quarta-feira, 27 de abril de 2011

Paris não é a França


Prometi e cumprirei: as traças não tomarão conta deste modesto espaço virtual. Da última vez que escrevi eu estava indo para Avignon e hoje já faz dois dias que voltei de Paris, então tentarei ser sucinta (e é claro que não terei muito sucesso nessa empreitada).

Avignon é maravilhosa. Assim que a gente sai da estação de trem percebe que o centro da cidade é cercado por uma muralha antiga, pois lá dentro tem um castelo, onde moraram alguns papas na época que em que a sede da igreja católica saiu de Roma. O castelo agora é um museu. Enorme. Subindo, subindo, subindo a gente chega à torre, tira fotos, vê a cidade inteira e o Rhône, azulzinho. Depois do castelo a gente vai na famosa ponte de Avignon, que acaba no meio (e é famosa justamente por isso). Então a gente pega um barquinho gratuito e atravessa o rio para chegar a um parque. Por fim a gente sobe uma escadaria gigante e chega em um jardim que parece o céu.

Na volta peguei o TGV pela primeira vez na vida e cheguei em Lyon rapidinho. O Thibaut estava me esperando na estação, mas antes de voltar para casa paramos num restaurante com as outras três brasileiras com quem eu tinha viajado. Claro que a gente não conseguiu falar muito francês e ele acabou sobrando. Mas por um lado foi bom para ele entender como eu me sinto às vezes em meio aos amigos dele. Claro que para mim é muito mais fácil, pois eu falo francês, mas é fato que de vez em quando eles usam muita gíria ou falam muito rápido e eu tenho que conversar com a minha mão.

Domingo foi um dia agradável também, mas sem nada de especial. Segunda fiz baby-sitting mais uma vez na vizinha, mas dessa vez o menino mais novinho estava doente, com febre e vomitando. Tive que trocar a roupa e passar a noite inteira do lado dele. Não foi fácil. Os pais demoraram a voltar, mas no fim deu tudo certo e eu fiquei mais uma vez muito orgulhosa do meu talento para cuidar de criança - principalmente quando a mãe falou que o mais velho tinha ficado feliz de saber que eu ia ficar com eles pela segunda vez.

Terça foi um dia de afazeres domésticos e sono. Quarta foi um dia de mais sono ainda, aliado a uma crise existencial de saudade. Quinta à noite fui a um pub com as brasileiras, pois uma delas estava indo embora. Sexta foi o lindo dia de me preparar para ir à Paris. Arrumar mala, carregar a câmera, não esquecer os bilhetes do trem, o cartão de desconto 12-25 anos, o ovo de páscoa... E ainda chegar na estação com uma boa margem de antecedência. Não é que eu consegui fazer tudo isso? O triste é que, tanto na ida quanto na volta, ninguém veio me pedir minhas passagens...

Graças à esse trem (literalmente) mágico chamado TGV, em duas horas eu percorri 400 km e às 22h do dia 22 de abril de 2011, pela primeira vez eu pisei o pé em solo parisiense. Não sei porque, mas a estação de Paris chama "Gare de Lyon" e logo que a gente chega vê aquele relógio imenso igualzinho nos filmes. Assim que encontrei o Thibaut, minha primeira pergunta foi: cadê a Torre Eiffel?

Ele saiu carregando minha mala de rodinhas e fizemos um pequeno tour pela cidade. Primeira coisa sobre Paris: o metrô daquela cidade é um asterisco - com muitos cabelinhos. Eu achava que Lyon tinha um sistema de transporte eficiente, até conhecer aquilo lá. Só para lembrar: Paris tem menos habitantes que Belo Horizonte. Dá para se perder fácil lá embaixo. A maoiria das estações conecta três, quatro linhas e parece que a gente anda mais para mudar de linha do que dentro do trem, para ir de um lugar a outro. Os bilhetes custam 1,20 (em Lyon é 1,60), mas em compensação os trens são todos velhos e as portas de saída da estação lembram um trem-fantasma.

Pra começar o passeio fomos ao Hôtel de Ville (algo como a prefeitura). Andamos um pouco e chegamos à Notre Dame de Paris. Andamos na beira do Sena e chegamos ao Louvre. De lá vi a Torre Eiffel pela primeira vez, bem de longe... O próximo ponto foi o Arco do Triunfo e, por fim, ela, aquele amontoado de barras de ferro magnífico que o mundo inteiro sonha em conhecer. A hospedagem foi no apartamento da irmã do Thibaut, pois até hoje ele não encontrou um teto para chamar de seu. Uma sala e um quarto razoáveis e uma cozinha minúscula. Mas tinha vista para a Torre Eiffel e, o mais importante, era de graça.

