terça-feira, 12 de abril de 2011

Espetinho de queijo?

Churrasco com passeio de barco inflável: coisas que só a França faz por você

Sim, eu estou de volta! Não, eu não abandonei o blog. O fato é que a primeira semana de trabalho sempre é difícil, mesmo quando se tem uma jornada de apenas 15 horas semanais. A rotina de ficar três horas por dia em pé, andando de um lado para outro, com pratos e cestinhas de pão nas mãos (já expliquei que francês come TUDO com pão né?) fez os dias da semana ficarem todos muito parecidos. Só que cada dia foi mais quente que o outro e, como eu já expliquei que europeu ama sol, isso significou cada dia mais clientes.

Até quinta eu estava muito perdida com os números da mesas. Mas nesse dia fez um "calor" fora do normal para o mês de abril (25 graus) e a brasserie ficou completamente lotada. Na marra eu aprendi a carregar três pratos duma vez (leia-se braços muito doloridos no fim de semana) e na sexta eu sabia exatamente para onde levar cada prato. No fim do expediente a chefe perguntou se eu podia ficar um pouco mais para ajudar a colocar as mesas para dentro (porque eles não abrem fim de semana). Os 20 minutos a mais de esforço físico foram compensados com 5 euros a mais no meu pequeno salário semanal e, em seguida, com um sorvete Hagen Das.

Nesse ponto eu preciso fazer um adendo e lembrar de como eu fiquei feliz no momento em que minha chefe me entregou o envelope com algumas preciosas notas de euro dentro. Não era o melhor salário do mundo, mas de repente eu lembrei que estava do outro lado do oceano, sem muitos amigos, longe de toda a minha família, mas eu não ia passar fome, nem qualquer tipo de dificuldade, porque eu posso me sustentar com o meu próprio esforço (com muitas restrições, é verdade, mas ainda assim com muito orgulho).

Com exceção da segunda, quando a aula começa e termina mais tarde (porque toda segunda chegam alunos novos), eu almoço na brasserie todos os dias. Terça passada comi pato com um legume verde esquisito que preferi não saber o que era. Quarta foi filé com fritas. Quinta foi uma salada deliciosa com atum cru, tipo sashimi. Sexta foi carne com fritas e salada. Hoje carne com fritas de novo. A comida é sempre muito gostosa, mas é importante ressaltar que, na verdade,quem gosta de carne crua não são os japoneses, mas sim os franceses. No restaurante tem uns pratos lindos, mas que se a gente analisar friamente não tem coragem de comer, como a tartare de boeuf, que é nada mais nada menos que carne de boi cortada em micro pedacinhos (não é carne moída), com um ovo cru dentro da casca encima. Falando assim parece mega nojento, mas no prato é lindo.

Quando não tem prato para levar para mesa eu ajudo a enxugar os pratos que o lava-vasilhas lava. De vez em quando voltam umas sobremesas quase intocadas e eu tenho que jogar tudo fora (tem um povo que come duas batatas fritas e devolve o prato - vontade de ir lá xingar e explicar que tem milhares de pessoas no mundo que morrem de fome, mas...). Hoje o Philip, o chef, descobriu que eu gosto de cozinhar e brincou que eu era para a gente trocar de lugar. Ensinei para ele a receita de brigadeiro e ele disse que vai tentar fazer em casa. Ele gosta de futebol e falou que é para eu ensinar a ele e o assistente de cozinha a dançar samba, para eles irem para o carnaval do Rio ano que vem.

Tirando o trabalho, não fiz nada de muito diferente semana passada, exceto na quinta, quando fui assistir a um festival de dança universitária com a Juliana. Pela palavra "universitária"eu deveria ter imaginado que seria uma coisa bem pseudo-cult-abstrata com a intenção de discutir as questões da vida moderna que vai muito mais para o lado da perfomance e da chatice (e de gente correndo pelo palco de cueca carregando um papel alumínio gigante) do que da dança propriamente dita.

