Avignon é maravilhosa. Assim que a gente sai da estação de trem percebe que o centro da cidade é cercado por uma muralha antiga, pois lá dentro tem um castelo, onde moraram alguns papas na época que em que a sede da igreja católica saiu de Roma. O castelo agora é um museu. Enorme. Subindo, subindo, subindo a gente chega à torre, tira fotos, vê a cidade inteira e o Rhône, azulzinho. Depois do castelo a gente vai na famosa ponte de Avignon, que acaba no meio (e é famosa justamente por isso). Então a gente pega um barquinho gratuito e atravessa o rio para chegar a um parque. Por fim a gente sobe uma escadaria gigante e chega em um jardim que parece o céu.
Na volta peguei o TGV pela primeira vez na vida e cheguei em Lyon rapidinho. O Thibaut estava me esperando na estação, mas antes de voltar para casa paramos num restaurante com as outras três brasileiras com quem eu tinha viajado. Claro que a gente não conseguiu falar muito francês e ele acabou sobrando. Mas por um lado foi bom para ele entender como eu me sinto às vezes em meio aos amigos dele. Claro que para mim é muito mais fácil, pois eu falo francês, mas é fato que de vez em quando eles usam muita gíria ou falam muito rápido e eu tenho que conversar com a minha mão.
Domingo foi um dia agradável também, mas sem nada de especial. Segunda fiz baby-sitting mais uma vez na vizinha, mas dessa vez o menino mais novinho estava doente, com febre e vomitando. Tive que trocar a roupa e passar a noite inteira do lado dele. Não foi fácil. Os pais demoraram a voltar, mas no fim deu tudo certo e eu fiquei mais uma vez muito orgulhosa do meu talento para cuidar de criança - principalmente quando a mãe falou que o mais velho tinha ficado feliz de saber que eu ia ficar com eles pela segunda vez.
Terça foi um dia de afazeres domésticos e sono. Quarta foi um dia de mais sono ainda, aliado a uma crise existencial de saudade. Quinta à noite fui a um pub com as brasileiras, pois uma delas estava indo embora. Sexta foi o lindo dia de me preparar para ir à Paris. Arrumar mala, carregar a câmera, não esquecer os bilhetes do trem, o cartão de desconto 12-25 anos, o ovo de páscoa... E ainda chegar na estação com uma boa margem de antecedência. Não é que eu consegui fazer tudo isso? O triste é que, tanto na ida quanto na volta, ninguém veio me pedir minhas passagens...
Graças à esse trem (literalmente) mágico chamado TGV, em duas horas eu percorri 400 km e às 22h do dia 22 de abril de 2011, pela primeira vez eu pisei o pé em solo parisiense. Não sei porque, mas a estação de Paris chama "Gare de Lyon" e logo que a gente chega vê aquele relógio imenso igualzinho nos filmes. Assim que encontrei o Thibaut, minha primeira pergunta foi: cadê a Torre Eiffel?
Ele saiu carregando minha mala de rodinhas e fizemos um pequeno tour pela cidade. Primeira coisa sobre Paris: o metrô daquela cidade é um asterisco - com muitos cabelinhos. Eu achava que Lyon tinha um sistema de transporte eficiente, até conhecer aquilo lá. Só para lembrar: Paris tem menos habitantes que Belo Horizonte. Dá para se perder fácil lá embaixo. A maoiria das estações conecta três, quatro linhas e parece que a gente anda mais para mudar de linha do que dentro do trem, para ir de um lugar a outro. Os bilhetes custam 1,20 (em Lyon é 1,60), mas em compensação os trens são todos velhos e as portas de saída da estação lembram um trem-fantasma.
Pra começar o passeio fomos ao Hôtel de Ville (algo como a prefeitura). Andamos um pouco e chegamos à Notre Dame de Paris. Andamos na beira do Sena e chegamos ao Louvre. De lá vi a Torre Eiffel pela primeira vez, bem de longe... O próximo ponto foi o Arco do Triunfo e, por fim, ela, aquele amontoado de barras de ferro magnífico que o mundo inteiro sonha em conhecer. A hospedagem foi no apartamento da irmã do Thibaut, pois até hoje ele não encontrou um teto para chamar de seu. Uma sala e um quarto razoáveis e uma cozinha minúscula. Mas tinha vista para a Torre Eiffel e, o mais importante, era de graça.
