quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011
Match Nul
Adoro as quartas-feiras, porque as crianças não têm escola - não me perguntem porque - e o ônibus fica bem mais vazio e o trânsito flui. Normalmente o ônibus fica cheio, mas não é como no Brasil que você fica esprimido entre a roleta e mais cinco pessoas atrás de você - mesmo porque não tem roleta nem trocador -, é um cheio que ainda dá para ter algum conforto. E no metrô as pessoas sempre esperam as outras sair para entrar.
Mas bom, eu ainda não contei do domingo, então vamos lá. Thomas, Fabrice e Damien iam almoçar lá em casa, por isso acordei mais ou menos cedo e fui direto pra cozinha. Genevieve já tinha feito uma torta de maçãs e foi para a missa, então eu realmente não tive ajuda de ninguém. Eu queria fazer uma quenga - para quem não é do Norte de Minas, é um frango engrossado com fubá, que geralmente a gente come com angu. O grande problema é que aqui não tem fubá, assim como não tem farinha de mandioca e várias outras coisas. Então pedi para a Genevieve comprar milho e engossei o caldo com maizena - sim, maizena existe aqui e é simplesmente maizená. No fim virou alguma receita que eu mesma inventei, mas meus convidados gostaram e repetiram e, como eles não conhecem a cozinha brasileira, não fez muita diferença não ser uma quenga legítima.
Depois do almoço eles iam passear no Parc de la tête d'or e me chamaram para ir com eles. Estava chovendo e estamos no inverno, então nem achei o parque bonito, mas vou voltar no verão e então dou o veredicto. O parque tem zoológico, com zebra, girafa, leão, veados tipo o bambi, cisnes e patos franceses, que tem a cabeça verde. Mas o que o pessoal daqui gosta mesmo são dos macacos. Eles acham incrível o tanto que eles parecem com os humanos e ficam realmente encantados. Eu fiquei mais entusiasmada com os bambis e expliquei para eles que já vi muito macaco na vida.
A presença do Damien nesse dia melhorou muito minha vida, porque ele entende inglês muito bem, então ficou bem mais fácil perguntar como se diz algumas palavras em francês. Eu disse que ele entende bem francês porque, realmente, francês falando inglês é uma tragédia. Eles não sabem fazer o R. Até agora não conheci um que fala direito. Só que nesse dia eu descobri que eles também não sabem falar espanhol. O Damien queria falar 'jirafa', mas não conseguia fazer o R do Ji e em sequência o R do Ra. O Fabrice ficou rindo, então falei pra ele tentar e ele também não conseguia. Daí fiquei feliz porque nós, brasileiros, conseguimos pronunciar o R do francês, do inglês e do espanhol, além do nosso próprio.
Depois do parque caminhamos um pouco na beira do Rhône e o Damien ia embora para Nancy e o Thomas para a cidade dele que é perto de Toulouse. O Fabrice, que foi o único que restou em Lyon, foi também o único que nem me deu muita ideia, então voltei à estaca zero e continuo sem amigos.
Na segunda eu decidi começar minha procura por emprego e foi bem frustrante quando fui perguntar na administração da escola se eles sabiam de alguma vaga e a mulher me falou que não, e que ia ser bem difícil arrumar emprego aqui, porque Lyon não é uma cidade aberta como Londres ou sei lá o que. A verdade é que ninguém na escola trabalha. A maioria vai ficar no máximo 3 meses e quem vai ficar mais tem família rica e não precisa se preocupar com isso. Nesse dia eu saí andando pela cidade, pra ver os bares e cafés e também para pensar um pouco no que fazer. Cheguei em casa bem triste, com muita saudade do Brasil, me sentindo só, pensando que não foi uma boa ideia vir sem emprego e mais mil coisas do tipo.
A Genevieve chegou e viu que eu estava abatida, então ligou para a sobrinha dela que tem TV a cabo e perguntou se a gente podia assistir o Real Madri e Lyon lá. Depois disso sentei com ela no quarto e, enquanto ela assistiu um filme, eu dei um jeito nas minhas unhas.
Ontem eu continuei triste, principalmente porque voltou a fazer frio e o tempo tava bem fechado - e tempo feio sempre contribuiu pra me deixar triste. Depois da aula voltei pra casa bem rápido, para ir com a Genevieve no lugar onde pede auxílio moradia. Fomos lá e descobrimos que faz tudo pela internet e que precisa de uma conta no banco, então vou abrir uma hoje. Voltei para casa de novo e tava com um sono sem explicação. Mas não dormi, fui olhar preço de computador e descobri que aqui não se divide nada no cartão de crédito, só no cheque - olha que atraso de vida. Depois entrei no site do MC Donald's francês e preenchi um cadastro para pleitear vaga de emprego.
A noite fomos assistir o jogo numa outra colina - a cidade tem duas e eu moro em uma delas - que chama Croix Russe, onde mora a sobrinha da Genevieve com o marido e três filhos, uma menina de 9, um menino de 11 e uma bebe de 6 meses. A familia era muito simpática e o menino e a menina estavam vestidos com camisas da seleção brasileira. O marido dela conhece o Brasil e já ouviu falar de BH e disse que o Cruzeiro é um time importante - e ele sabia inclusive que tinha sido o primeiro time do Ronaldo fenômeno. A partida foi bem mais ou menos, acabou em 1X1 e eu fiquei feliz de não ter pagado 40 euros para ir ao estádio, porque além de tudo ontem a noite fez muito frio e choveu.
Ontem eu vi que realmente é comum aqui as casas não terem lâmpada no teto - apenas abajours espalhados por todos os cantos - e não ter lixeira no toalete - não sei se já expliquei, mas aqui a 'sala de banho' é separada do lugar onde tem a privada, que é o toalete. Como sempre, tomei vinho e comi queijo, tudo muito gostoso. A menina de 9 anos gostou muito de mim e me fez um desenho, por isso se nada der certo eu vou fazer 'garde d'enfants', que é tipo au pair, mas só algumas horas por dia, sem morar com as crianças.
Hoje vou assistir um espetáculo de dança com a outra brasileira e talvez duas alemãs. Para menores de 26 anos, o ingresso custa 8 euros - é muito bom ser jovem e estudante aqui.
Na aula essa semana não chegou ninguém novo. Somos duas brasileiras, duas holandesas - uma delas só terça e quinta, porque ela é au pair -, uma alemã, uma russa e uma colombiana. É legal quando tem menos gente na sala, porque ai a gente pode ficar falando de como são as coisas em cada país. Como hoje, por exemplo, que o tema da aula era humor, eu descobri que francês e holandeses riem dos belgas, como a gente ri dos portugueses, e alemães riem dos suíços.
Por enquanto é só, não se preocupem porque hoje voltei a ficar otimista. Vou a um resturante brasileiro pedir umas dicas de como procurar emprego e até mesmo ver se eles não precisam de alguém para trabalhar lá. No fim de semana vou para a casa de campanha da irmã de Genevieve, comemorar o aniversário da Delphine, que eu conheci ontem por causa do jogo. Fica a 1h30 de carro daqui e pertinho da Suiça.
Beijos e à bientôt.
P.s.: a segunda leva de postais será enviada no máximo amanhã.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Cruzeirooooo! hehehehe
ResponderExcluirCadê você?
ResponderExcluir