quinta-feira, 31 de março de 2011

I'm the champion, my friends

Esse post começa com uma música:


Foi essa a trilha sonora que ouvi (na minha cabeça) hoje às 15h26, quando saí da Brasserie de L'Europe, na praça de mesmo nome. Eu consegui um emprego! Sim, um emprego. Tudo que eu tenho que fazer por enquanto é levar os pratos até as mesas, perguntar quem pediu salmão e quem pediu atum - ou quem pediu carne com legumes e quem pediu com batata frita - sorrir, desejar bom apetite, levar a cestinha de pão e, no fim do expediente, tirar e colocar os copos do lava-louças, secar e colocar tudo no lugar. De meio dia às três da tarde, de segunda a sexta. Não sei ainda quanto vou ganhar - mas o salário mínimo aqui é 9 euros por hora, então não será menos que isso.

Sim, eu sei, qualquer pessoa com dois braços e duas pernas e um mínimo de inteligência pode fazer isso... Mas acho que nem quando eu consegui um estágio em redação eu me senti tão vitoriosa. Porque quando eu consegui o estágio lá todo mundo me falava que sim, eu conseguiria (assim como quando eu passei no vestibular e etc, etc, etc). Só que hoje eu conquistei algo contra todos os prognósticos. "Oui, j'ai réussi!"

Bom, mas deixa eu explicar como eu cheguei até aqui. Segunda, voltando do office de imigração, um email me deixou muito feliz. Isso porque na semana anterior entrei num site de anúncios e saí mandando CV's a torto e a direito, e na segunda uma das pessoas me respondeu: entrevista terça a tarde. Vitória! Alguém viu que eu era estrangeira, estudante, sem experiência, ficaria só até agosto, e ainda assim me achou qualificada. Só que, quando desci do metrô, na terça, vi que eu tinha ido parar em uma parte da cidade não tão bonita. Em seguida, vi que o restaurante, na verdade, era um Kebab (uma rede de fast-food de origem árabe ainda mais low-cost que o McDô). Por fim vi que o dono era um turco e só queria uma garçonete atraente para conquistar os clientes. Ok, eu preciso de dinheiro, mas não de me humilhar...

Nada feito. Chegando em casa, entrei no mesmo site e vi um anúncio de uma brasserie (é o termo para designar algo que é meio bar, meio restaurante). Pus o endereço no google: voilà! 5 minutos a pé da escola, no "arrondissement" mais caro de Lyon. Mandei o CV por email, mas por via das dúvidas resolvi passar lá no outro dia de manhã, antes de ir para a aula. E não é que a Madame Tines foi com a minha cara? Teste marcado para sexta-feira. Meia hora hora depois ela me liga: "não, teste amanhã, quinta (hoje)".

Hoje às 11h30 em ponto eu estava lá. O lugar é enorme, tem várias mesas. O ambiente é super agradável e os pratos dão muita água na boca. Madame Tines se chama Chrystel, e seu marido, Philip, é o chef. Ele faz todos os pratos, mas é o ajudante que faz as pizzas e os sanduíches. As outras duas garçonetes são bem simpáticas e todo mundo parecia disposto a me ajudar. Passei três horas em pé. Andando para lá e para cá e, eventualmente, subindo uma pequena escada. Não errei o número de nenhuma mesa. Os clientes me entenderam quando falei o nome dos pratos. Não quebrei nenhum copo, nenhum taça, servi o café direito. Enfim, deu tudo certo. E no fim veio o veredicto: "você volta segunda, porque amanhã outra pessoa vem fazer o teste. Mas não se preocupe que a vaga já é sua. E segunda eu te pago pelas horas de hoje. Você vai vir almoçar aqui? Se você vier eu pago o seu almoço, mas você tem que chegar às 11h30. Ah, e arrume uma calça preta e venha de tênis, é mais prático. Você tem alguma dúvida?" Eu quis perguntar quanto ela ia pagar, mas em vez disso falei: "será que posso levar um cardápio pra estudar em casa? Tem algumas palavras que eu não sei o significado..."

Depois disso, a glória! Depois da glória, vi que eu estava com fome e muito, mas muito cansada. Fui à C&A comprar alguma calça de 15 euros, mas minhas pernas não aguentavam mais. Vim para casa. (É eu sei, eu agora vou emagrecer...)

p.s.: a parte ruim disso tudo é que vou ter que abandonar os ateliês da escola, que já estão pagos até agosto. Até 11h temos aula normal. De 11h15 à 12h45, é o tal do ateliê. Menos gente na sala, temas mais vagos, meio papo de boteco, meio corre-frouxo, mas está pago e eu quero fazer. Tentei negociar, pedi para fazer em outro horário, trocar para alguma aula particular, mas não tem negociação. Não sei se é porque eles são desorganizados, tem uma administração falha, ou se são apenas mercenários mesmo. Pelo aprendizado, realmente não faz diferença, mas se eles tivessem boa vontade tudo se resolveria (como é bom saber usar o condicional!). Nessas horas eu sinto muita falta do "jeitinho brasileiro", que muitas vezes atrapalha tudo, mas em algumas situações significa apenas uma maneira razoável e humana de resolver um problema.

p.s: o salário vai dar para pagar as contas, mas vou continuar tendo que regrar tudo. Logo, se aparecer algum bico de baby-sitting estou dentro. E também me inscrevi em um site para fazer traduções francês-português, inglês-português...

segunda-feira, 28 de março de 2011

A rua do primeiro filme

Dijon: construções medievais e chuva de granizo

Sabe o sol que eu mencionei no último post? Pois é, já foi embora. Ele durou até sexta, e diz a previsão do tempo que só volta sexta que vem. Mas enquanto o tempo vai ficando cada dia mais feio, meu (bom) humor vai voltando cada dia mais forte. Recapitulando: quinta fui na "noite discoteca" da escola. Bem mais ou menos. Lugar longe, bebida cara, DJ duns 60 anos de idade e 23h todo mundo (leia-se adolescentes italianos) desapareceu. Pelo menos acordei cedo no dia seguinte.

