, procurar um emprego que me agrade, ficar perto dos meus amigos e da minha família e vai tentar ir ao Brasil no carnaval. Ontem comemoramos 3 meses juntos. Fomos a um restaurante brasileiro na Vieux Lyon (foi ele quem descobriu e fez a reserva) e depois passeamos um pouco pela cidade.

Agora a única coisa na qual eu consigo me concentrar é na chegada da minha família depois de depois de amanhã. Comprei ingredientes para fazer uma torta praline (especialidade lionessa: um tipo de amêndoa confeitada), Genevieve comprou um champagne. Também já comprei bilhetes para subir na Torre Eiffeil, conhecer o palácio de Versalhes e o Vaticano.

Curioso é que, semana passada, enquanto minha vida estava um caos, eu estava irritada com tudo, brigando com todo mundo, deprimida o tempo todo, o tempo estava cinza, chovendo e meio frio. Hoje o sol veio com tudo e acho que vai durar um bom tempo.

quarta-feira, 8 de junho de 2011

Les "hopitô" publiques*

*A escrita correta seria hopitaux, plural de hospital, mas preferi enfatizar a pronúncia...

Ontem eu estava decidida a chegar em casa e postar (pra limpar um pouco as teias de aranha), mas em vez disso cheguei em casa morrendo de dor de estômago, resolvi ir para o hospital e vivi uma desagradável aventura com o serviço público francês.

Já vou explicar o que aconteceu, mas antes preciso fazer um breve resumo da minha vida nas últimas duas semanas e meia. Como contei no último post, comecei a trabalhar também como babá e venho me saindo super bem - mas, mais do que nunca, tenho certeza de que não quero ter filhos tão cedo. O mais velho tem 4 anos. Fora as traquinagens normais de um menino dessa idade, não me dá muito trabalho. Quando ele apronta qualquer coisa a gente conversa e entra em acordo. No fim da tarde eu coloco o DVD do Shrek que ele já viu mil vezes e ele nem pisca. Já o pequeno, de menos de 2 anos, que nem sequer conversa, ganhou da mãe o apelido carinhoso de "mini-tornado". Ele não para quieto um segundo, chora toda vez que ouve um "non" e quer testar a gente o tempo todo, fazendo todo tipo de "coisa errada". O problema é que depois disso tudo ele dá aquele sorriso mais fofo e vem pedir colo como se nada tivesse acontecido - dia desses a mãe deles chegou em casa e deu dois pedaços de chocolate para cada um. Ele veio prontamente, todo sorridente, me oferecer um dos pedaços, sem ninguém mandar ele fazer nada.

Na escola, tudo vai indo. A professora é bem bacana, mas péssima pra ensinar gramática. Ela simplesmente lê o material que preparou e se a gente fala que não entendeu ela relê. Tem dias que são bem chatos, mas tem outros em que ela arruma assuntos interessantes e complexos pra gente discutir, nos obrigando a fugir daquela coisa básica de todo curso de idioma no início (tipo conjugar "verb to be"em inglês, até você atingir um nível em que possa discutir e escrever coisas bem mais elaboradas). Em alguns momentos a dificuldade me irrita, pois fico me sentindo estúpida. Ao mesmo tempo me sinto estimulada e com vontade de não cometer o mínimo erro que seja, então acho que venho me esforçando mais.

Já a parte lúdica do meu "sejour" na França continua indo super bem. Como contei, no último fim de semana de maio fui para Annecy. O Thibaut foi de carro no sábado à tarde e, como ele ia correr o dia inteiro (ele começou às 3h da manhã e terminou às 18h), fui com as meninas da escola de trem no dia seguinte. A cidade é ma-ra-vi-lho-sa! Cercada de montanhas magníficas, com um lago enorme de água azulzinha e arquitetura fofa. Chegando lá fomos explorar a cidade. Subimos até o alto de um morro onde tem uma basílica a uma vista linda. Na descida tomamos sorvete e alugamos um barco tipo pedalinho (éramos 3 brasileiras, uma inglesa e uma indonesiana). Como o sol tava bem forte nesse dia, aproveitamos para colocar o biquini e pular na água (gelada). No fim da tarde fui ver a chegada do Thibaut e duas horas depois voltamos todas de carro com ele (sim, ele ainda teve forças para dirigir).

Na última quinta-feira, 2 de junho, foi feriado na França. Emendei a sexta nos meus dois empregos e fui para Paris. Cheguei lá quarta, meia noite, e o Thibaut estava me esperando na estação. Fomos para o apartamento da irmã dele, que nunca está lá (ainda bem, porque lá é bem pequeno). Quinta dormimos até bem tarde e depois fomos passear sem rumo e comer. No dia seguinte visitamos uma exposição de esculturas do Miró (eu decididamente prefiro o Miró pintor) e depois assistimos "The Hangover 2", que no Brasil é "Se beber não case" e na França "Very bad trip" (com sotaque, claro).

No sábado fomos para Houdan, uma cidadezinha perto de Paris, onde fica a casa de campo de um amigo do Thibaut. O felizardo tem um tio muito rico que foi comprar um castelo e resolveu comprar todas as casas ao redor (ou seja, o vilarejo inteiro) e dar de presente pra cada núcleo da família (além de um apartamento em Paris para cada sobrinho). Fizemos churrasco - leia-se um espetinho (alternando pedaços de carne, pimentão e tomate) e um bife (de porco) para cada pessoa, sem muito sal e com "ervas da provence". No dia seguinte acordamos tarde e começamos a assitir a final de Roland Garros, mas tivemos que ir embora na metade, pois eu ainda tinha que pegar o trem de Paris para Lyon.

Segunda fui para a escola, da escola para o trabalho, de um trabalho ao outro e a noite dormi. Ontem a mesma coisa, até chegar em casa com dor de estômago. Na verdade desde domingo eu estava passando mal, mas achando que era passageiro. Como a dor não ia embora, liguei para o meu seguro de saúde. Eles perguntaram se eu queria um médico em casa ou se eu preferia ir ao hospital, no que eu, inocentemente, pedi a segunda opção, pro caso de ter que fazer algum exame. Me passarem o endereço e disseram que o pessoal do hospital já estava sabendo que eu iria. Pois bem, Genevieve pegou o carro e foi me levar.

