terça-feira, 17 de maio de 2011

Como eu sei? Eu só sei...


Eu estava com uma baita preguiça, mas fui escovar os dentes e vi essa lua indecente pela janela (sim, isto é a vista da minha janela). Sabe quando você se sente feliz simplesmente pelo fato de estar vivo? Uma felicidade besta, inocente, seguida de uma vontade de dizer: obrigada universo pela existência da Lua, obrigada Deus por essa janela, obrigada cada morador de Lyon por cada luz acesa...

Mas enfim, acho que eu estou devendo uma prestação de contas sobre o último fim de semana, não é mesmo? Hey ho, let's go. A semana passada foi bem do jeito que falei: escola, trabalho, estudo, sono, cansaço. Terça recebemos um grupo de quase 100 pessoas na Brasserie, além dos clientes de cada dia. Fiquei uma hora a mais no trabalho, cheguei em casa moída, fui estudar, (não) dormi tarde e quarta resolvi não ir à aula. Quinta fiz uma pausa no estudo para assistir a abertura do festival de Cannes ao vivo. Meia hora depois começou um show da Lady Gaga e Genevieve veio me perguntar apavorada quem era aquela mulher horrorosa e porque ela era famosa. Expliquei que era a Madonna da vez, mas ela continuou resmugando: "mas ela é muito feia...".

Sexta às 17h30 peguei o TGV rumo à Paris. Chegando lá peguei o metrô sozinha até o La Defense, onde o Thibaut trabalha e onde ficam as sedes de cerca de 30% das empresas europeias. Prédios gigantes, torres, círculos, formas geométricas ousadas, vidros espelhados... E eu ollhando para cima igual uma criança que chega à Disney. Jantamos e fomos para casa dormir, afinal, sábado às 6h da manhã acordarmos para pegar o metrô às 7h, porque a prova começava às 9h, mas eu precisava chegar às 8h30. Chegamos bem antes disso, numa tal de Maison des Examens, em português, "casa dos exames". Logo descobri que eu era a 86 de 89 inscritos, para 20 vagas.

A prova era uma "análise de dossier", ou seja, tínhamos umas 50 páginas para ler, entre artigos de jornais, revistas, publicidade, extratos de livros acadêmicos e etc. Em seguida devíamos responder duas perguntas sobre a importância da noção de "transparência" na relação entre governos/cidadãos, empresas/consumidores, com base no material que a gente tinha recebido. Não era difícil, mas eu levei duas horas (sem exagero) para ler tudo e não tive muito tempo para escrever e revisar. Consegui desenvolver uma resposta com começo, meio e fim, passei tudo a limpo, enfim, ficou bonitinho. O problema é que eu ainda cometo muito erro idiota de francês, com artigos, preposições e etc. Porque assim, na escola tem uns alunos que são ótimos de gramática, conhecem todas as regras, mas na hora de falar parece que não sabem nada. Já eu desato na falação, mas sempre faço tudo meio no chute, porque eu acho que é assim, porque eu ouvi alguém falando assim, porque assim me parece mais certo e não porque eu conheço as regras. E não adianta tentar mudar, esse é meio jeito de aprender uma língua... Mas não sei até que ponto os corretores vão levar em consideração o fato de eu ser estrangeira, porque eu fiz a prova junto com os franceses, então talvez eles vão corrigir tudo no mesmo balaio, sem olhar a origem de ninguém. Ou talvez não. Saberemos no dia 9 de junho, às 14h, horário de Paris.

Coincidência ou não, quando fui entregar meu texto a examinadora perguntou: "você é brasileira? Eu tenho uma filha brasileira, você vem de onde? Ah, eu conheço Belo Horizonte..." Talvez seja um bom sinal.

Depois da prova, que durou quatro horas, voltamos para casa e dormimos até o fim da tarde. Acordamos e fomos tomar cerveja na casa de um amigo e depois fomos ao Museu de Orsay, que nesse dia ficava aberto até meia noite (porque era a noite dos museus na França) e era de graça. Monet, Manet, Van Gogh... Eu tive vontade de ficar meia hora diante de cada quadro. Infelizmente, a única tela de Miró (meu ídolo-mor da arte moderna) que eles têm lá estava emprestada - mas um dia vou a Nova York só para ver o Carnaval do Arlequim de perto.

Domingo descobri uma loja de produtos brasileiros perto da casa da irmã do Thibaut (que é perto da Torre Eiffel) e atingi o Nirvana quando vi pão-de-quejo, farinha, guaraná antártica e sonho de valsa de verdade na minha frente. Curioso é que a cachaça 51 custa aqui 21,50 EUROS - parece que o imposto sobre o álcool é bem alto, mas, né? Thibaut adorou pão-de-queijo e acho que gostou também da farofa que eu fiz. Ontem fiz farofa para a Genevieve e ela me perguntou porque não existe isso aqui...

Em Paris o tempo estava feio, ventando e fazendo frio, então domingo só saímos de casa praticamente para ir ao cinema. Ontem achei que meu trem era às 6h24, mas era às 6h54 e cheguei uma hora atrasada na aula (a viagem dura duas horas, mas vim em casa deixar a mochila e tomar um banho). Tive que passar na direção para explicar porque eu estava atrasada, igual quando a gente tem 6 anos de idade... Hoje comecei de verdade uma dieta e saí para correr num parque aqui perto de casa. Amanhã pretendo andar de bicicleta. E agora que o exame passou pretendo também atualizar o blog pelo menos duas vezes por semana... Torçam para eu cumprir com a palavra...

À bientôt!

Um comentário:

  1. Olá Fernanda,

    Gosto de acompanhar alguns blogs de conhecidos estão na Europa e às vezes abro o seu. Fiz a semana da Folha com vc, não sei se se lembra.

    Queria te perguntar uma coisa. Você fez quanto tempo de francês antes de ir para Lyon?

    Boa sorte com o resultado dos exames!

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