No dia seguinte, acordamos cedo: Louvre. Tem uma fila lá em cima, ao lado daquela pirâmide de vidro super famosa, que demora 4 horas, e outra lá embaixo, cuja existência a maioria dos turistas desconhece. Pegamos essa e entramos em 5 minutos. Descobrimos que era de graça para estudantes com carteirinha e fomos tomar café da manhã. 14 euros um croissant, uma quiche, um pão de chocolate e outra coisinha doce mais um café.

O Louvre não é exatamente um museu de arte. Tem uma galeria gigante do Egito, do Irã, de sei lá onde e, claro, tem a monalisa - lá longe, cercada de pessoas munidas de câmeras fotográficas e, tadinha, bem bem pálida (não se iludam, a cor verdadeira da pele da Gioconda é amarelo). Mas não tem os impressionistas, que ficam todos no Museu de Orsay. Tentamos entrar lá, mas como não sabíamos de uma fila menor, desistimos. Fomos passear na beira do Sena, andamos até um monumento tipo o pirulito da Praça Sete e ao lado estava a Champs Elysées, uma grande avenida onde ficam algumas das lojas mais caras do mundo, com o Arco do Triunfo no fim. Fizemos fila para comprar o melhor macarron (não confundir com macarrão) do mundo, no La Durée (e essa nem foi tão grande e valeu muito a pena).

Depois do almoço fomos à Montmartre, onde fica o Moulin Rouge e todos os sex shops de Paris, mas onde tem também a Sacré Coeur e uma vista bem bonita da cidade. Se vocês já estão cansados de ler, imagina eu depois disso tudo. Fomos para casa dormir e quase meia noite subimos no segundo andar da Torre Eiffel. Nem vou perder meu tempo tentando explicar como é isso.

Domingo fomos à Versailles, mas a fila para entrar no castelo durava quatro horas, então visitamos apenas o Jardim, que já é algo deslumbrante. Fizemos piquenique de ovo de páscoa e dormimos na grama. Na volta entramos no McDonald's para ir ao banheiro e, adivinhem: fila, claro. Voltamos para casa e descansamos um pouco enquanto esperávamos o japonês abrir. Depois assistimos Tropa de Elite (eu sei, eu estava em Paris, mas uma hora a gente precisa repor as energias). De noite fomos dar uma volta a pé, perto de casa, e chegamos ao Champ de Mars, o jardim da Torre Eiffel. Na grama milhares de pessoas fazendo piquenique ou simplesmente bebendo entre amigos.

Segunda almoçamos crepe, fomos ao Jardim de Luxemburgo, ao Pantheon e à Sorbonne. Depois numa parte da cidade que conhecida como "a ilha" (pois é cercada pelo Sena dos dois lados) e paramos numa ponte para assistir um espetáculo de um palhaço de rua. Ele escolheu uma menina qualquer da platéia para ser sua assistente e ela se chamava Fernanda e vinha do Brasil (e não era eu). Depois fizemos fila para tomar o melhor sorvete de Paris (e o melhor sorvete de framboesa do universo) e, em seguida, fomos ao Centro de Arte moderna Pompidou. Rodamos quatro supermercados para achar carne moída para fazer um espaguete à bolonhesa e depois do jantar caímos de sono. Terça 5h da manhã eu estava arrumando minhas coisas e 8h40 da manhã estava em Lyon. Não fui à escola e fui direto trabalhar. Voltei em casa e tive que sair de novo para resolver um assunto urgente no correio.

No fim das contas, Paris é uma cidade maravilhosa, mas não é a França. A quantidade de turistas e filas é insuportável, tem brasileiro em TODOS os cantos e o idioma que menos se escuta é francês. A cidade tem um ar meio velho, às vezes maravilhoso, às vezes mal conservado. Amei o passeio e o fim de semana, mas fiquei feliz de ter escolhido Lyon para morar. Aqui é mais tranquilo e organizado; tem alguns estrangeiros, mas na rua a gente escuta francês o tempo todo. Posso dizer sem medo de estar cometendo uma gafe que quem visita Paris conhece Paris. Mas quem quer conhecer a França de verdade tem que ir em pelo menos mais uma cidade...

Fim!

sexta-feira, 15 de abril de 2011

As sobremesas intocadas

Só recebi a foto depois do post (o último), mas aí está a prova do meu passeio de bicicleta!