Sexta foi um dia movimentado. Como o tema da aula da semana passada era cinema, nosso atelier (a segunda parte da aula), foi uma visita ao Instituto Lumière. O nome é uma homenagem aos irmãos Lumière, os inventores do cinema, que por acaso moravam aqui em Lyon (mas na verdade eles nasceram em Bensançon). O Instituto é dividido em duas partes: um cinema, onde passam filmes mais alternativos e antigos - que geralmente não passam nos cinemas comerciais -, e um museu, instalado na antiga casa da família Lumière.

O lugar é fascinante. Cheio de equipamentos e filmes antigos, que fazem a gente se sentir realmente na época da descoberta do cinema. Coisas que a gente acha super modernas, como fotografia panorâmica e 3D, na verdade já existem há muito tempo e estão lá guardadas pra gente ver e se deslumbrar. Mas o mais legal mesmo é ir até a "rua do primeiro filme" (sim, esse é o nome da rua). A explicação é óbvia: foi naquele endereço que Louis e Auguste Lumière gravaram o primeiro filme da história. O "enredo" é o seguinte: trabalhadores saindo duma fábrica. Dura 45 segundos. Mas foi gravado em 1895...

À tarde fui à universidade procurar o Instituto de Estudos Brasileiros. Estava fechado. Então conversei com uma moça do Instituto Camões, que fica ao lado. Ela me falou que por enquanto eles (do instituto brasileiro) não estão precisando de ninguém para trabalhar lá, mas me passou o email da coordenadora, que é brasileira. O campus fica bem longe, a 5 estações de metrô e mais 15 de tramway do centro. Em volta de cada prédio tem uns jardins, mas não dá pra dizer que é um lugar bonito. Dentro dos prédios reina um silêncio constrangedor e a maioria das portas ficam fechadas. Já que eu tinha ido até lá, aproveitei pra conhecer o Instituto de Comunicação, onde tem o curso de jornalismo... Me interessei bastante por um mestrado profissional em gestão editorial e internet. Mas o ano letivo só começa em setembro e até lá dá para pensar e pesquisar mais um pouco.

À noite fui fazer o baby-sitting e foi muito tranquilo. A bebê já estava dormindo quando cheguei e só acordou uma vez na noite. Dei a chupeta e ela parou de chorar, mas continuou com o olho arregalado. Então a peguei no colo e comecei a embalar, até que ela dormiu e não acordou mais. Dormi na casa da família e no dia seguinte Genevieve me buscou e levou direto para a estação de trem - mas antes passamos em casa para eu trocar de bolsa. Eu estava toda feliz porque tinha chegado 20 minutos antes da hora, mas quando fechei a porta do carro lembrei que tinha esquecido o bilhete. Voltamos em casa correndo e eu entrei no trem faltando um minuto para ele sair. Bom, acho que ninguém nem fica mais surpreso quando eu faço coisas desse tipo...

Dijon é uma cidade lin-da! Bem pequena, mas cheia de coisas lindas para ver - ela foi uma das poucas que não foi destruída com a guerra. Chegando lá fomos direto procurar um restaurante. Depois do almoço andamos, andamos e andamos. Depois paramos num café e eu comi um tiramisu divino. Em seguida tentamos visitar o museu de belas-artes, mas faltava apenas 20 minutos para ele fechar (porque no frio ele fecha às 17h e não às 18h, como no verão). Então fomos ao museu da vida Bourguignonne (Dijon é a capital do departamento de Borgonha), que também estava para fechar. Fizemos uma visita dinâmica. Por fim paramos em outro café para ficar bebendo cerveja até a hora do trem. Cheguei em Lyon 23h, morta de cansaço, mas ainda entrei no gtalk para falar com o Thibaut e depois com minha mãe.

Ontem acordei tarde e o horário mudou. O que significa que agora temos uma diferença de 5 horas com o horário de Brasília. A tarde Genevieve me levou para ver um barco que funciona como bar (não sei se já mencionei, mas aqui têm pessoas que moram em barcos, como em Amsterdam), porque eles estavam precisando de uma garçonete. Estava fechado por causa da chuva. Em seguida fui ver o Thibaut, que tinha acabado de chegar de Madri e ontem mesmo já ia para Paris - e hoje para Londres...

Desde a semana passada, tem uma americana na minha sala que só assiste aula segunda-feira. Tem dois anos que ela mora aqui com o marido (americano) e eles têm dois filhos. Me ofereci para fazer baby-sitting e ela ficou muito feliz, pois a menina que costuma fazer esse serviço para ela está indo embora para a Austrália.

À tarde fui ao ofício de imigração, fiz um exame médico e ganhei meu "titre de séjour" (algo como "título de permanência"). Não sei direito para que serve, mas sei que é importante. Como o médico me mandou emagrecer, comprei legumes para o jantar, em vez de pizza ou lasanha congelada. Ele falou que minha pressão estava no limite para ser considerada como alta. Expliquei para ele que sempre tive pressão baixa, então ele falou que talvez fosse momentâneo, mas me recomendou comer menos sal. Mas o coração está batendo direitinho e o pulmão está bem limpinho, de acordo com a radiografia que eu fiz, logo não se preocupem, que eu vou sobreviver.

Bom, por hoje é só pessoal!

p.s.: dessa vez comprei uma mostarda para a Genevieve, mas espero realmente que na próxima viagem não ocorra nenhum imprevisto!

quinta-feira, 24 de março de 2011

É primavera

Na verdade a foto não tem nada a ver com o post, mas..... bom, quem é brasileiro entende.

Europeu gosta muito mais de sol que brasileiro. A temperatura esses dias (no fim de manhã e à tarde) tem chegado a 18 graus e por causa disso todo mundo resolveu sair na rua. Na escola, sempre me perguntam se vou "aproveitar"o sol, então ontem perguntei para a professora o que se deve fazer quanto está "tão quente". A resposta eu vi nas ruas: piquenique no parque, piquenique na grama da praça, piquenique na beira do rio, bares lotados de cadeiras nas calçadas, pessoas e mais pessoas nas ruas, todas felizes e sorridentes - mas com roupa de frio. Porque assim, se você andar debaixo do sol até sente um calorzinho, mas ainda não ouso sair de casa com menos de duas blusas de frio (pelo menos, creio eu, a época do casacão acabou).