Sempre que vou com ela a algum lugar ela faz questão de anunciar, nada sutilmente, que eu sou brasileira. Ontem não foi diferente. Ela chegou na recepção e falou: "ela é uma jovem brasileira com dor de estômago e seu seguro a mandou vir aqui". A mulher da recepção, nada simpática, perguntou para Genevieve "onde estavam os papeis" e então falei que ela poderia falar comigo, pois eu falava francês. Ela foi menos simpática ainda e disse que meu seguro não valia nada lá e que eu queria dar um golpe e sair sem pagar.

Pequeno detalhe: eu fui a um hospital público. Só que isso, na França, não implica em gratuidade. Se você é francês, você vai, paga e o governo te reembolsa. Se você é estrangeiro, você tem um seguro saúde. Se você é ilegal, mendigo ou qualquer coisa parecida, bom, dá pra imaginar né. Voltando à história, tentei explicar que eu não tinha nenhum papel, pois o seguro tinha me falado que já tinha ligado para o hospital. Ela disse que não trabalhava com seguro e não tinha recebido nenhuma ligação. Pedi seu número e disse que pediria para o seguro ligar novamente, mas ela ficou repetindo insistentemente "que não era assim que funcionava" e eu ia ter que pagar. Daí ela pediu meu passaporte para fazer o registro e eu falei que não daria, pois precisava resolver a história do seguro primeiro. Ela ficou falando que se eu não desse o passaporte não ia ser atendida (no que eu falei: "eu não quero ser atendida sem saber quanto vocês vão me fazer pagar").

Nisso a Genevieve tomou partido da mulher e ficou insistindo para eu dar o passaporte, falando que no Brasil devia ser assim também, para eu não criar confusão, que meu seguro não era sério e etc. Tentei explicar, em vão, que no Brasil se você vai um hospital público você pode até morrer na fila, mas se você for atendido vai ser completamente de graça... Por fim eu dei minha data de nascimento e a mulher grossa fez uma ficha. Enquanto aguardávamos o atendimento Genevieve continuou me atormentando, falando que eu tinha sido grossa com a mulher, que ela devia ter trabalhado o dia inteiro, que eu não podia fazer isso, tadinha da mulher, etc...

Por fim a mulher da triagem me chamou e ela falou que queria ir junto. Eu falei que não, que ia sozinha e ela teve que repetir para todo mundo que eu era brasileira e estava de cabeça quente. Insisti que eu ia sozinha e ela me deixou ir. Nesse meio tempo o pessoal do seguro me ligou e eu contei toda a história. Dez minutos depois uma outra mulher do hospital veio me falar que eles tinham acabado de ligar para ela e estavam passando um fax para o hospital. Genevieve ainda teve que voltar na mulher grossa e contar isso, no que a infeliz ficou repetindo: "mas a gente não trabalha com seguro, não é assim".

Como estava demorando muito para eu ser atendida (afinal "só tinha 7 médicos de plantão, para menos de 15 pessoas, pois o sistema hospitalar está em crise"), resolvemos vir embora. Chegando aqui, o pessoal do seguro me ligou de novo e falou que na verdade a consulta já estava paga e que o fax foi só para mandar o comprovante. Genevieve ficou perguntando se eu não queria que ela fizesse isso, aquilo, aquilo outro e eu falei que a única coisa que eu queria era que ela me deixasse resolver tudo sozinha. Hoje o seguro me ligou várias vezes, até conseguirem um médico para vir me atender em casa. Ele disse que eu estou bem, apenas um pouco estressada e lembrou que nos últimos 4 meses minha alimentação mudou bastante. Passou uns remédios e agora tudo vai bem.

Claro que no Brasil também tem gente mal-humorada, estressada e grossa, mas sempre tenho a impressão de que aqui as pessoas são menos humanas, mais ligadas à burocracia e tem menos imaginação para resolver os problemas (é assim e pronto). Pelo menos eu me senti amparada o tempo todo pelo seguro, enquanto aqui eu não tive apoio nem da Genevieve... De ontem até hoje eles me ligaram 15 vezes, até ter certeza de que eu tinha sido atendida e tudo ia bem. A empresa é a Travel Ace Assistance e faz cobertura para toda a Europa. #ficaadica

Em 1o dias minha família vem me visitar (mãe, avó, tia, prima e marido da tia)!!!! Tem um tempo que estamos planejando, mas agora é a contagem regressiva. Vamos à Roma e à Paris. Espero atualizar mais uma vez antes disso.

À bientôt.

domingo, 22 de maio de 2011

Trabalho, dieta e diversão
















Rhône sexta à noite e sábado à tarde: diversão pra toda a família


Eu poderia dizer que estive muito ocupada semana passada, que o fim de semana foi agitado, ou que as cinzas do vulcão inslandês já chegaram na França e por isso eu sumi, mas eu assumo: não escrevi por pura preguiça. Se bem que não posso dizer que a semana foi improdutiva, afinal eu mantive a dieta, saí para correr no parque todos os dias e fiz todos os deveres de casa da escola.

Essa semana também começa cheia de novidades: arrumei mais um emprego, fiz minha inscriçao para o Delf (um exame oficial do governo para atestar seu nível de francês) e mudei temporariamente para a sala (de casa) enquanto trocamos o carpete do meu quarto por uma imitação de tábua corrida.

Genevieve resolveu fazer essa graça, primeiro, por causa da minha alergia (depois que eu cheguei meu quarto nunca mais soube o que era tapete e o carpete recebe semanalmente os cuidados do senhor aspirador de pó), mas também porque ela quer vender o apartamento, num sistema muito estranho que nunca ouvi falar no Brasil - quando a pessoa fica mais velha ela coloca o apartamento à venda e quem compra só paga até ela morrer (ai o sujeito que entra nessa empreitada bizarra, obviamente, tem que dar a sorte de não pegar um Oscar Niemeyer da vida).

