Praça da Bastilha em Paris: era uma vez uma prisão
Em Lyon o evento principal é na beira do Saône e em Pais na Champs Elysées. Todo mundo empolga, sai na rua pra ver e diz que é lindo. Outros desfiles menores também acontecem, exceto quando o mundo resolve acabar em água como hoje.
Desde segunda-feira a cidade já está decorada para a data especial e hoje de manhã teria um pequeno desfile perto da escola, que foi cancelado por causa da chuva sem noção que cai desde ontem (pela primeira vez vi um bueiro transbordar nessa cidade - mas acho que nunca choverá a ponto de árvores caírem ou casas deslizarem). Quando saí da aula, vi uns 8 tanques de guerra enfileirados e soldados olhando pro céu meio sem esperança.
Como é feriado e eu não trabalho amanhã nem depois, resolvi ir à Paris, encontrar a Lívia, minha amiga de BH, que está de férias pela Europa. O irmão da Geneviève vai me alojar. Pena que o desfile na Champs Elysées começa de manhã e eu chego à tarde (o bilhete de trem era bem mais barato...). Espero pegar pelo menos os fogos de artifício. Depois postarei fotos, se a chuva deixar.
Mudando completamente de assunto, no último domingo fui para Genebra. Ida e volta por 30 euros, 2 horas de trem normal (sem sert TGV). Fui só para dizer que conheci a Suiça. Saí de casa com dor de garganta e estava chovendo, mas uma hora depois de chegar lá o sol saiu e eu até peguei uma cor. Segundo uma amiga minha, meus parâmetros estão muito elevados, mas não achei a cidade tão bonita assim. Lá tem um lago, vários bancos, 892 relojoarias (aliás, acho que são bem umas 1.347), um jato de água gigante dentro do lago e lojas de chocolate que fecham no domingo.
Descobri que na Suiça ainda se usa o franco suíço e não o euro (e se você pagar o chocolate em euro eles te dão o troco em moedas de franco), que tudo lá é caro, inclusive o Mcdô (quase o dobro do preço na França), que em Genebra não tem metrô e que os suíços são realmente lerdos como dizem os franceses - todo lugar tem fila, mas não porque tem muita gente como em Paris, mas porque os atendentes são todos retardados. Na ida e na volta passei pela Duana, mas não tinha ninguém querendo ver meu passporte...
Chegando lá peguei um mapa e fui andando por um lado do lago, debaixo do sol. Mais tarde, eu queria ir para o outro lado do lago, ver o prédio da ONU, mas não tinha mais forças, então fui tentar achar algum lugar menos caro para tomar algo e refrescar, mas esse lugar não existiu, logo fiquei andando meio sem rumo, esperando o tempo passar. Antes disso, eu estava andando tranquila pela beira do lago quando um velho português completamente avulso veio me perguntar se eu era brasileira e se eu queria tomar alguma coisa. Saí de perto, ele veio atrás, falei que tinha namorado, e ele foi embora. Sempre atraio uns tipos assim. Uma vez em Paris, indo à padaria às 10h da manhã, um louco avulso veio falar que eu era muito bonita e que a gente poderia tomar um café... 10h da manhã! Mas tirando isso, passei um dia inteiro sozinha e com o celular descarregado (mas ninguém ia me ligar mesmo...).
Ontem a Geneviève chegou com um pacote de Camarão pro jantar. Perguntei se eu poderia prepará-los e comecei a fazer um molho para estrogonofe. Então abri o pacote e vi que os bichinhos ainda estavam com rabo e cabeça e comecei a limpá-los. Fui chamar a Geneviève para me ajudar no processo e ela me disse que a gente comeria daquele jeito mesmo - tirando a cabeça e o rabo no próprio prato e passando na maionese. Ela insistiu que eles já estavam cozidos e então tentei explicar para ela pela décima vez que o conceito de "cozido" de um francês é bem diferente do nosso. Deixei metade dos camarões encabeçados para ela e fiz o estrogonofe com a outra metade. Ela perguntou se poderia experimentar, falei que sim, mas que já era pelo menos a quinta vez que eu fazia estrogonofe de camarão e que ela experimentava. Enfim, de vez em quando o jantar dela é um pedaço de presunto, ou uma coxa de frango. Elaborei uma teoria de que francês come carne crua porque não tem paciência de esperar cozinhar, pois as refeições deles já são demasiadamente longas com entrada, prato, queijo e sobremesa...
Por fim, ela veio comentar da situação na Itália e da crise europeia, acrescentando que ela só ouve falar que o Brasil e a Índia estão crescendo e desenvolvendo, enquanto a França só afunda. Tentei explicar mais uma vez que uma Europa em crise ainda tá valendo muito mais que um Brasil desenvolvido e que não adianta nada ser forte no cenário internacional quando não se tem tem escola gratuita de qualidade, meio de transporte decente, etc. Enfim, que os franceses reclamam de barriga cheia, pois eles não sabem o que é desigualdade social (eles insistem que isso existe por aqui, mas eu nunca vi criança pedindo dinheiro no sinal, por exemplo), não sabem o que é violência, tem um salário mínimo de mil euros, compram um carro zero por 8 mil euros, andam de metrô, ônibus, ônibus elétrico e trem por 50 euros mensais (ou 1,60 por bilhete que vale para todos esses meios por um hora, na mais cara das hipóteses) e comem um menu BigMac por 5,5. Pode até ser que um dia a França vire o caos e a miséria e o Brasil exemplo de desenvolvimento, mas até lá já vai ter alguém me chamando de vó.
É fato que as coisas estão melhorando para nós, mas até a Copa do Mundo ainda não teremos um metrô decente em BH, por exemplo. E claro que temos várias qualidades que eles não têm e que aqui eu também vejo mil coisas para botar defeito, mas fico irritada com essa história de "crise europeia". Ela existe, é fato, mas podem acreditar que as coisas desse lado de cá do oceano ainda estão longe de um cenário de catástrofe.
Mas enfim, volto a dar notícias na volta de Paris. À bientôt.
p.s.: continuo sem amigos, sem namorado e contando os dias para viajar, então estou tentando ocupar minha cabeça assistindo entrevistas na televisão sobre a situação econômica da Europa, reality shows de culinária e estudando a história da França.
Nenhum comentário:
Postar um comentário