Agora eu realmente entendo o clichê das quatro estações (frio no inverno, folhas caindo no verão, flores na primavera e calor no verão). Até semana passada, folha em árvore era uma coisa que simplesmente não existia por aqui. Ontem, andando pela cidade à procura de anúncios de emprego, pude constatar que Lyon está repleta de flores - e onde não tem flor tem qualquer coisa parecida brotando. Viva a minha tão aguardada primavera!

Apesar do tempo maravilhoso e da troca de estação, o começo da semana não foi nada fácil. Segunda-feira a Genevieve viu na padaria aqui de Ste Foy que estavam precisando de alguém para trabalhar como balconista. Ela ligou, mas o cara não atendeu, então ela deixou recado. No dia seguinte eles se falaram e ele pediu para eu ligar. Liguei, e ele falou pra ir lá às 18h levar CV e carta de motivação. Cheguei uns 20 minutos antes do horário e fiquei sentada na praça treinando o que ia falar. Acho que me saí bem, ele foi simpático, parecia estar realmente interessado, mas ele procurava uma pessoa que fosse ficar mais tempo (mais de seis meses), então nada feito.

Em parte graças à TPM, em parte porque mais cedo eu liguei para duas vagas e ouvi outros dois "nãos", bateu um desânimo enorme. Sentei na pracinha de Ste Foy, fiquei vendo a vista, pensando na vida e me desesperando. Tinha combinado de ir ao cinema com o Thibaut, mas mandei uma mensagem falando que tinha desistido. Então ele e a Genevieve, como sempre, fizeram todo o esforço do mundo para me animar. Na verdade, acho que naquele momento só ia servir mesmo a minha mãe, mas fiquei feliz mais uma vez de ter os dois por perto.

Ontem, como contei ali encima, saí andando e procurando anúncios. Imprimi vários CV's e cartas e comprei várias pastas de papel. Achei um anúncio logo no começo do caminho. Entrei, perguntei se aceitavam estudantes e o cara disse que sim. Então entreguei o CV super empolgada, mas ele viu que eu não tinha experiência na área e me devolveu. Andei mais um pouco, não achei nada, fiquei com dor de cabeça e vim embora. Hoje fiz a mesma coisa, logo após a aula, mas dessa vez mais perto da escola. Achei uns 50 restaurantes no caminho, mas nenhum anúncio. Mas valeu a pena para conhecer a cidade além do centro.

Mas a verdade é que, desde que pisei o pé em solo europeu, cada dia eu invento uma nova profissão para mim: professora de português, garçonete, balconista de padaria, babysitter, babá, passeadora de cachorro... A mais recente ideia foi virar passadeira. Simples, eu passo roupa super bem, os franceses passam super mal, eles pagam caro para quem se anima a fazer isso por eles, porque não? Voltei para casa para fazer anúncios e sair pregando por aí, mas descobri que existe um instituto de língua portuguesa em Lyon (na verdade numa cidade colada em Lyon que chama Bron e é bem longe do centro) e no site deles encontrei alguns anúncios procurando estudantes que falam português, colaboradores para a rádio luso-latina e coisas do tipo. Mandei email para todos e fiz um anúncio de aula de português. Amanhã vou lá ver se acho alguma coisa e pregar os anúncios. Semana que vem volto a olhar anúncios de garçonete e se nada der certo vou realmente tentar a história de passar roupa.

Acho que não mencionei, mas amanhã vou fazer um bico de baby-sitter para a filha da amiga da Genevieve. Não sei quanto eles vão pagar, mas como vou ganhar algum dinheiro, resolvi me dar ao luxo de ir para Dijon no sábado com a Juliana. É a cidade da mostarda e fica a duas horas de trem. A passagem custou 40 euros ida e volta. Ontem o Thibaut foi para Madri e me disse que pagou o mesmo preço na passagem de avião e que o vôo dura duas horas - é, eu sei, também acho que Madri deve ser muito mais legal, mas...

Hoje tem uma "noite discoteca" que a escola está organizando. Acho que é porque essa semana chegaram 48 adolescentes (ou seja, barulho) italianos (ou seja, duas vezes mais barulho) na escola e eles resolveram fazer algo para entreter a meninada. Mas todo mundo está indo, inclusive eu, uma vez que a entrada custa 5 euros, com a primeira bebida inclusa. Outro grande motivo para eu querer ir é que várias das pessoas pelas quais eu estava me afeiçoando estão indo embora, inclusive as alemãs e a holandesa que vieram no meu aniversário.

Essa semana chegou mais uma brasileira na minha sala, mas ela entra muda e sai calada e tudo que sei sobre ela é que ela se chama Karina, estuda moda e vai ficar um mês em Lyon. Chegou também uma suiça de cara fechada cujo nome nem as alemãs sabem pronunciar. E uma polonesa que também não parece ser muito legal. Vamos torcer para que semana que vem seja diferente.

P.s.: depois tenho que fazer um post inteiro sobre à aula de ontem, quando aprendi a expressão "les bobos" - abreviação de "bourgeois bohème" ou, em outras palavras, o termo em francês para designar todo esse pessoal alternativo que trabalha com comunicação, design, moda e que no Brasil a gente chama de "cult", "indie", ou qualquer coisa parecida.

domingo, 20 de março de 2011

Ma considération distinguée

Estrogonofe de camarão = 4€04

Por que eu mudei o layout do blog? Primeiro e, principalmente, porque a segunda frase estava errada. Segundo, porque não ter dinheiro é sim um problema. Os dias de semana em Lyon são ótimos, cheios de coisa para fazer, cheios de gente na escola, festas, eventos, filmes. Mas nos fins de semana todo mundo viaja. Como ainda não tenho emprego, preciso pagar aluguel e comer, tenho que ficar aqui.