O emprego novo é como babá dos dois meninos que eu já andei cuidando como baby-sitter. Não lembro se foi quarta ou quinta, a mãe deles me ligou desesperada porque a antiga "nounou"(pronúncia: nunu) tinha largado o emprego do dia para a noite. Expliquei que eu trabalhava numa brasserie até 15h, mas depois disso estava livre. Ontem fizemos uma pequena reunião e acertamos que vou ficar com eles das 16h45 às 19h30, segunda, terça, quinta e sexta (quarta não tem escola e a mãe tira o dia para ficar com eles). Vou buscá-los no playground do prédio, brincar mais um pouco em casa, dar banho e fazer um jantar. Eles são fofos e a gente se entende bem, então acho que vai dar certo. Além disso, vou conseguir juntar mais dinheiro pra fazer um pequeno tour pela Europa em agosto com o Thibaut (ainda vamos definir roteiros e ver se vamos de trem e avião ou se alugamos um carro).

Já o Delf é exigido por todas as universidades quando você é estrangeiro, mas serve também para o trabalho e várias outras coisas, afinal, é uma prova concreta do seu nível de francês. O exame escrito é no dia 15 de junho, das 9h às 12h e a parte de expressão oral no dia 16, das 16h10 às 17h. Pedi para fazer de manhã, mas a mulher disse que nos dias 15 e 16 não tinha mais horário, então deixei, pois na semana seguinte receberei visitas ilustríssimas e me darei uma semana de folga da escola e do trabalho (na brasserie eu arrumei alguém pra ficar no meu lugar) e com a mãe das crianças ela já me disse que não tem problema.

Acho que ainda não comentei por aqui, mas minha mãe, minha avó, minha tia e uma das primas estão vindo "pras zoropa" passear. Elas chegam dia 18 em Lyon, um sábado. No dia 21, terça, bem cedinho, vamos para Roma e no dia seguinte à noite para Paris, onde ficaremos mais três dias. Mais empolgada que eu só a Genevieve, que cada dia faz mil planos, imaginando o que a gente vai comer, onde vai passear, qual vai ser o meio de transporte, a cor do táxi até o aeroporto, entre outras coisas.

Esse fim de semana o Thibaut não veio para Lyon, então sexta saí com a Juliana e a Amanda e voltei para casa às 6h da manhã. Fomos num barco-bar/boite e ficamos dançando até às 4h da manhã. No caminho de volta para casa começamos a discutir o caso Dominique Strauss-Khan (semana passada ninguém falava em outra coisa por aqui), emendamos numa avaliação dos governos Lula e finalizamos com uma listagem de pontos positivos e negativos do bolsa-família. Imaginem a cena: 4h da manhã, rua deserta e a gente discutindo sério. (Sim, a gente tinha bebido um pouquinho). Daí quando acabamos o papo-cabeça já eram mais de 4h30 da manhã... Fui andando até a praça Bellecour e chegando lá fiquei 40 minutos esperando pelo ônibus. Achei que encontraria Genevieve tomando café da manhã, mas ela ainda estava dormindo.

Sábado, lás pelas 15h, depois que todo mundo tinha acordado, fomos curtir o sol na beira do Rhône. Ficamos sentadas na grama conversando e de repente chegou um grupo de amigos com violão e sax e começou a tocar garopa de ipanema (não eram brasileiros). Ontem só fiquei em casa, assisti filme (em francês, claro) e falei com um tanto de gente que eu morro de saudade pelo skype.

No próximo fim de semana vou para Annecy, pois o Thibaut vai participar de uma espécie de maratona de 78 km (normal), subindo e descendo montanha. Dizem que a cidade é linda e tem um lago enorme. Se ninguém cair morto durante a corrida, acho que vai ser bem legal.

P.s.: descobri que minha nova professora já morou no Brasil e fala português. É bem útil quando a gente tem uma dúvida quem os outros franceses não entenderiam...

P.s. 2: o filme que assisti chama "La Cité de La Peur" e é muito engraçado! É bem antigo e cheio de piadas que só quem fala francês entende, mas acho que dá para rir também com legendas em português...

terça-feira, 17 de maio de 2011

Como eu sei? Eu só sei...


Eu estava com uma baita preguiça, mas fui escovar os dentes e vi essa lua indecente pela janela (sim, isto é a vista da minha janela). Sabe quando você se sente feliz simplesmente pelo fato de estar vivo? Uma felicidade besta, inocente, seguida de uma vontade de dizer: obrigada universo pela existência da Lua, obrigada Deus por essa janela, obrigada cada morador de Lyon por cada luz acesa...

Mas enfim, acho que eu estou devendo uma prestação de contas sobre o último fim de semana, não é mesmo? Hey ho, let's go. A semana passada foi bem do jeito que falei: escola, trabalho, estudo, sono, cansaço. Terça recebemos um grupo de quase 100 pessoas na Brasserie, além dos clientes de cada dia. Fiquei uma hora a mais no trabalho, cheguei em casa moída, fui estudar, (não) dormi tarde e quarta resolvi não ir à aula. Quinta fiz uma pausa no estudo para assistir a abertura do festival de Cannes ao vivo. Meia hora depois começou um show da Lady Gaga e Genevieve veio me perguntar apavorada quem era aquela mulher horrorosa e porque ela era famosa. Expliquei que era a Madonna da vez, mas ela continuou resmugando: "mas ela é muito feia...".

Sexta às 17h30 peguei o TGV rumo à Paris. Chegando lá peguei o metrô sozinha até o La Defense, onde o Thibaut trabalha e onde ficam as sedes de cerca de 30% das empresas europeias. Prédios gigantes, torres, círculos, formas geométricas ousadas, vidros espelhados... E eu ollhando para cima igual uma criança que chega à Disney. Jantamos e fomos para casa dormir, afinal, sábado às 6h da manhã acordarmos para pegar o metrô às 7h, porque a prova começava às 9h, mas eu precisava chegar às 8h30. Chegamos bem antes disso, numa tal de Maison des Examens, em português, "casa dos exames". Logo descobri que eu era a 86 de 89 inscritos, para 20 vagas.

