O que eu mais gosto dessa foto é o momento em que ela foi tirada
O segundo passo foi procurar um curso que me interessasse. Peguei uma lista no site campus france dos melhores institutos de comunicação da França e descobri o Celsa, que é uma grande école diretamente ligada à Sorbonne (apesar de o campus não ficar no centro de Paris, ao lado do Panthéon). Melhor ainda, descobri que eles oferecem um mestrado profissional em "Communication politique et des institutions publiques"e que era exatamente o que eu gostaria de fazer como mestrado. Como no Brasil a graduação dura 4 anos e aqui a Licence (que é mais ou menos o que corresponde) dura apenas 3, eu já entraria no segundo ano de mestrado, o master 2 e faria apenas um ano de curso.
O grande problema era que para me inscrever, eu precisaria enviar junto com o dossier um certificado atestando um bom nível de francês, como o Delf, um exame oficial da língua. Para o nível que eu preciso, o B2, a próxima prova é apenas em junho, e as inscrições para o master terminam amanhã, 2 de maio. Olhei a data do exame em todas as cidades da França, olhei todos os outros exames possíveis, mas não, eu não teria tempo de fazer a prova antes do concurso da Sorbonne. Foi então que o Thibaut ligou na universidade e eles falaram que não necessariamente eu precisaria apresentar o certificado antes da prova. Alívio! Pedi à Lyon Belu um atestado de que estou fazendo o curso de francês e já estou no nível necessário para o master, e espeficiquei no dossier que eu ainda farei o Delf. Além disso, tive que enviar meu currículo detalhado em francês cópia do diploma e histórico escolar, duas fotos 3x4, dois envelopes com selo e o número da pré-inscrição feita pela internet (se não me engano foi só isso). Terça coloquei tudo isso no correio e nessa semana ou na próxima devo receber as instruções (mas já sei que a prova é no sábado, 14, de 9h às 13h).
A prova tem duas questões (que devem ser respondidas de acordo com alguns extratos de textos e notícias que eles fornecem). Eles indicam uma bibliografia, mas frisam que o mais importante é analisar a capacidade de articulação e expressão do candidato, o interesse pelo assunto, o nível de informação sobre o cotidiano, e blá blá blá. Eu só comecei a estudar de verdade (a bibliografia), hoje. Então só tenho mais duas semanas para continuar. Ou seja: estou em pânico.
Por outro eu não tive dificuldade alguma de compreensão para ler (textos acadêmicos) em francês e percebi que já estudei tudo isso durante a graduação, então na verdade só preciso fazer uma revisão e treinar a escrita (colocar todos os acentos, prestar atenção nas concordâncias). Depois da prova escrita, lá pelo mês de junho, tem uma entrevista oral. Dia 8 de julho sai o resultado final e, dando tudo certo, o curso começa em setembro.
Outra coisa que eu não sabia e que o Thibaut me falou hoje é que, tendo um master 2, depois eu posso continuar na França e trabalhar na área, afinal, se eles vão investir na sua educação, depois vão querer que você dê algum retorno - não faz sentido eles te deixarem estudar aqui para depois você ir embora, eles querem "guardar os talentos".
Dito tudo isto, explicarei porque estou em pânico. Nos últimos dois meses eu percebi que, apesar de toda a saudade, dificuldade com a língua, falta de amigos, de dinheiro, etc, etc, etc, eu me sinto muito muito feliz aqui e não quero ir embora. Eu amo o Brasil e até brigo com quem desdenha dele em favor da Europa. A questão é que no Brasil eu estava meio perdida na vida, sem saber direito o que eu queria, sem grande motivação e agora eu sei que quero fazer esse mestrado e quero continuar mais um tempo do lado de cá do oceano.
Aqui eu percebo que cada coisa pequena é uma grande vitória. Conseguir um emprego de garçonete, arrumar bicos como baby-sitter, juntar dinheiro para viajar nos fins de semana, saber acentuar todas as palavras, pronunciar direito todos os tipos de E da língua francesa, superar a saudade, chorar de emoção com um email de duas linhas que diz simplesmente "estou morrendo de saudade", chorar mais ainda com alguns poucos cartões de aniversário que chegaram pelo correio, abrir uma conta no banco, conseguir um auxílio moradia de 75 euros por mês, conseguir resolver um problema por telefone, assistir um filme inteiro sem legendas e entender tudo... Tudo isso podia ser tão simples, mas na verdade é tão difícil...
E nessas coisinhas de cada dia eu vou descobrindo tudo o que sou capaz, como eu consigo me virar sozinha, como tem tanta gente que torce por mim (ainda que em silêncio). Também percebo como do lado de cá todo mundo me acha tão simpática e gentil, como ninguém consegue imaginar que aos 7 anos de idade eu brigava com todo mundo na escola e aos 14 eu praticamente não tinha amigos. Porque aqui eu preciso ser simpática e gentil, porque eu sei o tanto de sorte que eu tenho na vida e não tenho o direito de reclamar de nada. Porque também eu tenho pessoas como Genevieve e Thibaut ao meu lado, que me mostram que nacionalidade é apenas o lugar onde você nasceu, que a gente pode ter muito mais em comum com alguém que nasceu a 9 mil km de distância do que com quem a gente conhece desde pequeno, que tem realmente muita coisa que a gente não precisa de um idioma para entender.
E voltar para o Brasil agora significaria interromper todo esse processo de descoberta que vem me tornando uma pessoa muito melhor, mais agradecida e mais feliz. Mais cedo eu falava com minha mãe no skype que tudo que trouxe cabe em duas malas (uma grande e uma média) e o que eu deixei no Brasil (os objetos) não me fazem nenhuma falta. Eu posso ser feliz com um colchão duro num quarto de carpete velho, com um armário sem gavetas e com pouquíssimo espaço para cabide, ou num apartamento de 30m² em Paris. Eu posso ser muito feliz voltando ao Brasil, mas por enquanto eu quero ficar mais um pouco...
Fernanda, também tento o mestrado em Paris, fazendo o meu processo por SP. Mas como já morei fora uma vez, te digo que as experiências que você está passando agora são para dar uma nova dimensão de mundo e desejos no seu futuro. Persista! Vale a pena!
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