Eu quis voltar ao restaurante onde estavam precisando de garçonete na quarta, mas só voltei na quinta, pois além do CV eu tinha que fazer uma carta de motivação. Pra fazer isso, é preciso seguir algumas regras, ser bastante formal e, porque não, um pouco hipócrita. No fim você sempre tem que dizer coisas como: no aguardo de uma resposta de vossa parte, peço que aceite, senhor, "l'expression de ma considération distinguée". O Thibaut foi me ajudar a escrever mas, na verdade, ele fez tudo sozinho e eu fiquei olhando - e achando muito idiota e desnecessário. "Mas na França é assim", ele me disse. Fazer o quê. Na quinta-feira rodei uns cinco quarteirões pra achar uma pasta de papel e, chegando ao restaurante, um outro garçom me explicou que, na verdade, eles precisavam de alguém pra ficar tempo integral (que aqui significa 35 horas por semana) e, no momento, não estavam aceitando estudantes.

Fiquei feliz de pelo menos ter tentando alguma coisa de fato, de ter terminado o CV e de ter essa tal carta de motivação, que vai servir para todos os outros restaurantes que eu for. Peguei o jornal para olhar outras vagas, mas o dia bom para fazer isso é terça, logo não encontrei muita coisa em cujo perfil eu me encaixasse.

Na quarta, voltando para casa, lá pelas 23h30, peguei o metrô até a estação saxe-gambetta, onde eu pegaria a linha D até Bellecour, para então pegar o ônibus. Tudo isso levaria no máximo 15 minutos, considerando que a noite os intervalos entre um trem e outro são maiores. Mas cheguei em saxe-gambetta e estava tudo parado. Confusão. Pessoas discutindo e olhando para o trilho. Cheguei perto e tinha um cara caído lá embaixo. Ele estava encostado no canto, com as pernas próximas ao metrô, mas não consegui ver o rosto. Fiquei meio em choque na hora, pois não sabia se ele estava vivo, se estava bem. Como eu não ia conseguir chegar a Bellecour a tempo, dormi na casa do Thibaut e no dia seguinte acordei super cedo para vir em casa tomar banho e buscar minhas coisas antes de ir para a aula. Curiosamente, peguei a mesma motorista na vinda e na volta.

No dia seguinte li no jornal que o cara tinha 62 anos, perdeu o equilíbrio e caiu. Mas, "milagrosamente", de acordo com o jornal, ele só teve algumas lesões nas pernas e está bem. Fiquei muito muito feliz de ler isso e até agora acho muito bizarro eu ter presenciado tudo.

Sexta antes de vir para casa comprei um pouquinho de camarão, um micro pote de creme de leite e molho de tomate (tudo por 4 euros e 4 centavos) e fiz um estrogonofe delicioso. Só dentro do ônibus lembrei que não tinha comprado nada para sábado e que não tem nem padaria perto da minha casa. Mais uma vez pensei seriamente em me mudar. À noite eu ia sair com o Thibaut, mas a irmã dele resolveu fazer uma reunião de família de última hora e ele foi para Annecy, a duas horas daqui, onde tem um lago maravilhoso e enorme e uma montanha de 4 mil metros de altura que ele foi escalar com as irmãs. (Mas ele disse pra eu não me preocupar porque eles têm um aparelho para se encontrar debaixo de uma avalanche). Supér.

Fiquei em casa vendo "Le petit Nicolas", uma comédia infantil muito fofinha. Coloquei legenda, mas deu para entender tudo sem ler na maioria das vezes. À tarde fui almoçar no Mc Donalds e a cidade estava um caos, cheia de manifestações, greve de ônibus, engarrafamento. Chegando na beira do rio o motorista parou e disse que não ia até a praça Bellecour, e todo mundo teve que descer e seguir a pé. Encontrei a Juliana e fomos visitar o museu de miniaturas, na Vieux Lyon. O lugar é incrível, além de miniatura de tudo que a gente pensar e mais um pouco, todas perfeitas, ele tem várias coisas de cinema, como bonecos originais dos Greemlins, cenários originais de filmes, miniaturas e outras coisas que eles usam para fazer truques, cópias em latex de atores para cenas de violência, armas, sangue falsificado, monstros, robôs... Muito muito legal. Tirei algumas fotos e vou postar depois.

À noite fomos para um bar e um Chileno da escola foi nos encontrar. Morri de saudade dos tira-gostos brasileiros, pois aqui comida de boteco significa picles e legumes em conserva, queijo fedido e pão com manteiga. Depois fomos para um pub e dançamos um pouco. Hoje fui passear em Ste Foy e descobri que tem uma padaria a menos de 10 minutos a pé. Vi um anúncio de uma família procurando babá, liguei, mas eles me falaram que já tinham encontrado alguém. Agora a noite vou sair com o Thibaut e amanhã voltar para a luta da procura de emprego.

Hasta luego!

quarta-feira, 16 de março de 2011

Joyeux anniversaire

Genevieve tinha cismado que eu tava fazendo 23 anos... Bom pra mim! hehe

Finalmente tenho um computador para chamar de meu (e com todos os acentos que preciso). Ele quase chegou na segunda, de presente de aniversário, mas aqui na França os prédios não tem interfone (sério!), então aconteceu um pequeno desencontro. Na porta de cada prédio é preciso digitar um código para abrir a porta. Se você convida alguém para vir na sua casa, tem que contar o código para essa pessoa. Se convida dez pessoas, tem que contar para todas elas. Se alguém vem fazer entrega, tem que dar o código para o entregador...

Sabendo disso, na segunda à tarde liguei para a Sony e informei o código - e ontem foi um dia muito feliz porque meu ''ordi'' (ordinateur) chegou. Mas enfim, vamos recapitular desde o fim de semana. No sábado, como eu tinha contado, o Thibaut veio almoçar aqui. Fiz panquecas e, obviamente, ele e a Genevieve adoraram, porque eu cozinho super bem e sou muito modesta. Depois fomos ao cinema e dessa vez não entendi tão bem o filme, porque os atores falavam mais rápido e usavam uma linguagem demasiadamente coloquial. Mas o cinema era muito simpático: salas bem pequenas, que cabem menos de 50 pessoas, uma tela bem pequena (porque a gente fica bem perto dela), muito fofo! Depois fomos a um restaurante japonês onde os pratos ficam passando em esteiras e quando você gosta de alguma coisa é só pegar e comer.