A prova era uma "análise de dossier", ou seja, tínhamos umas 50 páginas para ler, entre artigos de jornais, revistas, publicidade, extratos de livros acadêmicos e etc. Em seguida devíamos responder duas perguntas sobre a importância da noção de "transparência" na relação entre governos/cidadãos, empresas/consumidores, com base no material que a gente tinha recebido. Não era difícil, mas eu levei duas horas (sem exagero) para ler tudo e não tive muito tempo para escrever e revisar. Consegui desenvolver uma resposta com começo, meio e fim, passei tudo a limpo, enfim, ficou bonitinho. O problema é que eu ainda cometo muito erro idiota de francês, com artigos, preposições e etc. Porque assim, na escola tem uns alunos que são ótimos de gramática, conhecem todas as regras, mas na hora de falar parece que não sabem nada. Já eu desato na falação, mas sempre faço tudo meio no chute, porque eu acho que é assim, porque eu ouvi alguém falando assim, porque assim me parece mais certo e não porque eu conheço as regras. E não adianta tentar mudar, esse é meio jeito de aprender uma língua... Mas não sei até que ponto os corretores vão levar em consideração o fato de eu ser estrangeira, porque eu fiz a prova junto com os franceses, então talvez eles vão corrigir tudo no mesmo balaio, sem olhar a origem de ninguém. Ou talvez não. Saberemos no dia 9 de junho, às 14h, horário de Paris.

Coincidência ou não, quando fui entregar meu texto a examinadora perguntou: "você é brasileira? Eu tenho uma filha brasileira, você vem de onde? Ah, eu conheço Belo Horizonte..." Talvez seja um bom sinal.

Depois da prova, que durou quatro horas, voltamos para casa e dormimos até o fim da tarde. Acordamos e fomos tomar cerveja na casa de um amigo e depois fomos ao Museu de Orsay, que nesse dia ficava aberto até meia noite (porque era a noite dos museus na França) e era de graça. Monet, Manet, Van Gogh... Eu tive vontade de ficar meia hora diante de cada quadro. Infelizmente, a única tela de Miró (meu ídolo-mor da arte moderna) que eles têm lá estava emprestada - mas um dia vou a Nova York só para ver o Carnaval do Arlequim de perto.

Domingo descobri uma loja de produtos brasileiros perto da casa da irmã do Thibaut (que é perto da Torre Eiffel) e atingi o Nirvana quando vi pão-de-quejo, farinha, guaraná antártica e sonho de valsa de verdade na minha frente. Curioso é que a cachaça 51 custa aqui 21,50 EUROS - parece que o imposto sobre o álcool é bem alto, mas, né? Thibaut adorou pão-de-queijo e acho que gostou também da farofa que eu fiz. Ontem fiz farofa para a Genevieve e ela me perguntou porque não existe isso aqui...

Em Paris o tempo estava feio, ventando e fazendo frio, então domingo só saímos de casa praticamente para ir ao cinema. Ontem achei que meu trem era às 6h24, mas era às 6h54 e cheguei uma hora atrasada na aula (a viagem dura duas horas, mas vim em casa deixar a mochila e tomar um banho). Tive que passar na direção para explicar porque eu estava atrasada, igual quando a gente tem 6 anos de idade... Hoje comecei de verdade uma dieta e saí para correr num parque aqui perto de casa. Amanhã pretendo andar de bicicleta. E agora que o exame passou pretendo também atualizar o blog pelo menos duas vezes por semana... Torçam para eu cumprir com a palavra...

À bientôt!

terça-feira, 10 de maio de 2011

Como reconhecer uma francesa na rua

teemix.aufeminin.com
A mulher do presidente: linda em franja e osso

Depois de três meses pegando ônibus e metrô todos os dias, resolvi compartilhar com o mundo meu estereótipo de mulher francesa. O objetivo é simplesmente fazer rir. Quem leu os outros posts sabe que aqui tem mais gente legal do que chata e que na maioria das vezes eu me sinto super bem acolhida. Mas enfim...

Como reconhecer uma francesa:

1. Pelo cabelo: francesa que se preze sempre tem uma franja super bem produzida. Geralmente elas usam de lado, com bastante chapinha, mas pode ser também franja inteira ou no meio da testa, igual a da Melina de uma novela das oito não muito antiga. Pouco importa tamanho ou forma, o que vale é ter franja e criar penteados inusitados - o que muitas vezes significa amarrar o cabelo de qualquer jeito e sair na rua achando que os outros vão achar bonito.

2. Pela maquiagem: sete da manhã, meio-dia, meia noite. Qualquer que seja o horário, elas sempre estarão super maquiadas, com bastante delineador e sombra nos olhos. Blush e gloss são opcionais, mas o olhão bem produzido é item de série.

3. Pela roupa: elas adoram lenços volumosos em volta do pescoço e mesmo se tiver o maior calor e elas estiverem com um micro-short que deixa a polpa da bundade fora, elas vão inventar de usar algo do tipo. Elas também adoram um salto, mas não chega a ser algo como a franja ou a maquiagem...

4. Pelo cigarro: em 2009, 36,6% da população francesa fumava, contra pouco mais de 20% no Brasil. Andando pelas ruas, a impressão é que esse número chega a 70%. Francesas e franceses fumam muito e estão sempre com um cigarro na mão.

5. Pelo fone de ouvido: a moda entre os jovens franceses é ter um fone de ouvido gigante e colorido. Acho que às vezes eles nem estão ouvindo música, mas colocam o fone só para compor o visual.

6. Pela falta de curvas: apesar de todas as patisseries, padarias, restaurantes, chocolaterias e dos 5 mil tipos de queijo, a francesa típica é magricela, sem muita bunda e sem muito peito - e elas acham lindo ser assim, então tá né?

7. Pelo ar blasé: sabe cara de quem nem comeu ainda, mas já não gostou? Então, é a que elas mais gostam e sabem fazer...

8. Pelo cheiro? Bom, essa história de tomar banho ou não é muito pessoal e mesmo no Brasil existem vários adeptos do Cascão-way-of-life. Mas pela minha observação pessoal, posso dizer que ainda tem muita mulher na França que ainda não descobriu o desodorante...


Já sobre os homens franceses, ainda não cheguei a nenhuma conclusão, mas tenho uma técnica infalível...

Como reconhecer um francês:

1. Peça para ele falar "carro caro".

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Ce sont des escargots!

Como eu poderia imaginar?

