segunda-feira, 4 de abril de 2011

Ce n'est pas facile

Paris me espera!

Primeiro dia de trabalho. Mais ou menos a mesma coisa de quinta-feira, mas com sol, o que significa mesas do lado de fora da brasserie (que fica numa praça) e mais números para decorar. A chefe ficou satisfeita com a calça preta que comprei e no fim do expediente disse que gosta muito de gente como eu, que se esforça para aprender e fazer tudo direito. O que ela me pagou por quinta foi um pouco abaixo do que eu esperava, mas é melhor do que não ter salário e, de qualquer forma, estou ganhando experiência - sem contar que a chefe é paciente e não se importa de ter que me ensinar tudo. Ela tirou cópia do meu passaporte para que eu seja uma trabalhadora legal na França, e isso também conta.

Na escola, uma penca de alunos novos. Semana passada eu quase tive um surto de falta de paciência porque ninguém além de mim conversava e todo mundo era muito lerdo, mas hoje foi bem diferente. Dessa vez temos três homens (um alemão, um colombiano e um meio-americano, meio-indiano), duas alemãs, uma mulher que não sei de onde é, mas que morou 10 anos na Nova Zelândia, uma colombiana, uma menina da Letônia que estuda em Barcelona e continuamos com a canadense, uma brasileira que não é a Juliana e a suiça de cara fechada. Mas semana que vem vou para o B2 (na escola temos os níveis A1, A2, B1, B2 e C1) e muda tudo de novo, inclusive a professora.

No fim de semana, nada de grandes passeios. Não mencionei antes, mas muita gente já sabe que o Thibaut está se mudando para Paris. Ele passou a semana passada inteira lá, na casa de um amigo, e agora está procurando um apartamento (assim que ele encontrar, irei conhecer a cidade luz). A mudança é por causa do trabalho e o trabalho dele é algo complexo de se explicar, mas é mais ou menos isso: as empresas francesas que querem entrar para a bolsa de valores da França têm que passar por auditorias constantes sobre suas finanças, que atestem que elas não cometem fraudes e está tudo ok. O Thibaut é uma das pessoas que fiscaliza as empresas e tem que descobrir se está tudo certo ou não. Trabalho de gente grande, mas ele tem apenas 23 anos e só faz 24 em outubro.

A sede da empresa fica em Paris, no quartier de la Défense, o centro financeiro da França, e tem tudo que uma pessoa precisa para o dia-a-dia: cabelereiro, costureiro, restaurante, sala de esportes, jardins, sala de obras de arte, agência de viagem, florista e etc, etc, etc. Apesar de tudo isso, ele prefere Lyon, pois, além de ter crescido aqui, ele não gosta da correria de cidade grande.

Questão de parâmetros. Na verdade, em número de habitantes Paris é menor que Belo Horizonte e tem um metrô maravilhoso que funciona até umas 3h da madrugada. Quando você conta para qualquer europeu que São Paulo tem 20 milhões de habitantes, eles quase caem para trás. Poucas são as cidades por aqui que têm mais de um milhão de habitantes. Por outro lado, qualquer lugarzinho com 150 mil habitantes na Europa têm muito mais opção de cultura e lazer que muita capital brasileira...

Distância é outro parâmetro que - bom, nem preciso comentar. Na cabeça de um europeu, se você viaja sete horas de ônibus você chega do outro lado do mundo. Logo, quando digo que Belo Horizonte é relativamente perto de São Paulo e do Rio, eles pensam: "umas duas horas de viagem?". De helicóptero, quem sabe...

Mas bom, eu ia contando do fim de semana. Saí sexta à noite para encontrar o Thibaut na estação e voltei ontem. Ele mora com mais três amigos. Quando chegamos, tinha um pessoal lá fazendo um esquenta para sair mais tarde. A gente preferiu ver um filme: "Diamante de sangue", aquele com o Leonardo DiCaprio, dublado em francês. Meio óbvio, mas eu nunca tinha percebido que os dubladores articulam melhor as palavras que os próprios atores. Muito mais fácil para um estrangeiro entender...

No dia seguinte, depois do almoço, eu tive uma crise de dor de estômago. Thibaut saiu para comprar remédio, mas as duas farmácias do shopping ao lado da casa dele estavam fechadas, então ele foi ao centro da cidade. Demorou tanto que quando ele voltou eu já estava ótima, sentada na sala vendo televisão com os amigos dele. Depois saímos para fazer compras e quando voltamos, novamente tinha um monte de gente fazendo um esquenta para sair mais tarde. Mas ele tinha que dormir cedo, pois domingo participaria de uma competição esportiva para correr 40 km. Fui à praça Terraux assistir à chegada e conheci os pais e uma das irmãs dele. As duas super simpáticas. Já o pai é sério e me tratou pour "vous". Em francês, "vous" é o plural de "tu", mas é também uma maneira mais formal e distanciada de se referir a alguém... Mais tarde preparei um estrogonofe e descobri que não existe batata palha na França.

Fim de semana que vem vamos percorrer toda a borda do Rhône de bicicleta. No outro, acho que vamos para Marseille. Meu grande objetivo de vida no momento é (tentar) dominar o condicional e o subjuntivo, esses dois grandes vilões da língua frances. Mentira. Tenho planos maiores, mas vou deixar para comentar depois...

Au revoir

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