Domingo estava chovendo, eu acordei tarde, passei o dia inteiro com preguiça e só no fim da tarde fiz algo de útil: comecei a preparar a comida do aniversário! Na segunda, grande dia! Cheguei na escola e todos vieram me cumprimentar. A canadense até comprou uns chocolatinhos e um cartãozinho de presente. Na hora do intervalo, alguém perguntou quem era a Fernanda e falou que era para o pessoal da minha sala esperar mais um pouco antes de voltar do intervalo. Nisso a professora chegou com um bolinho e cantamos parabéns. Depois ela me contou que foi a Genevieve quem preparou tudo. (Eu sei, dei uma baita sorte de vir morar com ela e sou muito feliz por causa disso).

Depois da aula a Juliana veio me ajudar a preparar tudo: torta de frango (um dia a aula era sobre comida e a professora perguntou o que a gente conhecia como recheio de torta. Falei "frango" e ela ficou horrorizada), pastel frito (em francês nem tem um nome para isso), brigadeiro e bolo de cenoura com cobertura de chocolate. Vieram três alemãs, que me trouxeram flores, um livro de poesias em francês e um cartão escrito em alemão, a holandesa, que trouxe um drink super colorido, o suiço, que também trouxe flores, e o Thibaut, que chegou meia hora mais cedo para trazer leite porque eu ia precisar para fazer a cobertura do bolo e não tinha aqui em casa.

A Juliana tinha trazido uma cachaça (que ela trouxe do Brasil pra família dela, mas eles não bebem), então fizemos caipirinha e eles adoraram. Todo mundo comeu bastante. Mais tarde tocamos samba, ensinamos a gringaiada a dançar funk (bonde do tigrão), e rimos bastante. Genevieve ficou a maior parte do tempo no quarto, mas volta e meia ela vinha na sala e ficava tirando fotos (que em breve estarão disponíveis em algum lugar da internet). Como o último ônibus saía meia noite, todos foram embora 23h e pouco. O Thibaut ficou e me ajudou a arrumar tudo. Depois ainda entrei no skype.

Ontem eu era puro sono na aula. Mas de noite foi aniversário de uma das alemãs e eu "tive que ir". O lado bom foi que, no bar onde fomos, que fica numa rua cheia de bares, estão precisando de garçonete. Conversei com um cara lá do caixa e expliquei que eu era brasileira e não tinha experiência, mas ele falou que o que conta é a motivação e disponibilidade. Hoje preparei o currículo e a carta de motivação e amanhã saindo da aula passo lá. Talvez eu tenha que trabalhar até tarde, quando os ônibus não passam mais, e talvez isso signifique ter que procurar outro lugar para morar. Fico muito muito triste de pensar em mudar daqui, pois a Genevieve é "super"! Por outro lado, aqui não tem nem padaria perto e às vezes é bem chato ter que voltar para casa sempre meia noite (nem um minuto a mais, nem um a menos).

Mas ainda não sei de nada. O importante é que estou vendo uma porta aberta e o vendo anda soprando super a meu favor. Me xinguem se eu reclamar de qualquer coisa, pois minha vida por aqui está ótima!

Bises et à bientôt!

sexta-feira, 11 de março de 2011

Onde faz calor

Meu computador nao chegou, por isso estou meio sumida. Acho que entendi o email da Sony errado (ontem era o dia que o computador saia da fabrica e nao o dia que chegaria para mim). Mas acho que da semana que vem nao deve passar. O problema é que ele vem do Japao, com essa historia de terremoto pode ser que atrase.

Alias, falando em Japao, hoje me dei conta que eu nao sei mais o que se passa no mundo. No Brasil eu sempre sabia das noticias, via TV, lia jornais. Aqui eu nao consigo fazer isso. Eu nao sei o horario do jornal da televisao, eu demoro um seculo pra ler o jornal escrito (as revistas entao…). Mas tambem é verdade que eu passo muito menos tempo na frente do computador – tudo tem suas compensaçoes.

Todo dia tem alguem distribuindo jornal gratis no metro. Geralmente eu pego um. Mas é um tabloide (quando o jornal é daqueles pequenos) regional, entao tem mais noticias sobre Lyon mesmo. Tambem nao é dificil encontrar revistas gratis. Mas, logico, nunca é nada muito profundo. Ontem, lendo algumas coisas que eu peguei na rua, tive a ideia de mandar um email para o Lyon Plus, o tabloide que eu leio todo dia, e pedir pra fazer uma visita a redaçao. Vou pedir ajuda a um frances e ver se faço isso ate semana que vem.

Essa semana foi cansativa. Como a professora nao foi segunda, terça, quarta e quinta tivemos aula a tarde tambem. Em uma dessas reposiçoes, alguem perguntou sobre o carnaval. Eu e a Juliana começamos a falar como era, ate que a holandesa falou que nada Holanda tem um carnaval brasileiro, mas que é visto de maneira meio pejorativa, porque todo mundo sempre esta ‘pelado’. Dai uma das alemas perguntou, em tom ironico, se a gente sempre andava com pouca roupa no Brasil. Falei que sim, mas porque faz muito calor e expliquei que ninguem vai trabalhar de biquini. E falei tambem que é preciso conhecer a historia de cada lugar para entender porque as coisas sao do jeito que sao.

Nisso, a gente começou a falar sobre os estereotipos de cada pais e a aula foi sobre isso. Foi bem interessante. Realmente, a imagem do Brasil no exterior ainda é muito associada a pornografia, sensualidade e erotismo. Por outro lado, eu meio que achava que a Holanda era a terra do oba oba, onde todo mundo acha normal fumar maconha e a holandesa me explicou que, na verdade, quem fuma mesmo sao os turistas e que a populaçao do pais nao fica muito contente com toda essa permissividade.

A canadense tambem falou bastante sobre o canada (definido por mim como Estados Unidos mais simpatico) e as alemas um pouco sobre a Alemanha. Mais pro fim da aula, a professora perguntou o que a gente tinha de estereotipo sobre a França. Entao eu tomei coragem e perguntei se eles realmente nao tomavam banho. Ela disse que é verdade que os mais velhos nao curtem muito um chuveiro, mas que a populaçao mais nova vem adquirindo o habito de um banho por dia (apesar de que alguns ainda o fazem dia sim, dia nao).