Na semana passada minha vida se resumiu basicamente a: aula, trabalho, estudo, afazeres domésticos e sono, muito sono. Segunda fui à biblioteca municipal procurar os livros que eu precisava ler para a prova da Sorbonne. Só que, como tudo que é serviço público na França, ela não abria segunda... Então fiquei lendo umas coisas pela internet e voltei no dia seguinte. Paguei 6 euros pela carteirinha, que vale um ano, e posso pegar até 10 livros de cada vez e ficar com eles até 3 semanas. Na biblioteca todo mundo foi bem antipático e sempre que eu pedia uma informação me sentia a pessoa mais estúpida do mundo. Mas como eu tinha olhado o catálogo na internet antes, nem foi tão difícil achar os livros.

Na quarta li um livro inteiro - em um dia! - e fiquei muito orgulhosa de mim mesma. Mas no dia seguinte tive uma crise de estresse/falta de sono/ ansiedade e não fiz nada de útil. Como era aniversário da Juliana, depois do trabalho fui encontrar com ela e a Amanda (outra brasileira) no parque da Tête D'or. Elas tinham comprado queijo, pão e vinho e eu cheguei com framboesa e pringles. Ficamos conversando à toa até umas 19h - agora com o horário de verão aqui tem sol até umas 9 da noite ou mais. Uma hora uns franceses se aproximaram para puxar conversa. Eles acharam que eu era italiana e a Amanda, que na verdade é curitibana, alemã. Depois eles ficaram tentando adivinhar de onde a gente era, até que a Juliana falou: "do país onde tem as mulheres mais bonitas do mundo", no eles responderam prontamente: "ah, do Brasil".

Sexta foi mais um dia de dor de cabeça na Lyon Bleu (escola). Minha professora vai ficar duas semanas de férias, então íamos ter aula a tarde terça e quinta - justamente os dias de gramática. Mais uma vez fui à direção explicar que, por causa do trabalho, eu não poderia assistir às aulas. A proposta foi de reembolso pelos dias perdidos, mas insisti que eu queria as aulas, por já perdia os ateliers (por causa do trabalho e sem reembolso) e em breve faria um exame na Sorbonne. Mais uma vez ouvi que a escola não poderia fazer nada a respeito e bla bla bla. Só que dessa vez a professora tomou as minhas dores e foi conversar com a administração. Graças a ela, hoje comecei o C1, o último nível. Ela me falou que no começo seria difícil, mas que eu teria mais estímulo para estudar - e que ela tinha certeza eu daria conta. No fim das contas eu não fiquei nem um mês no B2... Agora fico no C1 até o fim do curso, em agosto, mas não tem problema, porque o programa é mais flexível. Dessa vez só tinha homem na sala: três alemães e um americano. Mas tem duas colombianas matriculadas que mataram aula e na semana que vem a Juliana muda de nível também.

Falando em Juliana, sábado teve uma festinha na casa dela para comemorar o aniversário. Ela mora num apartamento enorme na beira do Rhône, com uma família de pai, mãe, uma menina de 10 anos e um menino de 12, e sempre outro intercambista - desde que ela chegou já foi um turco, duas italianas e agora uma sueca. Eu e o Thibaut fomos os últimos a chegar, mas a mesa ainda estava cheia de comida. Peguei o primeiro salgadinho que vi na frente e achei que o recheio era uma folha (tipo rúcula), ou uma alga (não era bom, mas também não era ruim), até que a mãe chegou e me falou que era escargot. Se ela tivesse avisado eu nunca teria experimentado, mas eu não tinha achado ruim, entãi até arrisquei comer o segundo (só que ai eu já sabia, então achei um pouco nojento...).

A família é super simpática. Depois que o Thibaut e o pai descobriram que estudaram na mesma universidade, ficaram um tempão falando de trabalho e negócios. Acho que os dois ficaram felizes com a presença um do outro no meio daquele bando de estrangeiro com um francês meia boca. Mais tarde fomos para um bar. Antes paramos em frente à Ópera para assistir um espetáculo gratuito de dança africana (parece que mais cedo tinha tido música brasileira - leia-se axé). Os franceses foram ao delírio com aquele bando de mulher bunduda rebolando... As coreanas ficaram tentando imitar e nós, brasileiros, ficamos assistindo tudo e rindo.

Domingo eu e o Thibaut fizemos o que a gente adora fazer domingo: sair de manhã, comprar coisas na padaria e tomar café-da-manhã-almoço na beira do rio, voltar para casa e dormir/ver filme e sair a noite para comer. Hoje foi aula, trabalho, estudo e sono. Como os outros dias da semanas serão parecidos, provavelmente só volto a postar semana que vem, com novidades de Paris, da prova da Sorbonne e do verão que cada dia mostra mais a cara...

domingo, 1 de maio de 2011

Auto-ajuda mode on

O que eu mais gosto dessa foto é o momento em que ela foi tirada


No último post eu falei que tinha ido ao correio resolver um assunto urgente, mas não expliquei o que era. Eu não sabia se devia (ou não) falar sobre isso, mas agora percebo que, na verdade, eu preciso falar, uma vez que minha cabeça anda girando a 400 km por hora. É o seguinte: no próximo dia 14 eu vou a Paris fazer uma prova para tentar entrar na Sorbonne. Não lembro direito quando foi que resolvi tentar um mestrado por aqui, mas já faz um bom tempo que ando olhando isso. Primeiro eu pensei em tentar uma bolsa, mas ai eu descobri que deveria ter começado no ano passado. Então pesquisei e vi que as universidades públicas na França também são gratuitas - os estudantes só pagam a taxa de matrícula, que sai por menos de 400 euros.

O segundo passo foi procurar um curso que me interessasse. Peguei uma lista no site campus france dos melhores institutos de comunicação da França e descobri o Celsa, que é uma grande école diretamente ligada à Sorbonne (apesar de o campus não ficar no centro de Paris, ao lado do Panthéon). Melhor ainda, descobri que eles oferecem um mestrado profissional em "Communication politique et des institutions publiques"e que era exatamente o que eu gostaria de fazer como mestrado. Como no Brasil a graduação dura 4 anos e aqui a Licence (que é mais ou menos o que corresponde) dura apenas 3, eu já entraria no segundo ano de mestrado, o master 2 e faria apenas um ano de curso.