Desculpem o momento auto-ajuda, mas é fato que o vento anda soprando totalmente a meu favor ultimamente. Depois que comprei a passagem para Paris, a Juliana me chamou para ir para Avignon sábado (amanhã), mesmo esquema de Dijon. Ela me falou que a passagem custava 30 euros ida e mais 30 volta, mas como eu fiz um cartão para ter desconto em viagens de trem (para jovens de 12 a 25 anos), encontrei a ida e volta por 35 euros. Não é tanto dinheiro, mas eu ganho pouco, tinha acabado de comprar a passagem para Paris, então hesitei por um instante. Depois pensei melhor e comprei a passagem. 30 minutos se passaram e Genevieve me ligou falando que uma vizinha precisava de baby-sitter para quinta (ontem) e ela tinha me indicado.

Em seguida a vizinha me ligou, combinamos tudo e ontem fui lá. Um bebê de 1 ano e meio e um outro menino duns 3, 4 anos. Os dois muito fofinhos. Cheguei no apartamento e eles estavam acordados, então tive que colocá-los para dormir e, porque não, contar historinha - em francês, coisa linda. Uma hora depois os dois estavam em sono profundo e fiquei no gtalk, usando o macintosh com uma tela gigante que ficava na sala de televisão. Ganhei o mesmo tanto que ganho por dia na Brasserie... Como era na vizinha, em 3 minutos eu estava de volta e ela pegou meu telefone para quando precisar dos meus serviços novamente.

Além do dinheiro, o que me deixa feliz é perceber que eu tenho jeito com criança, apesar de tudo que meus amigos me falavam quando eu pensava em ser au pair. Só para lembrar: os dois meninos nunca tinha me visto na vida, ficaram sozinhos comigo em casa e dormiram tranquilos e satisfeitos.

Na Brasserie, a semana foi bem tranquila. Apesar do sol continuar lá brilhando, o frio voltou. E quando faz frio, todo mundo se esconde. A regra só não vale para a sexta, porque... Bom, porque é sexta, obviamente. Durante o trabalho, é tudo muito corrido e nem tenho tempo de conversar com as outras pessoas que trabalham lá. Uma das garçonetes sempre almoça comigo, mas ela não é muito de conversar. Tem alguns dias em que a sogra da Chrystel, minha chefe, e mãe do Philip, o chefe de cozinha, vai ajudar no caixa. Ela trata todo mundo pour "vous", inclusive a Chrystel e acha que eu estou lá para servi-la também. Então quando ela me manda fazer algo eu obedeço, mas quando fico um pouco perdida e pergunto alguma coisa ela só me diz: "eu sou a caixa, não tenho nada a ver com isso". Mala. Para não dizer coisa pior.

Além de levar os pratos nas mesas, como eu já disse, ajudo a lavá-los, o que significa colocar no lava-vasilhas, tirar e ver se tá limpo mesmo - se não tiver, dar um jeito de deixar limpo - enxugar e guardar. Nesse processo, todo cada dia aumenta o meu desprezo por pessoas que desperdiçam comida. Nunca gostei de quem deixa metade do almoço no prato, mas agora tenho três vezes mais motivos para detestar essas pessoas. Primeiro: as outras garçonetes vem com pressa, não acertam a lixeira todas as vezes, e a pia vai virando um nojo de resto de comida misturada. Segundo: tem umas sobremesas que voltam intocadas quando eu estou morrendo por um chocolate. Terceiro: tem gente que pede um prato cheio de coisas para comer duas batatas fritas, porque não vai almoçar no Spa?

Na escola, eu finalmente passei para o B2! Como hoje foi o último dia, escrevi um cartãozinho para a professora e outro para a Ada, a canadense que no começo me deixava impaciente, mas que no fim me tratava tão bem que eu aprendi a admirar e acabei me afeiçoando. Ela me disse que tem uma casa grande no Canadá e mora sozinha, por isso a família e os amigos ficam sugerindo que ela mude para um apartamento. Falei com ela para receber estudantes estrangeiros em casa, igual a Geneviève. Quem sabe ela não vai pensar a respeito?

Hoje cheguei em casa e fui fazer a unha, que tava uma coisa realmente horrorosa depois de tanta lavação de vasilha. Nesse processo deixei a TV ligada e percebi que minha compreensão oral está realmente muito melhor. Percebi também a quantidade de reality show de culinária que existe por aqui. Não são programas de receita, como Ana Maria Braga, são competições com gente comum ou chefes de cozinha, mas tudo muito sofisticado. No geral são interessantes, mas é cozinha demais...