Tambem perguntei porque o toalete era separado da sala de banho e porque sempre tem cartazes (de propaganda) antigos pregados na parede do toalete e se todo mundo sempre joga o papel higienico na privada. Ela disse que o toalete separado é mais pratico : se alguem resolver tomar banho o outro ainda pode fazer suas necessidades (ate que faz sentido). Os cartazes, ela nao entendeu muito que era meio bizarro e disse que era "decoraçao ". Ja o papel higienico, realmente, é assim em toda a Europa.

As alemas sao legais, principalmente a Andrea, que chegou na escola junto comigo. Mas uma delas que chegou ha menos tempo as vezes é muito arrogante e fala de tudo que fica fora da Europa (ou ate dos paises mais pobres da Europa) com um certo desprezo. E elas falam muito alemao na sala - acho isso uma baita falta de respeito com a professora. Aqui na França, e mais ainda na Holanda e na Alemanha, eles acham que Portugal, Espanha e Italia sao o caos e se referem a esses paises como "os lugares onde faz mais calor". Ou seja, pra bom europeu calor é sinonimo de subdesenvolvimento.

Nesse mesmo dia sai com o Thibaut e fomos ver um filme chamado "Les femmes du sixième étage", algo como "As mulheres do sexto andar", sobre as espanholas que trabalhavam como empregadas domesticas na França ha uns 4 seculos. Fiquei muito feliz de entender tudo (quer dizer, teve umas duas cenas que todo mundo riu menos eu, mas achei meu aproveitamento excelente mesmo assim).

O filme veio bem a calhar num dia que eu refletia sobre discriminaçao cultural e tudo mais. E me pensar ainda como a America do Sul seria diferente se tivesse sido colonizada pelos paises "frios" (de temperatura e de gente).

Tambem fui ao restaurante brasileiro e odiei. Serviço horrivel, demorado, comida mais ou menos e super caro. O dono do lugar nem fala portugues. Acho que é alguem que foi passear no Brasil e teve a ideia de abrir o restaurante. Achei que ia matar a saudade da farofa, mas a farinha era daquelas grossas. O Thibaut, que nao entende nada de Brasil, achou tudo otimo (mas ele tambem é muito educado pra falar que nao gosta de alguma coisa. Por outro lado ele nao é igual aos outros franceses que falam que tudo é "pas mal", ele conhece expressoes como "parfait", "magnifique" e "tres bien".

Bom, agora tenho que ir jantar, porque vou sair com a Juliana daqui a pouco. Amanha o Thibaut vem almoçar aqui em casa. Ele nunca me deixa pagar nada e fico meio sem graça com isso, por isso resolvi fazer o convite. Faltam tres dias para o meu aniversario e nem estou fazendo contagem regressiva. Me desejem sorte e coragem na semana que vem para encarar os 24 anos de idade e começar a procurar um emprego de verdade.

terça-feira, 8 de março de 2011

Ski plus jamais

Na falta de uma foto com ski, vai essa aqui que tire hoje.

Domingo, 5h da manha. O despertador tocou e eu, muito obediente, levantei da cama sem nem ativar o modo soneca. Tomei um banho, juntei minhas coisinhas e fui para o ponto de onibus. No dia anterior eu tinha conferido o quadro de horarios e o primeiro onibus saia do ponto 6h10. As 6h07 eu ja estava la. Sem uma alma viva na rua, na escuridao, sem ter o que fazer, fui conferir o quadro que fica grudado no ponto e, surpresa! O primeiro onibus saia, na verdade, as 7h10... Eu precisava estar na praça Bellecour às 6h30, para pegar a excursao do ski. Voltei correndo para casa e tentei ligar para um taxi. Nao entendi nada do outro lado da linha. Sem saber o que fazer, acordei a Genevieve. Ela ficou meio me xingando, falando que eu tinha que ter conferido o horario direito (na verdade ele saia as 6h10 da praça Bellecour, ou seja, no sentido contrario ao que eu precisava pegar). Entao ela vestiu um casaco por cima da camisola, pegou a chave do carro e foi me levar la na praça. Cheguei exatamente as 6h40. Entrei no onibus e a gente saiu.

Todas as outras pessoas dormiam, menos eu e a Juliana - e a menina do banco da frente, que toda hora olhava para tras com uma cara de poucos amigos. Se fosse no Brasil, teria alguem com um pandeiro e uma galera reunida no fundao tocando pagode. Mas aqui é a França, voilà... Duas horas e meia depois: neve! Branca, brilhando sob o sol (sim, tinha sol nesse dia!), fofa, parecendo uma espuma. Descemos no onibus e, enquanto o pessoal se ajeitava com seus skis, a gente foi correndo tocar a neve. O primeiro pedaço que a gente encostou nao era tao fofo, mas logo descobrimos que a fofura depende do fato de alguem ja ter brincado ou nao com a neve em questao.

Como eu falei, fazia sol. E, estava quente! Eu estava com duas blusas, um casaco quente e o casaco impermeavel do ski, quando uma blusa e o casaco do ski ja seriam suficientes... Nossa aula de ski so começava meio dia, entao fomos passear pela estaçao. Tem tudo la: varios predios com apartamentos, cafes, pubs, cinema, discoteca, um mini shoping. Tiramos varios fotos, fizemos bonequinho de neve, guerrinha de neve, tudo com neve... Duas crianças deslumbradas! Por volta de 11h fomos deixar a mochila no onibus e almoçar. Na volta fomos direto para uma das varios lojas onde se aluga o ski.

Primeiro a gente coloca uma bota muito pesada e dificil de calçar (e de caminhar tambem). Depois escolhe o ski de acordo com altura e peso e gruda a bota nele. Equipamento alugado, fomos para a aula. Nunca pensei que fosse tao dificil esquiar. Nem 10 minutos de aula e ja levei um tombao, de costas, com as pernas cruzadas. Como eu quase morri de dor - ja que, uma vez com o ski no pé é impossivel fazer qualquer movimento com as pernas - o professor explicou que a gente tinha que cair de lado.