O grande problema era que para me inscrever, eu precisaria enviar junto com o dossier um certificado atestando um bom nível de francês, como o Delf, um exame oficial da língua. Para o nível que eu preciso, o B2, a próxima prova é apenas em junho, e as inscrições para o master terminam amanhã, 2 de maio. Olhei a data do exame em todas as cidades da França, olhei todos os outros exames possíveis, mas não, eu não teria tempo de fazer a prova antes do concurso da Sorbonne. Foi então que o Thibaut ligou na universidade e eles falaram que não necessariamente eu precisaria apresentar o certificado antes da prova. Alívio! Pedi à Lyon Belu um atestado de que estou fazendo o curso de francês e já estou no nível necessário para o master, e espeficiquei no dossier que eu ainda farei o Delf. Além disso, tive que enviar meu currículo detalhado em francês cópia do diploma e histórico escolar, duas fotos 3x4, dois envelopes com selo e o número da pré-inscrição feita pela internet (se não me engano foi só isso). Terça coloquei tudo isso no correio e nessa semana ou na próxima devo receber as instruções (mas já sei que a prova é no sábado, 14, de 9h às 13h).

A prova tem duas questões (que devem ser respondidas de acordo com alguns extratos de textos e notícias que eles fornecem). Eles indicam uma bibliografia, mas frisam que o mais importante é analisar a capacidade de articulação e expressão do candidato, o interesse pelo assunto, o nível de informação sobre o cotidiano, e blá blá blá. Eu só comecei a estudar de verdade (a bibliografia), hoje. Então só tenho mais duas semanas para continuar. Ou seja: estou em pânico.

Por outro eu não tive dificuldade alguma de compreensão para ler (textos acadêmicos) em francês e percebi que já estudei tudo isso durante a graduação, então na verdade só preciso fazer uma revisão e treinar a escrita (colocar todos os acentos, prestar atenção nas concordâncias). Depois da prova escrita, lá pelo mês de junho, tem uma entrevista oral. Dia 8 de julho sai o resultado final e, dando tudo certo, o curso começa em setembro.

Outra coisa que eu não sabia e que o Thibaut me falou hoje é que, tendo um master 2, depois eu posso continuar na França e trabalhar na área, afinal, se eles vão investir na sua educação, depois vão querer que você dê algum retorno - não faz sentido eles te deixarem estudar aqui para depois você ir embora, eles querem "guardar os talentos".

Dito tudo isto, explicarei porque estou em pânico. Nos últimos dois meses eu percebi que, apesar de toda a saudade, dificuldade com a língua, falta de amigos, de dinheiro, etc, etc, etc, eu me sinto muito muito feliz aqui e não quero ir embora. Eu amo o Brasil e até brigo com quem desdenha dele em favor da Europa. A questão é que no Brasil eu estava meio perdida na vida, sem saber direito o que eu queria, sem grande motivação e agora eu sei que quero fazer esse mestrado e quero continuar mais um tempo do lado de cá do oceano.

Aqui eu percebo que cada coisa pequena é uma grande vitória. Conseguir um emprego de garçonete, arrumar bicos como baby-sitter, juntar dinheiro para viajar nos fins de semana, saber acentuar todas as palavras, pronunciar direito todos os tipos de E da língua francesa, superar a saudade, chorar de emoção com um email de duas linhas que diz simplesmente "estou morrendo de saudade", chorar mais ainda com alguns poucos cartões de aniversário que chegaram pelo correio, abrir uma conta no banco, conseguir um auxílio moradia de 75 euros por mês, conseguir resolver um problema por telefone, assistir um filme inteiro sem legendas e entender tudo... Tudo isso podia ser tão simples, mas na verdade é tão difícil...

E nessas coisinhas de cada dia eu vou descobrindo tudo o que sou capaz, como eu consigo me virar sozinha, como tem tanta gente que torce por mim (ainda que em silêncio). Também percebo como do lado de cá todo mundo me acha tão simpática e gentil, como ninguém consegue imaginar que aos 7 anos de idade eu brigava com todo mundo na escola e aos 14 eu praticamente não tinha amigos. Porque aqui eu preciso ser simpática e gentil, porque eu sei o tanto de sorte que eu tenho na vida e não tenho o direito de reclamar de nada. Porque também eu tenho pessoas como Genevieve e Thibaut ao meu lado, que me mostram que nacionalidade é apenas o lugar onde você nasceu, que a gente pode ter muito mais em comum com alguém que nasceu a 9 mil km de distância do que com quem a gente conhece desde pequeno, que tem realmente muita coisa que a gente não precisa de um idioma para entender.

E voltar para o Brasil agora significaria interromper todo esse processo de descoberta que vem me tornando uma pessoa muito melhor, mais agradecida e mais feliz. Mais cedo eu falava com minha mãe no skype que tudo que trouxe cabe em duas malas (uma grande e uma média) e o que eu deixei no Brasil (os objetos) não me fazem nenhuma falta. Eu posso ser feliz com um colchão duro num quarto de carpete velho, com um armário sem gavetas e com pouquíssimo espaço para cabide, ou num apartamento de 30m² em Paris. Eu posso ser muito feliz voltando ao Brasil, mas por enquanto eu quero ficar mais um pouco...

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Paris não é a França


Prometi e cumprirei: as traças não tomarão conta deste modesto espaço virtual. Da última vez que escrevi eu estava indo para Avignon e hoje já faz dois dias que voltei de Paris, então tentarei ser sucinta (e é claro que não terei muito sucesso nessa empreitada).

Avignon é maravilhosa. Assim que a gente sai da estação de trem percebe que o centro da cidade é cercado por uma muralha antiga, pois lá dentro tem um castelo, onde moraram alguns papas na época que em que a sede da igreja católica saiu de Roma. O castelo agora é um museu. Enorme. Subindo, subindo, subindo a gente chega à torre, tira fotos, vê a cidade inteira e o Rhône, azulzinho. Depois do castelo a gente vai na famosa ponte de Avignon, que acaba no meio (e é famosa justamente por isso). Então a gente pega um barquinho gratuito e atravessa o rio para chegar a um parque. Por fim a gente sobe uma escadaria gigante e chega em um jardim que parece o céu.

Na volta peguei o TGV pela primeira vez na vida e cheguei em Lyon rapidinho. O Thibaut estava me esperando na estação, mas antes de voltar para casa paramos num restaurante com as outras três brasileiras com quem eu tinha viajado. Claro que a gente não conseguiu falar muito francês e ele acabou sobrando. Mas por um lado foi bom para ele entender como eu me sinto às vezes em meio aos amigos dele. Claro que para mim é muito mais fácil, pois eu falo francês, mas é fato que de vez em quando eles usam muita gíria ou falam muito rápido e eu tenho que conversar com a minha mão.