Nesse dia a Geneviève tinha partido em viagem (e só volta segunda que vem). Ela falou que eu podia convidar meus amigos para virem aqui e entupiu a geladeira de comida, exatamente como a minha mãe faz no Brasil quando vai passar um fim de semana (dois dias) fora. O problema é que, no momento, não tenho amigos para convidar. "C'est pas grave".

Sexta meia noite o Thibaut chegou de Paris e fui encontrá-lo na estação. Eu tava tão, mas tão, mas tão cansada, que cheguei na casa dele e apaguei. Sábado, com as energias renovadas, fomos para a casa de campo de um dos amigos que moram com ele. Fizemos churrasco mas, obviamente, nada que lembre o Brasil. Perguntei se eles faziam espetinho de queijo e eles acharam bizarro. Na verdade, o ritual foi o seguinte: comemos uns espetinhos, umas linguiças e em seguida bife com macarrão - quando me passaram o prato de macarrão achei super esquisito e falei que não queria. Depois, como vi que todo mundo ia comer, aceitei pra socializar. Tinha também uns molhos, mas eles não têm nem o cuidado de jogar um sal grosso na carne... Enfim, saudades gigantes da nossa farofinha, da picanha, do pão de alho e toda a diversidade e duração do churrasco brasileiro.

A gente também tinha comprado cerveja. Eles me deram uma garrafinha, quente, então perguntei porque a gente não colocava a cerveja na geladeira. Eles falaram que, na verdade, já tinham colocado, mas como ia demorar para gelar, eles bebiam "fresca"mesmo. Depois do churrasco, eles ficaram duas horas tentando encher um barco inflável para passear no rio (que era praticamente em frente à casa). Não conseguiram e saíram num barco menorzinho. Eu fiquei tirando fotos e rindo. Depois voltei para a casa e fui ajudar a irmã do Sylvain (cuja família é dona da casa) a fazer uma torta de limão.

De noite, de volta à Lyon, fomos num barco que é meio bar, meio boate. O mundo inteiro estava na borda do rio, sentada na grama bebendo vinho ou cerveja, ou dentro dos barcos-bares. Lyon inteira. Uma coisa impressionante. No dia seguinte fomos tomar café da manhã numa patisserie e depois fomos passear no Halles e compramos vinho para o almoço. De tarde passeamos de bicicleta na borda do Rhône até o Parc de la tête d'or. Chegando lá fomos passar a pé. Com as folhas nas árvores e os jardins floridos realmente dá para dizer o que o parque é lindo - e que o fim de semana não poderia ter sido melhor!

Hoje era para eu ter mudado de nível na escola, mas a professora do B2 não vai poder ir a semana inteira, então os horários iam ficar completamente malucos. Como eu não ia poder ir por causa do trabalho, continuo mais uma semana no B1. Respirando fundo eu supero mais uma semana assim - pelo menos agora os alunos dessa semana são gente boa. Tem um americano de 18 anos, o Sam, que sempre senta do meu lado e, não sei porque, me lembra meu meio-irmão Luiz Gustavo.

No outro fim de semana, sem ser o próximo, é a páscoa. Aqui a gente não trabalha na segunda-feira. Assim sendo, comprei uma passagem para Paris. Vou sexta à noite e só volto terça de manhã (vou faltar aula nesse dia, mas é por uma casa super nobre). O Thibaut ainda não arrumou apartamento, mas vamos ficar na casa da irmã dele.

Juro que volto a dar notícias em menos de uma semana! Beijos e à bientôt!

p.s.: ontem eu estava zapeando a TV francesa e me deparei com uma versão dublada (leia-se bizarra) de Caminho das Índias! Ri sozinha...

2 comentários:

  1. Acho que a sua escrita está começando a parecer meio francesa. coisas como "sair em viagem", hhihih

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  2. hahaha
    na verdade foi bem difícil escrever esse post, porque eu tinha tomado duas cervejas pra comemorar o aniversário da Lívia e tava com um chat no gtalk em francês e outro em português...
    fiquei uns 10 minutos pensando se a palavra "refletindo" existia..

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