Primeiras noçoes aprendidas, pegamos o teleferico para ir onde se esquia de fato. Varios tombos. Mas tenho que admitir: deslizar sobre a neve é uma sensaçao incrivel. As crianças aqui aprendem desde cedo, e davam show perto da gente. Apesar de tudo a aula ia bem ate que... A gente percebeu que o professor estava com o ziper aberto e sem cueca. Ainda bem que faltavam uns 10 minutos para a aula acabar, porque a gente simplesmente nao conseguia mais olhar na cara dele. Mais tarde ate voltamos na escola para reclamar. A mulherzinha la falou com a direçao e eles falaram que falariam com o cara.

Depois da aula ficamos mais uma hora e meia na pista, fazendo o possivel para descer sem cair. Para subir a gente pega o teleski, uma coisa que a gente coloca entre as pernas e que nos empurra pela bunda (falando assim parece algo horrivel, mas nao é tao estranho). Depois de descer duas vezes sem cair eu achei que era hora de parar, pois meu joelho direito doia muito. Peguei o teleski e estava subindo tranquilamente, quando um retardado tentou entrar no meio da subida com uma criança. O menino caiu na minha frente, eu tentei desviar, perdi o equilibrio e sai rolando ladeira abaixo, com o ski no pe. Comecei a xingar o cara em frances, e depois em portugues. Ele ficou repetindo "c'est pas grave, c'est pas grave" (nao é nada, nao é nada), e eu gritava "oui, c'est grave!", ate que um cara apareceu para me ajudar a tirar o ski (como eu nao podia mudar de posiçao ate esse momento, senti muita muita dor). Depois veio a mulher da estaçao, que chamou um cara de primeiros socorros.

Mais tarde a Juliana me disse que so viu um amarelo (meu casaco) rolando neve abaixo. Apos toda a confusao, pegamos o teleferico para voltar pro outro lado, devolver o equipamento e sentir um pouco menos dor. Fomos ate a escola, passamos numa lojinha de souvenir (comprei uma coisinha para Genevieve) e voltamos para o onibus. Na volta para casa tudo doia. No dia seguinte tambem. Ontem nao tive aula, porque a professora ficou doente, entao fiquei em casa vendo filme e outras coisas na televisao. Hoje ja nao estou doendo e comprei leite condensado (sim, isso existe aqui, mas fica bem escondido na ultima prateleira la embaixo).

Resolvi que segunda vou fazer coxinha, pastel e brigadeiro e convidar o pessoal da escola para vir aqui em casa a noite.

Por hoje é so. Bises e a bientôt!

sábado, 5 de março de 2011

Les Halles de Lyon

Eu sofro!

Antes de começar a postar, entrei no site da Folha (de S. Paulo) e lembrei que no Brasil é carnaval. Não sei explicar porque, mas olhando todas aquelas fotos das escolas de samba comecei a chorar. Não que eu esteja triste de perder o carnaval desse ano. Mas eu vi todo aquele colorido, toda aquela animação, a alegria estampada no rosto de cada pessoa e de repente o sol que tem la fora hoje me pareceu tão pouco e tao sem graça...

Mas ok, vou superar tudo isso com um dia na neve, aprendendo a esquiar. Vamos eu e a Juliana, numa excursao que vai e volta no mesmo dia. O francês super legal que eu conheci numa festa semana passada me chamou pra passar o fim de semana inteiro na montanha, com hospedagem grátis no apartamento do amigo dele, mas como a Juliana não animou de ir eu achei mais prudente não arriscar ficar dois dias e duas noites passando frio com um pessoal que eu nem conheço direito.

Vamos alugar o equipamento e pagar uma hora de aula particular para tentar cair o mínimo possível. Ontem a noite fui jantar na vizinha e peguei mil coisas emprestadas: casaco, calça, luva, sapato, gorrinho, meias, tudo impermeável... Mais cedo fui experimentar tudo e a Genevieve ficou tirando fotos e achando engraçado. Na verdade todo mundo acha muito engraçado a gente nunca ter visto neve na vida...

Bom, na quarta eu falei que ia sair à noite mas desisti por causa do frio. Fiquei em casa e assisti três telejornais diferentes, um atras do outro. A principal noticia do dia, depois da confusão na Libia, era o aniversario de morte do Serge Gainsburg. Ja a noticia mais bizarra era que a corte europeia decidiu que é preconceito de gênero as seguradoras de veículos cobrarem menos das mulheres - apesar de ser comprovado que, estatisticamente, elas causam menos acidentes.

Graças ao meu novo amigo frances, o Thibaut (algo como thibô no accent brésilien), eu descobri que existe uma escola de lingua portuguesa em Lyon e fui la pedir um emprego. A diretora era portuguesa e me recebeu super bem. Ela falou que no momento eles nao estao precisando de ninguem, mas pediu para eu mandar o CV e disse que encaminharia para algumas pessoas que ela conhece. Ela foi realmente muito simpatica e ficou me perguntando coisas do Brasil e da minha estadia em Lyon.

Na quinta ja nao estava tao frio e eu sai com o Thibaut. Fomos a um bar onde estavam alguns amigos dele. Era um lugar de pedra (como tudo em Lyon), bem legal. Bebi cerveja belga de trigo. Mais tarde fomos andar pela cidade e fomos ate a Croix Russe (uma das colinas da cidade) ver a vista. Depois fomos andar de novo e paramos num restaurante que so abre de madrugada. Comi nhoque ao molho de queijo saint marcelin - um queijo tipicamente lionês. Muito bom! Depois fomos andar mais um pouco e ficamos passeando na beira do Saône. Dai quando era umas 2h da manha achei que era hora de voltar para casa e ele veio me acompanhado. Putz, eu nao sabia que morava tao longe! Caminhamos uma meia hroa, subindo morro, sob uma temperatura de zero grau.

Na sexta eu nao cheguei atrasada, mas estava quase dormindo na aula. Depois do intervalo fomos ao Halles de Lyon, fazer uma aula pratica. Trata-se de uma especie de mercado, mas muito chique. Sao varias galerias onde voce acha todo tipo de comida: chocolaterias e patisserie (confeitarias), carnes e queijos de todos os tipos, restaurantes, vinhos, legumes, frutas... Nao levei camera fotografica, mas vou voltar la com mais tempo e registro tudo. Os açougues franceses sao lindos. Eles vendem tripas, frangos com cabeça, mas é tudo tao organizado que eu nem acho nojento. Nao tem carnes penduradas igual no Brasil, é tudo muito bem embalado.