Domingo foi um dia agradável também, mas sem nada de especial. Segunda fiz baby-sitting mais uma vez na vizinha, mas dessa vez o menino mais novinho estava doente, com febre e vomitando. Tive que trocar a roupa e passar a noite inteira do lado dele. Não foi fácil. Os pais demoraram a voltar, mas no fim deu tudo certo e eu fiquei mais uma vez muito orgulhosa do meu talento para cuidar de criança - principalmente quando a mãe falou que o mais velho tinha ficado feliz de saber que eu ia ficar com eles pela segunda vez.

Terça foi um dia de afazeres domésticos e sono. Quarta foi um dia de mais sono ainda, aliado a uma crise existencial de saudade. Quinta à noite fui a um pub com as brasileiras, pois uma delas estava indo embora. Sexta foi o lindo dia de me preparar para ir à Paris. Arrumar mala, carregar a câmera, não esquecer os bilhetes do trem, o cartão de desconto 12-25 anos, o ovo de páscoa... E ainda chegar na estação com uma boa margem de antecedência. Não é que eu consegui fazer tudo isso? O triste é que, tanto na ida quanto na volta, ninguém veio me pedir minhas passagens...

Graças à esse trem (literalmente) mágico chamado TGV, em duas horas eu percorri 400 km e às 22h do dia 22 de abril de 2011, pela primeira vez eu pisei o pé em solo parisiense. Não sei porque, mas a estação de Paris chama "Gare de Lyon" e logo que a gente chega vê aquele relógio imenso igualzinho nos filmes. Assim que encontrei o Thibaut, minha primeira pergunta foi: cadê a Torre Eiffel?

Ele saiu carregando minha mala de rodinhas e fizemos um pequeno tour pela cidade. Primeira coisa sobre Paris: o metrô daquela cidade é um asterisco - com muitos cabelinhos. Eu achava que Lyon tinha um sistema de transporte eficiente, até conhecer aquilo lá. Só para lembrar: Paris tem menos habitantes que Belo Horizonte. Dá para se perder fácil lá embaixo. A maoiria das estações conecta três, quatro linhas e parece que a gente anda mais para mudar de linha do que dentro do trem, para ir de um lugar a outro. Os bilhetes custam 1,20 (em Lyon é 1,60), mas em compensação os trens são todos velhos e as portas de saída da estação lembram um trem-fantasma.

Pra começar o passeio fomos ao Hôtel de Ville (algo como a prefeitura). Andamos um pouco e chegamos à Notre Dame de Paris. Andamos na beira do Sena e chegamos ao Louvre. De lá vi a Torre Eiffel pela primeira vez, bem de longe... O próximo ponto foi o Arco do Triunfo e, por fim, ela, aquele amontoado de barras de ferro magnífico que o mundo inteiro sonha em conhecer. A hospedagem foi no apartamento da irmã do Thibaut, pois até hoje ele não encontrou um teto para chamar de seu. Uma sala e um quarto razoáveis e uma cozinha minúscula. Mas tinha vista para a Torre Eiffel e, o mais importante, era de graça.

No dia seguinte, acordamos cedo: Louvre. Tem uma fila lá em cima, ao lado daquela pirâmide de vidro super famosa, que demora 4 horas, e outra lá embaixo, cuja existência a maioria dos turistas desconhece. Pegamos essa e entramos em 5 minutos. Descobrimos que era de graça para estudantes com carteirinha e fomos tomar café da manhã. 14 euros um croissant, uma quiche, um pão de chocolate e outra coisinha doce mais um café.

O Louvre não é exatamente um museu de arte. Tem uma galeria gigante do Egito, do Irã, de sei lá onde e, claro, tem a monalisa - lá longe, cercada de pessoas munidas de câmeras fotográficas e, tadinha, bem bem pálida (não se iludam, a cor verdadeira da pele da Gioconda é amarelo). Mas não tem os impressionistas, que ficam todos no Museu de Orsay. Tentamos entrar lá, mas como não sabíamos de uma fila menor, desistimos. Fomos passear na beira do Sena, andamos até um monumento tipo o pirulito da Praça Sete e ao lado estava a Champs Elysées, uma grande avenida onde ficam algumas das lojas mais caras do mundo, com o Arco do Triunfo no fim. Fizemos fila para comprar o melhor macarron (não confundir com macarrão) do mundo, no La Durée (e essa nem foi tão grande e valeu muito a pena).

Depois do almoço fomos à Montmartre, onde fica o Moulin Rouge e todos os sex shops de Paris, mas onde tem também a Sacré Coeur e uma vista bem bonita da cidade. Se vocês já estão cansados de ler, imagina eu depois disso tudo. Fomos para casa dormir e quase meia noite subimos no segundo andar da Torre Eiffel. Nem vou perder meu tempo tentando explicar como é isso.

Domingo fomos à Versailles, mas a fila para entrar no castelo durava quatro horas, então visitamos apenas o Jardim, que já é algo deslumbrante. Fizemos piquenique de ovo de páscoa e dormimos na grama. Na volta entramos no McDonald's para ir ao banheiro e, adivinhem: fila, claro. Voltamos para casa e descansamos um pouco enquanto esperávamos o japonês abrir. Depois assistimos Tropa de Elite (eu sei, eu estava em Paris, mas uma hora a gente precisa repor as energias). De noite fomos dar uma volta a pé, perto de casa, e chegamos ao Champ de Mars, o jardim da Torre Eiffel. Na grama milhares de pessoas fazendo piquenique ou simplesmente bebendo entre amigos.

Segunda almoçamos crepe, fomos ao Jardim de Luxemburgo, ao Pantheon e à Sorbonne. Depois numa parte da cidade que conhecida como "a ilha" (pois é cercada pelo Sena dos dois lados) e paramos numa ponte para assistir um espetáculo de um palhaço de rua. Ele escolheu uma menina qualquer da platéia para ser sua assistente e ela se chamava Fernanda e vinha do Brasil (e não era eu). Depois fizemos fila para tomar o melhor sorvete de Paris (e o melhor sorvete de framboesa do universo) e, em seguida, fomos ao Centro de Arte moderna Pompidou. Rodamos quatro supermercados para achar carne moída para fazer um espaguete à bolonhesa e depois do jantar caímos de sono. Terça 5h da manhã eu estava arrumando minhas coisas e 8h40 da manhã estava em Lyon. Não fui à escola e fui direto trabalhar. Voltei em casa e tive que sair de novo para resolver um assunto urgente no correio.