Daqui a pouco o Thibaut chega em Lyon, mas ele não vai para Avignon comigo, pois os pais dele vão passar um mês no Nepal e ele vai passar o sábado com eles. Como ele chega meia noite, comprei um red bull para tentar ficar acordada. Custou 1,5 (não foi um energético genérico, foi red bull mesmo)... Espero que funcione. Espero também ter muita coisa para contar na segunda! Bom fim de semana a todos!

terça-feira, 12 de abril de 2011

Espetinho de queijo?

Churrasco com passeio de barco inflável: coisas que só a França faz por você

Sim, eu estou de volta! Não, eu não abandonei o blog. O fato é que a primeira semana de trabalho sempre é difícil, mesmo quando se tem uma jornada de apenas 15 horas semanais. A rotina de ficar três horas por dia em pé, andando de um lado para outro, com pratos e cestinhas de pão nas mãos (já expliquei que francês come TUDO com pão né?) fez os dias da semana ficarem todos muito parecidos. Só que cada dia foi mais quente que o outro e, como eu já expliquei que europeu ama sol, isso significou cada dia mais clientes.

Até quinta eu estava muito perdida com os números da mesas. Mas nesse dia fez um "calor" fora do normal para o mês de abril (25 graus) e a brasserie ficou completamente lotada. Na marra eu aprendi a carregar três pratos duma vez (leia-se braços muito doloridos no fim de semana) e na sexta eu sabia exatamente para onde levar cada prato. No fim do expediente a chefe perguntou se eu podia ficar um pouco mais para ajudar a colocar as mesas para dentro (porque eles não abrem fim de semana). Os 20 minutos a mais de esforço físico foram compensados com 5 euros a mais no meu pequeno salário semanal e, em seguida, com um sorvete Hagen Das.

Nesse ponto eu preciso fazer um adendo e lembrar de como eu fiquei feliz no momento em que minha chefe me entregou o envelope com algumas preciosas notas de euro dentro. Não era o melhor salário do mundo, mas de repente eu lembrei que estava do outro lado do oceano, sem muitos amigos, longe de toda a minha família, mas eu não ia passar fome, nem qualquer tipo de dificuldade, porque eu posso me sustentar com o meu próprio esforço (com muitas restrições, é verdade, mas ainda assim com muito orgulho).

Com exceção da segunda, quando a aula começa e termina mais tarde (porque toda segunda chegam alunos novos), eu almoço na brasserie todos os dias. Terça passada comi pato com um legume verde esquisito que preferi não saber o que era. Quarta foi filé com fritas. Quinta foi uma salada deliciosa com atum cru, tipo sashimi. Sexta foi carne com fritas e salada. Hoje carne com fritas de novo. A comida é sempre muito gostosa, mas é importante ressaltar que, na verdade,quem gosta de carne crua não são os japoneses, mas sim os franceses. No restaurante tem uns pratos lindos, mas que se a gente analisar friamente não tem coragem de comer, como a tartare de boeuf, que é nada mais nada menos que carne de boi cortada em micro pedacinhos (não é carne moída), com um ovo cru dentro da casca encima. Falando assim parece mega nojento, mas no prato é lindo.

Quando não tem prato para levar para mesa eu ajudo a enxugar os pratos que o lava-vasilhas lava. De vez em quando voltam umas sobremesas quase intocadas e eu tenho que jogar tudo fora (tem um povo que come duas batatas fritas e devolve o prato - vontade de ir lá xingar e explicar que tem milhares de pessoas no mundo que morrem de fome, mas...). Hoje o Philip, o chef, descobriu que eu gosto de cozinhar e brincou que eu era para a gente trocar de lugar. Ensinei para ele a receita de brigadeiro e ele disse que vai tentar fazer em casa. Ele gosta de futebol e falou que é para eu ensinar a ele e o assistente de cozinha a dançar samba, para eles irem para o carnaval do Rio ano que vem.

Tirando o trabalho, não fiz nada de muito diferente semana passada, exceto na quinta, quando fui assistir a um festival de dança universitária com a Juliana. Pela palavra "universitária"eu deveria ter imaginado que seria uma coisa bem pseudo-cult-abstrata com a intenção de discutir as questões da vida moderna que vai muito mais para o lado da perfomance e da chatice (e de gente correndo pelo palco de cueca carregando um papel alumínio gigante) do que da dança propriamente dita.

