Foi essa a trilha sonora que ouvi (na minha cabeça) hoje às 15h26, quando saí da Brasserie de L'Europe, na praça de mesmo nome. Eu consegui um emprego! Sim, um emprego. Tudo que eu tenho que fazer por enquanto é levar os pratos até as mesas, perguntar quem pediu salmão e quem pediu atum - ou quem pediu carne com legumes e quem pediu com batata frita - sorrir, desejar bom apetite, levar a cestinha de pão e, no fim do expediente, tirar e colocar os copos do lava-louças, secar e colocar tudo no lugar. De meio dia às três da tarde, de segunda a sexta. Não sei ainda quanto vou ganhar - mas o salário mínimo aqui é 9 euros por hora, então não será menos que isso.
Sim, eu sei, qualquer pessoa com dois braços e duas pernas e um mínimo de inteligência pode fazer isso... Mas acho que nem quando eu consegui um estágio em redação eu me senti tão vitoriosa. Porque quando eu consegui o estágio lá todo mundo me falava que sim, eu conseguiria (assim como quando eu passei no vestibular e etc, etc, etc). Só que hoje eu conquistei algo contra todos os prognósticos. "Oui, j'ai réussi!"
Bom, mas deixa eu explicar como eu cheguei até aqui. Segunda, voltando do office de imigração, um email me deixou muito feliz. Isso porque na semana anterior entrei num site de anúncios e saí mandando CV's a torto e a direito, e na segunda uma das pessoas me respondeu: entrevista terça a tarde. Vitória! Alguém viu que eu era estrangeira, estudante, sem experiência, ficaria só até agosto, e ainda assim me achou qualificada. Só que, quando desci do metrô, na terça, vi que eu tinha ido parar em uma parte da cidade não tão bonita. Em seguida, vi que o restaurante, na verdade, era um Kebab (uma rede de fast-food de origem árabe ainda mais low-cost que o McDô). Por fim vi que o dono era um turco e só queria uma garçonete atraente para conquistar os clientes. Ok, eu preciso de dinheiro, mas não de me humilhar...
Nada feito. Chegando em casa, entrei no mesmo site e vi um anúncio de uma brasserie (é o termo para designar algo que é meio bar, meio restaurante). Pus o endereço no google: voilà! 5 minutos a pé da escola, no "arrondissement" mais caro de Lyon. Mandei o CV por email, mas por via das dúvidas resolvi passar lá no outro dia de manhã, antes de ir para a aula. E não é que a Madame Tines foi com a minha cara? Teste marcado para sexta-feira. Meia hora hora depois ela me liga: "não, teste amanhã, quinta (hoje)".
Hoje às 11h30 em ponto eu estava lá. O lugar é enorme, tem várias mesas. O ambiente é super agradável e os pratos dão muita água na boca. Madame Tines se chama Chrystel, e seu marido, Philip, é o chef. Ele faz todos os pratos, mas é o ajudante que faz as pizzas e os sanduíches. As outras duas garçonetes são bem simpáticas e todo mundo parecia disposto a me ajudar. Passei três horas em pé. Andando para lá e para cá e, eventualmente, subindo uma pequena escada. Não errei o número de nenhuma mesa. Os clientes me entenderam quando falei o nome dos pratos. Não quebrei nenhum copo, nenhum taça, servi o café direito. Enfim, deu tudo certo. E no fim veio o veredicto: "você volta segunda, porque amanhã outra pessoa vem fazer o teste. Mas não se preocupe que a vaga já é sua. E segunda eu te pago pelas horas de hoje. Você vai vir almoçar aqui? Se você vier eu pago o seu almoço, mas você tem que chegar às 11h30. Ah, e arrume uma calça preta e venha de tênis, é mais prático. Você tem alguma dúvida?" Eu quis perguntar quanto ela ia pagar, mas em vez disso falei: "será que posso levar um cardápio pra estudar em casa? Tem algumas palavras que eu não sei o significado..."
Depois disso, a glória! Depois da glória, vi que eu estava com fome e muito, mas muito cansada. Fui à C&A comprar alguma calça de 15 euros, mas minhas pernas não aguentavam mais. Vim para casa. (É eu sei, eu agora vou emagrecer...)
p.s.: a parte ruim disso tudo é que vou ter que abandonar os ateliês da escola, que já estão pagos até agosto. Até 11h temos aula normal. De 11h15 à 12h45, é o tal do ateliê. Menos gente na sala, temas mais vagos, meio papo de boteco, meio corre-frouxo, mas está pago e eu quero fazer. Tentei negociar, pedi para fazer em outro horário, trocar para alguma aula particular, mas não tem negociação. Não sei se é porque eles são desorganizados, tem uma administração falha, ou se são apenas mercenários mesmo. Pelo aprendizado, realmente não faz diferença, mas se eles tivessem boa vontade tudo se resolveria (como é bom saber usar o condicional!). Nessas horas eu sinto muita falta do "jeitinho brasileiro", que muitas vezes atrapalha tudo, mas em algumas situações significa apenas uma maneira razoável e humana de resolver um problema.
p.s: o salário vai dar para pagar as contas, mas vou continuar tendo que regrar tudo. Logo, se aparecer algum bico de baby-sitting estou dentro. E também me inscrevi em um site para fazer traduções francês-português, inglês-português...
ê! Que orgulho!
ResponderExcluirMete bronca nesses pratos aí!