No fim das contas, Paris é uma cidade maravilhosa, mas não é a França. A quantidade de turistas e filas é insuportável, tem brasileiro em TODOS os cantos e o idioma que menos se escuta é francês. A cidade tem um ar meio velho, às vezes maravilhoso, às vezes mal conservado. Amei o passeio e o fim de semana, mas fiquei feliz de ter escolhido Lyon para morar. Aqui é mais tranquilo e organizado; tem alguns estrangeiros, mas na rua a gente escuta francês o tempo todo. Posso dizer sem medo de estar cometendo uma gafe que quem visita Paris conhece Paris. Mas quem quer conhecer a França de verdade tem que ir em pelo menos mais uma cidade...

Fim!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As sobremesas intocadas

Só recebi a foto depois do post (o último), mas aí está a prova do meu passeio de bicicleta!


Desculpem o momento auto-ajuda, mas é fato que o vento anda soprando totalmente a meu favor ultimamente. Depois que comprei a passagem para Paris, a Juliana me chamou para ir para Avignon sábado (amanhã), mesmo esquema de Dijon. Ela me falou que a passagem custava 30 euros ida e mais 30 volta, mas como eu fiz um cartão para ter desconto em viagens de trem (para jovens de 12 a 25 anos), encontrei a ida e volta por 35 euros. Não é tanto dinheiro, mas eu ganho pouco, tinha acabado de comprar a passagem para Paris, então hesitei por um instante. Depois pensei melhor e comprei a passagem. 30 minutos se passaram e Genevieve me ligou falando que uma vizinha precisava de baby-sitter para quinta (ontem) e ela tinha me indicado.

Em seguida a vizinha me ligou, combinamos tudo e ontem fui lá. Um bebê de 1 ano e meio e um outro menino duns 3, 4 anos. Os dois muito fofinhos. Cheguei no apartamento e eles estavam acordados, então tive que colocá-los para dormir e, porque não, contar historinha - em francês, coisa linda. Uma hora depois os dois estavam em sono profundo e fiquei no gtalk, usando o macintosh com uma tela gigante que ficava na sala de televisão. Ganhei o mesmo tanto que ganho por dia na Brasserie... Como era na vizinha, em 3 minutos eu estava de volta e ela pegou meu telefone para quando precisar dos meus serviços novamente.

Além do dinheiro, o que me deixa feliz é perceber que eu tenho jeito com criança, apesar de tudo que meus amigos me falavam quando eu pensava em ser au pair. Só para lembrar: os dois meninos nunca tinha me visto na vida, ficaram sozinhos comigo em casa e dormiram tranquilos e satisfeitos.

Na Brasserie, a semana foi bem tranquila. Apesar do sol continuar lá brilhando, o frio voltou. E quando faz frio, todo mundo se esconde. A regra só não vale para a sexta, porque... Bom, porque é sexta, obviamente. Durante o trabalho, é tudo muito corrido e nem tenho tempo de conversar com as outras pessoas que trabalham lá. Uma das garçonetes sempre almoça comigo, mas ela não é muito de conversar. Tem alguns dias em que a sogra da Chrystel, minha chefe, e mãe do Philip, o chefe de cozinha, vai ajudar no caixa. Ela trata todo mundo pour "vous", inclusive a Chrystel e acha que eu estou lá para servi-la também. Então quando ela me manda fazer algo eu obedeço, mas quando fico um pouco perdida e pergunto alguma coisa ela só me diz: "eu sou a caixa, não tenho nada a ver com isso". Mala. Para não dizer coisa pior.

Além de levar os pratos nas mesas, como eu já disse, ajudo a lavá-los, o que significa colocar no lava-vasilhas, tirar e ver se tá limpo mesmo - se não tiver, dar um jeito de deixar limpo - enxugar e guardar. Nesse processo, todo cada dia aumenta o meu desprezo por pessoas que desperdiçam comida. Nunca gostei de quem deixa metade do almoço no prato, mas agora tenho três vezes mais motivos para detestar essas pessoas. Primeiro: as outras garçonetes vem com pressa, não acertam a lixeira todas as vezes, e a pia vai virando um nojo de resto de comida misturada. Segundo: tem umas sobremesas que voltam intocadas quando eu estou morrendo por um chocolate. Terceiro: tem gente que pede um prato cheio de coisas para comer duas batatas fritas, porque não vai almoçar no Spa?

Na escola, eu finalmente passei para o B2! Como hoje foi o último dia, escrevi um cartãozinho para a professora e outro para a Ada, a canadense que no começo me deixava impaciente, mas que no fim me tratava tão bem que eu aprendi a admirar e acabei me afeiçoando. Ela me disse que tem uma casa grande no Canadá e mora sozinha, por isso a família e os amigos ficam sugerindo que ela mude para um apartamento. Falei com ela para receber estudantes estrangeiros em casa, igual a Geneviève. Quem sabe ela não vai pensar a respeito?

Hoje cheguei em casa e fui fazer a unha, que tava uma coisa realmente horrorosa depois de tanta lavação de vasilha. Nesse processo deixei a TV ligada e percebi que minha compreensão oral está realmente muito melhor. Percebi também a quantidade de reality show de culinária que existe por aqui. Não são programas de receita, como Ana Maria Braga, são competições com gente comum ou chefes de cozinha, mas tudo muito sofisticado. No geral são interessantes, mas é cozinha demais...

Daqui a pouco o Thibaut chega em Lyon, mas ele não vai para Avignon comigo, pois os pais dele vão passar um mês no Nepal e ele vai passar o sábado com eles. Como ele chega meia noite, comprei um red bull para tentar ficar acordada. Custou 1,5 (não foi um energético genérico, foi red bull mesmo)... Espero que funcione. Espero também ter muita coisa para contar na segunda! Bom fim de semana a todos!