Nesse dia a Geneviève tinha partido em viagem (e só volta segunda que vem). Ela falou que eu podia convidar meus amigos para virem aqui e entupiu a geladeira de comida, exatamente como a minha mãe faz no Brasil quando vai passar um fim de semana (dois dias) fora. O problema é que, no momento, não tenho amigos para convidar. "C'est pas grave".

Sexta meia noite o Thibaut chegou de Paris e fui encontrá-lo na estação. Eu tava tão, mas tão, mas tão cansada, que cheguei na casa dele e apaguei. Sábado, com as energias renovadas, fomos para a casa de campo de um dos amigos que moram com ele. Fizemos churrasco mas, obviamente, nada que lembre o Brasil. Perguntei se eles faziam espetinho de queijo e eles acharam bizarro. Na verdade, o ritual foi o seguinte: comemos uns espetinhos, umas linguiças e em seguida bife com macarrão - quando me passaram o prato de macarrão achei super esquisito e falei que não queria. Depois, como vi que todo mundo ia comer, aceitei pra socializar. Tinha também uns molhos, mas eles não têm nem o cuidado de jogar um sal grosso na carne... Enfim, saudades gigantes da nossa farofinha, da picanha, do pão de alho e toda a diversidade e duração do churrasco brasileiro.

A gente também tinha comprado cerveja. Eles me deram uma garrafinha, quente, então perguntei porque a gente não colocava a cerveja na geladeira. Eles falaram que, na verdade, já tinham colocado, mas como ia demorar para gelar, eles bebiam "fresca"mesmo. Depois do churrasco, eles ficaram duas horas tentando encher um barco inflável para passear no rio (que era praticamente em frente à casa). Não conseguiram e saíram num barco menorzinho. Eu fiquei tirando fotos e rindo. Depois voltei para a casa e fui ajudar a irmã do Sylvain (cuja família é dona da casa) a fazer uma torta de limão.

De noite, de volta à Lyon, fomos num barco que é meio bar, meio boate. O mundo inteiro estava na borda do rio, sentada na grama bebendo vinho ou cerveja, ou dentro dos barcos-bares. Lyon inteira. Uma coisa impressionante. No dia seguinte fomos tomar café da manhã numa patisserie e depois fomos passear no Halles e compramos vinho para o almoço. De tarde passeamos de bicicleta na borda do Rhône até o Parc de la tête d'or. Chegando lá fomos passar a pé. Com as folhas nas árvores e os jardins floridos realmente dá para dizer o que o parque é lindo - e que o fim de semana não poderia ter sido melhor!

Hoje era para eu ter mudado de nível na escola, mas a professora do B2 não vai poder ir a semana inteira, então os horários iam ficar completamente malucos. Como eu não ia poder ir por causa do trabalho, continuo mais uma semana no B1. Respirando fundo eu supero mais uma semana assim - pelo menos agora os alunos dessa semana são gente boa. Tem um americano de 18 anos, o Sam, que sempre senta do meu lado e, não sei porque, me lembra meu meio-irmão Luiz Gustavo.

No outro fim de semana, sem ser o próximo, é a páscoa. Aqui a gente não trabalha na segunda-feira. Assim sendo, comprei uma passagem para Paris. Vou sexta à noite e só volto terça de manhã (vou faltar aula nesse dia, mas é por uma casa super nobre). O Thibaut ainda não arrumou apartamento, mas vamos ficar na casa da irmã dele.

Juro que volto a dar notícias em menos de uma semana! Beijos e à bientôt!

p.s.: ontem eu estava zapeando a TV francesa e me deparei com uma versão dublada (leia-se bizarra) de Caminho das Índias! Ri sozinha...

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ce n'est pas facile

Paris me espera!

Primeiro dia de trabalho. Mais ou menos a mesma coisa de quinta-feira, mas com sol, o que significa mesas do lado de fora da brasserie (que fica numa praça) e mais números para decorar. A chefe ficou satisfeita com a calça preta que comprei e no fim do expediente disse que gosta muito de gente como eu, que se esforça para aprender e fazer tudo direito. O que ela me pagou por quinta foi um pouco abaixo do que eu esperava, mas é melhor do que não ter salário e, de qualquer forma, estou ganhando experiência - sem contar que a chefe é paciente e não se importa de ter que me ensinar tudo. Ela tirou cópia do meu passaporte para que eu seja uma trabalhadora legal na França, e isso também conta.