Bom, como me falaram para fazer exercicio antes de ir esquiar, daqui a pouco vou ao museu galo-romano a pé. Pelo menos dessa vez é so descida. Quando o carnaval acabar é bem provavel que meu computador ja tenha chegando, entao postarei muitas e muitas fotos.

à bientôt!

quarta-feira, 2 de março de 2011

Primavera, cadê você?

Cansei de arvore sem folha

Pensamento do dia: é muito mais facil ser gorda no verão. Quando esta quente, você coloca uma batinha, um vestido soltinho e sai feliz da vida. Quando a temperatura chega a 5 graus, se você nao é alemã vai precisar de pelo menos umas 2 blusas por baixo do casaco. Primeiro problema: ter varias blusas de manga comprida pra usar por baixo de tudo. Segundo problema: combinar varias peças de roupa diferentes. Terceiro e principal problema: vestir isso tudo sem parecer mais gorda do que voce é de fato. Resultado: 20 minutos de atraso pra chegar na aula e xingo da professora. E ainda por cima você entra na sala e vê sua colega alemã de regata.

Minha host bem que tinha avisado: março pode ser lindo, quente e florido, mas tambem pode ser mais frio que fevereiro. Ontem depois da aula saimos eu e as outras duas brasileiras para passear pela Vieux Lyon. Meia hora de caminhada e fomos logo procurar um chocolate quente. Mais meia hora de caminhada e vimos que era melhor voltar para casa.

Ate semana passada Genevieve fazia o jantar, porque estava incluso no preço para duas semanas de hospedagem que paguei ainda no Brasil. Segunda a noite fomos às compras e ontem eu cozinhei. No supermercado peguei uma carne moida e ela quis me explicar que aquilo era para fazer um tipo de comida especifica. Dai ontem quando fui preparar meu jantar ela ficou observando atentamente como eu preparava tudo e ate comeu um pouquinho da carne para experimentar. Fiz tambem arroz, cenoura cozida e um ovo frito. Por fim joguei alface americana que a gente acha em pacotes muito bonitinhos no supermercado (ja cortadas e lavadas) e ela achou muito engraçado e "brasileiro" eu misturar o quente com o frio.

Depois de lavar as vasilhas e arrumar a cozinha, fui assistir televisao. Eu nunca tinha parado para fazer isso aqui (prestando atençao, sem fazer outra atividade paralelamente), porque é meio estranho nao saber nunca o que vai passar. Nao sei se é por causa dos horarios, mas todas as vezes que ligo a TV so tem filme e jornal. Ontem tinha uma animaçao com pinguins. Como o personagem tinha um sotaque meio espanhol meio estranho, mudei de canal e tava passando um premio de musica que consegui entender melhor. Mas nao fiquei muito mais tempo, porque tava muito frio e achei uma ideia melhor ir pra debaixo dos meus 3 cobertores.

Ontem na verdade foi um dia sem grandes emoçoes, exceto por um fato logo pela manha. Entrei na sala e tinha um homem. Sim, uma pessoa do sexo masculino. Perguntei se era mesmo a sala do B1 e ele confirmou. Foi um verdadeiro acontecimento, ate a professora ficou surpresa. Ele é suiço e chama algo como "Iurg". Vai ficar 5 semanas pagas pela empresa que ele trabalha. Eh um pouco gordinho e adorou a churrascaria brasileira que ele conheceu em Londres. Essa semana chegou tambem uma canadense mais velha que tem um sotaque carregadissimo do ingles. Ontem eu meio que perdi a paciencia com ela numa atividade em grupo, mas no fim da aula ela veio me agradecer por eu tentar ajuda-la e eu morri de vergonha, entao hoje tentei ser legal e descobri que ela esta viuva ha 1 ano e meio, nao tem filhos e veio para a França distrair a cabeça.

O tema dessa semana na escola é cozinha e hoje falamos do chocolate. Dai a professora perguntou o que a gente lembrava quando ouvia essa palavra e eu falei que era um bom remedio para TPM, mas como eles nao tem uma palavra especifica para isso por aqui, ela entendeu outra coisa. Dai expliquei de novo e falei que em portugues temos uma sigla para o que eles chamam de "déprime avant les règles". Então resolvi cunhar a expressao "DAR" e ela achou engraçado, mas aceitou a ideia. Tem palavras que me fazem muita falta por aqui. Saudade, obviamente, lidera a lista. Mas tem vezes, por exemplo, que quero falar que algo é "muito barato, mas muito barato mesmo" e tenho que falar que "nao é caro de jeito nenhum", porque em frances so existe a palavra caro e com ela a gente faz o "menos caro" ou o "nao caro", so que nao é a mesma coisa...

Por fim, se eu soubesse frances na segunda-feira teria resolvido em 5 minutos algo que demorei duas horas. Como contei, Genevieve comprou um iphone, mas nao sabe usar direito. Na segunda fui configurar o email dela, mas ela nao lembrava a senha. Entao fui para o computador tentar descobrir e, de repente, todos os emails dela sumiram (nesse ponto é necessario explicar que ela usa um programa tipo Outlook). Quase chorando, ela me falou que tinha emails de 2006 do irmao dela que morreu e que eu tinha que dar um jeito de recuperar. Entao mexi em mil coisas, baixei um programa e fiz backup dos 3975 emails que ela ja recebeu na vida e, duas horas depois, vi que se eu soubesse o significado da palavra "basculer" (agora eu sei), teria achado os emails em cinco minutos. Mas a parte boa de tudo isso é que agora ela acha que sou a genia da informatica.

Hoje a noite vou em algum evento de musica que nao sei direito o que é, mas parece ser legal e tem varias pessoas da escola indo. Tambem vou parar de enrolar a mim mesma e ajeitar um curriculo para começar a procurar emprego de verdade.

Bises e à Bientôt!

p.s.: pessoas ai do Brasil me perguntam direto como é o carnaval aqui. Na verdade ele não existe... Tem uma tal de mardi gras, que é na terça de carnaval e as pessoas usam fantasias, mas nao sei direito como é. Mas o fato é que aqui so lembram que existe no mundo algo chamado carnaval quando ouvem a palavra "Brasil"...