No dia seguinte, acordamos cedo: Louvre. Tem uma fila lá em cima, ao lado daquela pirâmide de vidro super famosa, que demora 4 horas, e outra lá embaixo, cuja existência a maioria dos turistas desconhece. Pegamos essa e entramos em 5 minutos. Descobrimos que era de graça para estudantes com carteirinha e fomos tomar café da manhã. 14 euros um croissant, uma quiche, um pão de chocolate e outra coisinha doce mais um café.
O Louvre não é exatamente um museu de arte. Tem uma galeria gigante do Egito, do Irã, de sei lá onde e, claro, tem a monalisa - lá longe, cercada de pessoas munidas de câmeras fotográficas e, tadinha, bem bem pálida (não se iludam, a cor verdadeira da pele da Gioconda é amarelo). Mas não tem os impressionistas, que ficam todos no Museu de Orsay. Tentamos entrar lá, mas como não sabíamos de uma fila menor, desistimos. Fomos passear na beira do Sena, andamos até um monumento tipo o pirulito da Praça Sete e ao lado estava a Champs Elysées, uma grande avenida onde ficam algumas das lojas mais caras do mundo, com o Arco do Triunfo no fim. Fizemos fila para comprar o melhor macarron (não confundir com macarrão) do mundo, no La Durée (e essa nem foi tão grande e valeu muito a pena).
Depois do almoço fomos à Montmartre, onde fica o Moulin Rouge e todos os sex shops de Paris, mas onde tem também a Sacré Coeur e uma vista bem bonita da cidade. Se vocês já estão cansados de ler, imagina eu depois disso tudo. Fomos para casa dormir e quase meia noite subimos no segundo andar da Torre Eiffel. Nem vou perder meu tempo tentando explicar como é isso.
Domingo fomos à Versailles, mas a fila para entrar no castelo durava quatro horas, então visitamos apenas o Jardim, que já é algo deslumbrante. Fizemos piquenique de ovo de páscoa e dormimos na grama. Na volta entramos no McDonald's para ir ao banheiro e, adivinhem: fila, claro. Voltamos para casa e descansamos um pouco enquanto esperávamos o japonês abrir. Depois assistimos Tropa de Elite (eu sei, eu estava em Paris, mas uma hora a gente precisa repor as energias). De noite fomos dar uma volta a pé, perto de casa, e chegamos ao Champ de Mars, o jardim da Torre Eiffel. Na grama milhares de pessoas fazendo piquenique ou simplesmente bebendo entre amigos.
Segunda almoçamos crepe, fomos ao Jardim de Luxemburgo, ao Pantheon e à Sorbonne. Depois numa parte da cidade que conhecida como "a ilha" (pois é cercada pelo Sena dos dois lados) e paramos numa ponte para assistir um espetáculo de um palhaço de rua. Ele escolheu uma menina qualquer da platéia para ser sua assistente e ela se chamava Fernanda e vinha do Brasil (e não era eu). Depois fizemos fila para tomar o melhor sorvete de Paris (e o melhor sorvete de framboesa do universo) e, em seguida, fomos ao Centro de Arte moderna Pompidou. Rodamos quatro supermercados para achar carne moída para fazer um espaguete à bolonhesa e depois do jantar caímos de sono. Terça 5h da manhã eu estava arrumando minhas coisas e 8h40 da manhã estava em Lyon. Não fui à escola e fui direto trabalhar. Voltei em casa e tive que sair de novo para resolver um assunto urgente no correio.
No fim das contas, Paris é uma cidade maravilhosa, mas não é a França. A quantidade de turistas e filas é insuportável, tem brasileiro em TODOS os cantos e o idioma que menos se escuta é francês. A cidade tem um ar meio velho, às vezes maravilhoso, às vezes mal conservado. Amei o passeio e o fim de semana, mas fiquei feliz de ter escolhido Lyon para morar. Aqui é mais tranquilo e organizado; tem alguns estrangeiros, mas na rua a gente escuta francês o tempo todo. Posso dizer sem medo de estar cometendo uma gafe que quem visita Paris conhece Paris. Mas quem quer conhecer a França de verdade tem que ir em pelo menos mais uma cidade...
Fim!