Na escola, uma penca de alunos novos. Semana passada eu quase tive um surto de falta de paciência porque ninguém além de mim conversava e todo mundo era muito lerdo, mas hoje foi bem diferente. Dessa vez temos três homens (um alemão, um colombiano e um meio-americano, meio-indiano), duas alemãs, uma mulher que não sei de onde é, mas que morou 10 anos na Nova Zelândia, uma colombiana, uma menina da Letônia que estuda em Barcelona e continuamos com a canadense, uma brasileira que não é a Juliana e a suiça de cara fechada. Mas semana que vem vou para o B2 (na escola temos os níveis A1, A2, B1, B2 e C1) e muda tudo de novo, inclusive a professora.

No fim de semana, nada de grandes passeios. Não mencionei antes, mas muita gente já sabe que o Thibaut está se mudando para Paris. Ele passou a semana passada inteira lá, na casa de um amigo, e agora está procurando um apartamento (assim que ele encontrar, irei conhecer a cidade luz). A mudança é por causa do trabalho e o trabalho dele é algo complexo de se explicar, mas é mais ou menos isso: as empresas francesas que querem entrar para a bolsa de valores da França têm que passar por auditorias constantes sobre suas finanças, que atestem que elas não cometem fraudes e está tudo ok. O Thibaut é uma das pessoas que fiscaliza as empresas e tem que descobrir se está tudo certo ou não. Trabalho de gente grande, mas ele tem apenas 23 anos e só faz 24 em outubro.

A sede da empresa fica em Paris, no quartier de la Défense, o centro financeiro da França, e tem tudo que uma pessoa precisa para o dia-a-dia: cabelereiro, costureiro, restaurante, sala de esportes, jardins, sala de obras de arte, agência de viagem, florista e etc, etc, etc. Apesar de tudo isso, ele prefere Lyon, pois, além de ter crescido aqui, ele não gosta da correria de cidade grande.

Questão de parâmetros. Na verdade, em número de habitantes Paris é menor que Belo Horizonte e tem um metrô maravilhoso que funciona até umas 3h da madrugada. Quando você conta para qualquer europeu que São Paulo tem 20 milhões de habitantes, eles quase caem para trás. Poucas são as cidades por aqui que têm mais de um milhão de habitantes. Por outro lado, qualquer lugarzinho com 150 mil habitantes na Europa têm muito mais opção de cultura e lazer que muita capital brasileira...

Distância é outro parâmetro que - bom, nem preciso comentar. Na cabeça de um europeu, se você viaja sete horas de ônibus você chega do outro lado do mundo. Logo, quando digo que Belo Horizonte é relativamente perto de São Paulo e do Rio, eles pensam: "umas duas horas de viagem?". De helicóptero, quem sabe...

Mas bom, eu ia contando do fim de semana. Saí sexta à noite para encontrar o Thibaut na estação e voltei ontem. Ele mora com mais três amigos. Quando chegamos, tinha um pessoal lá fazendo um esquenta para sair mais tarde. A gente preferiu ver um filme: "Diamante de sangue", aquele com o Leonardo DiCaprio, dublado em francês. Meio óbvio, mas eu nunca tinha percebido que os dubladores articulam melhor as palavras que os próprios atores. Muito mais fácil para um estrangeiro entender...

No dia seguinte, depois do almoço, eu tive uma crise de dor de estômago. Thibaut saiu para comprar remédio, mas as duas farmácias do shopping ao lado da casa dele estavam fechadas, então ele foi ao centro da cidade. Demorou tanto que quando ele voltou eu já estava ótima, sentada na sala vendo televisão com os amigos dele. Depois saímos para fazer compras e quando voltamos, novamente tinha um monte de gente fazendo um esquenta para sair mais tarde. Mas ele tinha que dormir cedo, pois domingo participaria de uma competição esportiva para correr 40 km. Fui à praça Terraux assistir à chegada e conheci os pais e uma das irmãs dele. As duas super simpáticas. Já o pai é sério e me tratou pour "vous". Em francês, "vous" é o plural de "tu", mas é também uma maneira mais formal e distanciada de se referir a alguém... Mais tarde preparei um estrogonofe e descobri que não existe batata palha na França.

Fim de semana que vem vamos percorrer toda a borda do Rhône de bicicleta. No outro, acho que vamos para Marseille. Meu grande objetivo de vida no momento é (tentar) dominar o condicional e o subjuntivo, esses dois grandes vilões da língua frances. Mentira. Tenho planos maiores, mas vou deixar para comentar depois...

Au revoir